Então é melhor voltar para a escola, porque houve alguma falha na sua alfabetização.
Mas primeiro, não leia mal o que vou dizer, não estou quebrando o pau e nem querendo ofender. É só um desabafo/explicação do que estou pensando, não se sinta ofendido ou agredido em nenhum momento!
Sem ler o que o Youkai e o Lumine disseram, é basicamente o seguinte: simplesmente não dá para querer colocar tanto nível de detalhe assim em um cenário de fantasia, isso falando em todos os sentidos. Não vale a pena.
É muito fácil simplesmente ler UM livro sobre "mitologia" e cagar regra (como eu falei, Campbell ou qualquer outro autor não podem ser a ÚNICA leitura se você quer levar QUALQUER assunto a sério), é muito fácil conhecer só português e inglês e querer "coerência linguística", é muito fácil não ler NADA de antropologia ou sociologia e querer que um cenário seja antropologicamente coerente.
Só que tem gente que quer só jogar RPG. Jogar um joguinho, sabe, com os amigos? Pedir uma pizza, abrir uma Coca, dar risada e depois voltar pra família, trabalho, namorada/esposa, contas a pagar, etc. Mesmo nós, como autores do cenário, queremos é jogar logo essa merda.
E criar línguas "coerentes" dá trabalho. Organizar troncos linguísticos de acordo com migração, história, dominação política e evolução dá trabalho. Criar um sistema morfológica, sintática, fonológica e foneticamente coerente (considerando história, evolução, influências, empréstimos e assim por diante) dá um trabalho desgraçado. E é um trabalho que não vale a pena ter, nem na criação e nem jogando.
Para jogar um jogo, você não deveria ter que aprender pronúncias esdrúxulas, por exemplo. O Youkai criou uns exemplos primorosos no começo de TSagr, mas eles pecavam exatamente por isso: não dava para pronunciar. Não dava para LEMBRAR. Aí o pessoal chiou, com razão, porque RPG não deveria ser um exercício simulacionista e nem masturbação intelectual. Tinha que ser um jogo.
Daí o aspecto "joguista" que o Lumine defende. Não precisa ser aquela postura de "cenário de campanha é aquilo que existe entre uma dungeon e outra", mas também não precisa ser uma viagem pelas maravilhas da perda de tempo.
Se você começa a exigir muita coerência científica, histórica, sociológica, linguística, botânica, religiosa, culinária e o caramba, o cenário começa a se tornar uma recriação chata do nosso planeta, e exigiria que a equipe de criação fosse composta de estudiosos em diversas áreas para que essa tal coerência fosse alcançada. Eu acabei de me formar em Letras, tal, ótimo, muito bom, mas não tenho pistolão para cagar regra linguística. Eu me satisfaço em ter línguas diversas, extinguir o "Comum" (onde eu e você concordamos), organizar mais ou menos em troncos linguísticos para fazer algum sentido, dizer "raças não-humanas produzem sons difíceis de reproduzir, então humanos falando essas línguas têm um sotaque indisfarçável", me esforçar para que os jogadores possam DIZER e LEMBRAR os nomes... e já é muito.
Da mesma forma, li meia-dúzia de livros sobre mitologia, outros sobre contos maravilhosos e me satisfaço de ter as culturas do cenário com religiões sincréticas, organizadinhas, verossímeis, etc. Acesso a Wikipedia e fico feliz de ter umas zonas climáticas "marromeno", vegetação mais ou menos coerente, etc.
Seu problema (parece) é achar que é 8 ou 80. Não é por causa do que citei agora que o jogo é só "HERP DERP DUNGEON CRAWL", e nem deve ser. Um meio-termo é saudável, e Tekumel (quem Tekumel?) parece um exagero do outro lado. Você mesmo já citou exemplos bacanas, como Eberron ou Kingdoms of Kalamar. Pô, eu COMPREI o atlas de Kalamar, e tem mapa de corrente marítima e criação de caprinos.
CRIAÇÃO DE CAPRINOS.
Silva, coloca seu gosto pelo coerente de lado e me responde: que mesa do mundo vai realmente usar um mapa do CONTINENTE com os lugares onde se criam caprinos, bovinos e o escambau?
TSagr tem que ser um meio-termo. Não dá para ser "religião como depositório de poderes" e nem "teologia sociológica fantástica avançada para entendidos". Perdi o fio da meada em algum lugar, mas é isso.