por Roquen em 10 Set 2007, 23:14
Olha, se tu permites dizer isso, acho que tu estás cometendo um erro básico.
Não vale dizer que "em DnD os deuses realmente existem, enquanto que no mundo real não." Quem disse que eles não existem no mundo real? Calma, deixa eu terminar o meu raciocínio. Para o crente, deus de fato existe, é algo real, ainda que não se manifeste fisicamente no mundo real. Sua existência pode ser "comprovada" em pequenas coisas, pequenas graças, etc. Agora fica a dúvida: e qnto aos outros deuses? E qnto às outras religiões? Ai vai de cada crente: alguns negam a existência dos demais, outros acreditam numa "má interpretação" do seu deus pelos outros crentes, outros ainda apenas ignoram os demais crentes, não tocando no assunto religião. E isso num mundo (ocidental) que é praticamente todo monoteísta.
Imagino que num cenário de DnD onde os deuses são, de fato, reais, as coisas seriam muito semelhantes ao que já ocorre no nosso mundo. Veja bem, será que todos os seres que habitam aquele mundo já viram um deus andando por aí? Provavelmente não. Provavelmente eles sabem que os deuses existem porque um de seus sacerdotes usou um poder de cura e atribuiu o fato à um determinado deus. Ou seja, para a maior parte da população, a fonte da crença continua sendo a mesma: os pequenos milagres.
Já para o caso das ordens religiosas, a coisa fica mais complicada. Partindo do pressuposto que um clérigo está certo sobre a existência de um determiando deus ao observar um clérigo desse deus executando uma magia, podemos supor somente que a religião deste clérigo criará alguma justificativa plausível para a existência de outros deuses. Estes outros deuses serão colocados ou como aspectos dos deuses adorados pelo clérigo em questão, ou ainda serão colocados como "invasores inmigos", ou ainda como outros deuses, que também foram responsáveis pela criação do mundo. Ou seja, vai existir, a partir de algum momento, uma "adequação" da crença de um grupo sobre a existência dos deuses dos demais grupos.
Mas e porque seguir um grupo e não os demais? Herança cultural é a minha primeira aposta e, com isso, o penamento de "nós somos melhores" ou "estamos certos" ou etc. Lógico que em organizações "bondosas", onde a crença é mais receptiva (no caso dos panteões irmãos ou ainda na interpretação diversa dos deuses próprios), é mais provável que os clérigos sejam menos agressivos uns aos outros, ou seja, existe um sentimento de aceitação dos demais clérigos.
O clérigo, em si, é visto apenas como um "arauto" de deus, alguém que concede milagres, da mesma forma que o padre da religião católica ainda é considerado como o único que pode transformar o pão e o vinho na carne e no sangue de cristo, além de perdoas os pecados de um pecador, em nome de deus! Ou seja, os deuses preferem certas pessoas e estas pessoas concedem, em nome de deus, suas dádivas.
Para concluir: a grande diferença entre o mundo real e os cenários de RPG é que, nos cenários, um clérigo pode provar ao outro que, "sim! o meu deus existe e ele me concedeu esse poder!", mas isso apenas forçará uma situação de aceitação/rejeição por parte dos demais clérigos, de forma que a existência daquele deus será incluída na crença.
É assim que eu vejo a religião dentro dos jogos de RPG.
EDIT
Dei uma lidinha nesse último texto e concordo com ele: o compotamento dos clérigos será, certamente, regrado pelo comportamento (atribuido) ao deus, e portanto eles podem ser mais ou menos bem quistos nos cenários.
There's a hole in the world like a great black pit,
And the vermin of the world inhabit it,
And its morals aren't worth what a pig could spit,
And it goes by the name of London.
Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street