A sedução do Lado Negro da Força

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A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 16 Jan 2011, 10:46

Vamos lá, minha campanha atual, no meu mundo de Anima, se passa cerca de 400 anos após a campanha original. Na campanha original, havia um vilão, "Shemhaza", que era o irmão corrompido de um dos personagens jogadores. Eles descobriram que "Shemhaza" é um título do campeão do povo Banu'lifênio, um povo bárbaro e violento que descende do deus caído do cenário, Khem. Ao longo das eras, houve vários Shemhaza, todos herois corrompidos pela própria raiva, que acreditavam estar fazendo o que é certo.

Na campanha atual, um dos personagens (do mesmo jogador cujo personagem original era irmão de Shemhaza) é um espadachim em busca de vingança. Seus propósitos são nobres, mas ele vive tomado pela raiva. Desta vez contudo, os vilões são também inimigos dos Banu'lifênios, e os Banu'lifênios vão se tornar aliados do grupo dos personagens.

Em suma: com a reintrodução dos Banu'lifênios na história, em particular de um sacerdote carismático e meticuloso que vai acompanhar o grupo, eu quero transformar esse personagem no novo Shemhaza, e quero fazê-lo sem que o jogador (ou o resto dos jogadores) perceba, progredindo essa trama lentamente até ser tarde demais para voltar atrás.

Minha maior preocupação é que, embora o jogador se esforce em interpretar o personagem, ele em geral tem uma mentalidade muito "gamista" de querer "ganhar o jogo". Nisso, o personagem às vezes age inconsistente, estragando planos que tenho pra ele. Por exemplo, ele não sabia lidar com mulheres, e por isso inclui uma DMPC que se apaixonou por ele (e que outro personagem-jogador se apaixonou por ela) para criar uma situação de humor, mas o personagem de repente mudou de tímido e inseguro para tentar formar um romance, e isso estragou o humor.

Da mesma forma, ele tem muita raiva de outro personagem, um lutador de teatros de ação da nação de Zhong que só pensa em ganhar fama e se acha um grande heroi. O espadachim o vê como um oportunista que não liga para as pessoas e rouba as glórias do grupo para si, e por isso vive entrando em atrito com ele. Contudo, no último jogo, após uma sequência de sessões tensas entre os dois, o espadachim simplesmente combateu ao lado do lutador sem pestanejar, sem reclamar, e aceitando se subordinar a ele, o que ficou completamente inconsistente.

Por isso, temo que, quando perceber que está indo para o lado negro da força, o jogador force uma redenção súbita do personagem. Preciso evitar isso a todo custo, e vou começar conversando com o jogador sobre as mudanças súbitas de atitude dele nas últimas seções.

Alguém aí já tentou levar um personagem para o lado negro da força? Alguém já teve sucesso? Têm alguma dica para mim? E como lidar com a atitude inconsistente do jogador?
Há incontáveis séculos, houve um reino, Eussey-lah seu nome, que se estendeu por todas as terras do mundo conhecido. Esse tempo acabou quando o rei-destino, Khem, enlouqueceu e quase levou o mundo à ruína. Sete heróis e um oráculo o impediram.

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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Darin em 16 Jan 2011, 11:03

Dê alguma informação secreta a esse jogador que, caso ele revele ao resto do grupo, irá comprometê-lo ou seja, ele vai guardar o segredo.

Daí tente criar um efeito bola de neve. Devido a esse segredo (que pode até ter sido uma atitude errada que ele fez e não pode revelar), crie outras situações que secretamente ele deve lidar contra o grupo, até que isso se torne insustentável e ele se torne um vilão.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 16 Jan 2011, 12:42

É uma boa ideia, Darin. Vou pensar em algo, embora criar um segredo para ele seja algo inevitável, visto que o sacerdote Banu'lifênio vai empurrá-lo cada vez mais a fazer coisas sem o conhecimento do grupo.

Outras informações importantes:

- Devido ao quase-romance dele com a dançarina (minha DMPC), e ao triângulo amoroso dos dois com o trapaceiro do grupo (outro personagem de jogador), isso o coloca em conflito com esses dois personagens;

- Devido à intolerância dele com o lutador de teatros de ação, e o fato de que o resto do grupo gosta e até participa dos shows do lutador, isso o deixa um tanto isolado do grupo.

Quero usar tudo isso para torná-lo cada vez mais próximo do sacerdote Banu'lifênio, que vai lentamente forjar o novo "Shemhaza"...
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor KhanNoonienSingh em 16 Jan 2011, 12:43

Será a atitude inconsistente dele fruto de puro gamismo, ou também fruto de não aceitar bem a história que você criou pra ele sem consultá-lo?

Alguns jogadores não aceitam bem (e com razão, na minha opinião) serem meros "desvendadores" da história que já está criada pelo mestre.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 16 Jan 2011, 12:51

KhanNoonienSingh escreveu:Será a atitude inconsistente dele fruto de puro gamismo, ou também fruto de não aceitar bem a história que você criou pra ele sem consultá-lo?

Alguns jogadores não aceitam bem (e com razão, na minha opinião) serem meros "desvendadores" da história que já está criada pelo mestre.

Nada disso, KhanNooniensingh (seu nick parece um nome Banu'lifênio...).

Primeiro, quem criou a história do personagem foi ele. Ele quem fez o órfão escravizado que escapa sem memórias do passado e é treinado pelo mestre "oriental". Ele quem o encheu de raiva. Ele quem o fez incapaz de lidar com mulheres. Ele quem decidiu ter raiva do lutador de teatros de ação. Foram as atitudes dele que o isolaram do resto do grupo.

Essa história de transformá-lo em Shemhaza não foi algo planejado no começo da campanha. Pelo contrário, a ideia só me surgiu na cabeça antes da última seção, quando eu pretendia introduzir o Shemhaza da nova geração, e aí percebi que o personagem dele seria perfeito para isso.

Aliás, é meu meio de mestrar. Eu crio uma história, e conforme vou conhecendo os personagens, eu amplio a história para explorá-los. O mago que quer se tornar um oráculo ainda terá sua provação, e o mesmo vale para o lutador de teatros de ação, quer precisa descobrir o que realmente é ser um heroi. O trapaceiro do grupo ainda vai ter suas surpresas também.

O que quero fazer se encaixa perfeitamente no background do próprio personagem, inclusive nas atitudes que o jogador planejou para ele. O que me preocupa é essa inconsistência na interpretação dele.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor KhanNoonienSingh em 16 Jan 2011, 13:16

Ele criou o passado dele, a partir desse passado, vc montou algo que vc escolheu pra ele.

Essa história de transformá-lo em Shemhaza não foi algo planejado no começo da campanha. Pelo contrário, a ideia só me surgiu na cabeça antes da última seção, quando eu pretendia introduzir o Shemhaza da nova geração, e aí percebi que o personagem dele seria perfeito para isso.


A parte em negrito mostra o que quero dizer com dar um rumo pra história do jogador sem consultá-lo. Ou você expôs seu plano e perguntou se ele ia querer?

Alguns jogadores criam o background pra ficar lá IN THE BACK mesmo, pra ser só um "como eu cheguei aqui" ou "por isso minha ficha é assim"

Isso que você criou se encaixa, e outras coisas também se encaixariam. Essa que você escolheu pode não agradar a ele, ele pode simplesmente, por mais justificável que seja o rumo, não querer esse rumo na história do personagem dele.

Isso é diferente de "matei um npc importante porque quis e NAO QUERO ser preso"...isso é ilusionismo, pois todas as escolhas dele serão falsas escolhas, porque ele precisa "cair para o lado negro"...e é isso que vai acontecer.

CONVENHAMOS esse background aí é praticamente o padrão do "mestre, só quero ficar forte e matar monstros e tirar onda sobre como sou forte e mato monstros"

Minha maior preocupação é que, embora o jogador se esforce em interpretar o personagem, ele em geral tem uma mentalidade muito "gamista" de querer "ganhar o jogo". Nisso, o personagem às vezes age inconsistente, estragando planos que tenho pra ele.


Os mestres têm que começar a se preocupar com os planos que os jogadores têm pros seus personagens, e conversar um meio termo entre ambos.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 16 Jan 2011, 13:28

KhanNoonienSingh escreveu:A parte em negrito mostra o que quero dizer com dar um rumo pra história do jogador sem consultá-lo. Ou você expôs seu plano e perguntou se ele ia querer?


Expor o plano iria estragar o plano, então não. Eu sei o que o jogador quer (é um dos requisitos do jogo ao fazer o personagem criar um sonho, ética e vícios), e o plano não é sacanear ninguém, mas sim explorar as facetas que o jogador deu ao personagem. Nada disso impede que o sonho do personagem seja alcançado, é tudo apenas mais um desafio. Um jogo não tem que se limitar a salvar princesas e limpar dungeons.

Alguns jogadores criam o background pra ficar lá IN THE BACK mesmo, pra ser só um "como eu cheguei aqui" ou "por isso minha ficha é assim"


Se você está jogando comigo mestrando, o background nunca fica "só lá in the back mesmo", e meus jogadores sabem muito bem disso.

Isso que você criou se encaixa, e outras coisas também se encaixariam. Essa que você escolheu pode não agradar a ele, ele pode simplesmente, por mais justificável que seja o rumo, não querer esse rumo na história do personagem dele.


Uma vez que o jogo começou, são as escolhas do personagem que ditam aonde ele irá parar. Apesar de eu ter um plano, serão as escolhas dele que importarão. Meu medo é que as escolhas não sejam consistentes, só isso.

Isso é diferente de "matei um npc importante porque quis e NAO QUERO ser preso"...isso é ilusionismo, pois todas as escolhas dele serão falsas escolhas, porque ele precisa "cair para o lado negro"...e é isso que vai acontecer.


Não, não é, e qualquer um que já tenha jogado comigo sabe disso. Meus jogadores confiam em mim como você nem imagina. O jogador ainda vai ter escolhas a fazer, e ele pode escapar deste destino. E mesmo que não escape, isso não significa o fim do personagem, mas o começo do caminho de retornar à luz.

CONVENHAMOS esse background aí é praticamente o padrão do "mestre, só quero ficar forte e matar monstros e tirar onda sobre como sou forte e mato monstros"


E ele sabe que isso sempre tem seu preço nos meus jogos.

Os mestres têm que começar a se preocupar com os planos que os jogadores têm pros seus personagens, e conversar um meio termo entre ambos.


Eu agradeceria se você me ajudasse com ideias para testar o personagem e levá-lo ao lado negro de forma que o jogador não perceba, ao invés de ficar criticando um grupo de jogo que você nem conhece.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor KhanNoonienSingh em 16 Jan 2011, 13:53

Bem, minha dica e idéia (além de todas que já dei pra outros tópicos) então é a seguinte:

ENGANE O JOGADOR. Você o conhece o suficiente? Saiba as fraquezas DO JOGADOR, e explore-as, saiba os desejos DO JOGADOR pra personagem, e faça parecer que ele vai conseguir. Enrede na sua teia não o personagem, mas O JOGADOR. Se você quer fazer com que um cara que faz metajogos quando nota que algo o desagrada para corrigir os desagrados, você precisa enganar não o personagem, mas O JOGADOR.

Alerta final: Ele pode ficar puto quando descobrir e você pode perder O JOGADOR (pra não perder o costume do caps lock).
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 16 Jan 2011, 14:03

KhanNoonienSingh escreveu:Bem, minha dica e idéia (além de todas que já dei pra outros tópicos) então é a seguinte:

ENGANE O JOGADOR. Você o conhece o suficiente? Saiba as fraquezas DO JOGADOR, e explore-as, saiba os desejos DO JOGADOR pra personagem, e faça parecer que ele vai conseguir. Enrede na sua teia não o personagem, mas O JOGADOR. Se você quer fazer com que um cara que faz metajogos quando nota que algo o desagrada para corrigir os desagrados, você precisa enganar não o personagem, mas O JOGADOR.

Alerta final: Ele pode ficar puto quando descobrir e você pode perder O JOGADOR (pra não perder o costume do caps lock).


Eu conheço as fraquezas do jogador sim, mas não quero enganar o jogador (mas quero sim surpreende-lo). Meu medo é exatamente que, quando ele perceber, "force" a interpretação do personagem para não decair, ao invés de seguir o jogo com naturalidade.

Notem que não estou fazendo isso para sacanear jogador ou personagem. É costume em meus jogos usar o background dos personagens para alguma coisa (sim, surpreendente!) e criar ganchos de histórias baseados na interpretação do personagem ( :shock: ), e meus jogadores sabem disso. Alguns respondem melhor a isso do que outros, mas todos sabem disso. Não vejo "cair para o lado negro da força" como algo ruim, pois vai é dar mais foco àquele personagem na história, e não pretendo de maneira alguma torná-lo um NPC ou "vilão principal" no fim do processo.

E, particularmente, como jogador, nunca criei um personagem que não tivesse uma tonelada de ganchos em potencial para o Mestre explorar se ele assim quisesse.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Torneco em 16 Jan 2011, 23:54

Bem, meus dois centavos sobre o assunto. Como jogador, eu não gosto de ser forçado a aceitar uma escolha para o meu personagem que eu não quero. Se, por acaso, eu descobrisse que o meu narrador manipulou o jogo para tornar meu personagem algo que eu nunca havia planejado, eu vou sim forçar o personagem a seguir o que eu havia planejado.

Um exemplo mais recente. Eu planejei recriar o meu personagem na campanha do Frost, de um gnomo ilusionista de poucas ambições para um hexblade servo da Dama da Clareira Branca, com uma adoração quase religiosa. Só que nessa transição, o meu personagem foi induzido a realizar o pacto por um outro grupo, não foi por vontade própria. Não me agradou essa idéia, embora, de certa forma não vá fazer muita diferença.

Então, não é legal, pelo menos para a maioria, ter o personagem guiado pelo mestre. Lembre-se disso caso ele resolva mudar os rumos do personagem.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor arghsupremo em 17 Jan 2011, 08:01

Deicide escreveu:Eu conheço as fraquezas do jogador sim, mas não quero enganar o jogador (mas quero sim surpreende-lo). Meu medo é exatamente que, quando ele perceber, "force" a interpretação do personagem para não decair, ao invés de seguir o jogo com naturalidade.


Deicide escreveu:Por isso, temo que, quando perceber que está indo para o lado negro da força, o jogador force uma redenção súbita do personagem. Preciso evitar isso a todo custo, e vou começar conversando com o jogador sobre as mudanças súbitas de atitude dele nas últimas seções.


Mas se são escolhas do jogador como são forçadas? Se ele escolheu uma redenção, qual o problema?

Ao meu ver, tentar forçar um ponto de vista sobre o personagem do jogador nunca é uma forma legal de mestrar. Não gosto de narrativas lineares, gosto de ter o controle do meu personagem.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Nibelung em 17 Jan 2011, 09:57

Deicide escreveu:
KhanNoonienSingh escreveu:A parte em negrito mostra o que quero dizer com dar um rumo pra história do jogador sem consultá-lo. Ou você expôs seu plano e perguntou se ele ia querer?


Expor o plano iria estragar o plano, então não.


Por experiência própria, combinar com o jogador esse tipo de reviravolta com o personagem dele é bom pra surpreender sim. Não o jogador, mas o resto do grupo.

Na minha campanha anterior em Eberron, por exemplo, o grupo estava fugindo e se escondendo dos Olhos Reais de Aundair (uma organização ENORME com alcance nacional) enquanto tentava resgatar um artefato dividido que ia salvar o mundo que a organização também procurava pra fins desconhecidos (o grupo debandou dos olhos reais, mas isso é outro assunto).

O que importa é que logo que o grupo se rebelou contra a organização, me veio a ideia que o changeling do grupo (que é quem está mais interessado em buscar o artefato) poderia ter feito um acordo com os Olhos Reais pra se tornar um agente duplo. A organização deixaria o grupo em paz, e em troca ele faria relatórios diários (via Sending) informando todos os achados do grupo.

A situação ficou ótima (a nível de jogo e drama) quando o grupo descobriu que ele era um agente duplo. O jogador do changeling não se surpreendeu, mas o resto do grupo sim, e isso serviu pra movimentar a história.

É bom lembrar que só porque você está mestrando não significa que as únicas opções do jogador são "aceitar ou negar" suas sugestões de rumo da história. Quando os jogadores se sentem envolvidos no desenvolvimento do próprio personagem a coisa anda bem mais macia porque você tem um jogador a menos tentando ir contra seus planos.
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Gostaria de lembrar a todos que King Bradley destruiu um tanque de guerra com uma espada e uma granada.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Ric.freitas em 17 Jan 2011, 13:20

Alguém aí já tentou levar um personagem para o lado negro da força? Alguém já teve sucesso? Têm alguma dica para mim? E como lidar com a atitude inconsistente do jogador?


Acho que a melhor forma de lidar com a atitude inconsistente do jogador é falando com ele off-game mesmo, pois pode ser que às vezes algum dos traços da personalidade do personagem lhe escapem, ou então que você não está conseguindo elaborar determinadas situações para o personagem porque ele tem tido reações contrárias ao que você esperava.
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 17 Jan 2011, 21:57

arghsupremo escreveu:Mas se são escolhas do jogador como são forçadas?


Porque não condizem com os parâmetros que ele próprio criou para o personagem.

Sessão 1: Personagem fica todo tímido, faz besteiras e não sabe agir perto de uma mulher que claramente gosta dele.
Sessão 2: Personagem se declara, sem papas na lingua.

Sessão 1: "Eu odeio Chong Wang, aquele maldito acha que isso é um circo e só está atrapalhando a gente".
Sessão 2: Luta lado a lado com Chong Wang, permite que Chong Wang enfrente sozinho o vilão na frente de uma multidão e ainda ri porque "está participando do show".

São mudanças súbitas que não fazem sentido para o personagem, e só são explicáveis porque eram as decisões que fariam o jogador se sentir "ganhando" aquela situação.

Se ele escolheu uma redenção, qual o problema?


Porque se antes da revelação ele estava indo numa boa pro lado negro sem se preocupar, pode parecer mais uma mudança súbita baseada não no comportamento do personagem, mas na ideia de "vencer o jogo" do jogador.

Ao meu ver, tentar forçar um ponto de vista sobre o personagem do jogador nunca é uma forma legal de mestrar. Não gosto de narrativas lineares, gosto de ter o controle do meu personagem.


E quem disse que é linear? As escolhas dos jogadores fizeram com que eu pulasse todo o primeiro arco de histórias da campanha.

Plano: Investigar os eventos na cidade de Cinomédia e descobrir uma conspiração.
O que realmente ocorreu: Personagens arrumam confusão, fogem da cidade de Cinomédia no primeiro dia.
Minha cara: :putz:

Nos meus jogos, os personagens têm liberdade. Mas como Mestre é meu dever aproveitar bons ganchos que eles deixam pra trás, e o comportamento desse personagem em questão faz uma queda pro lado negro um desafio narrativo que pode levar a trama a lugares nunca antes imaginados, e eu quero tentar seguir esse percurso.

Pelo visto o desafio não é só fazer a decaída sutil, mas fazer o jogador gostar dela...
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Re: A sedução do Lado Negro da Força

Mensagempor Deicide em 23 Abr 2011, 11:29

Diário de Corrupção - Atualização

Seguindo um plano formulado pelo grupo, nosso amigo Orpheu (o personagem central desse tópico) segue com Khanckanabis (o sacerdote banu'lifênio) por um caminho separado, a fim de proteger uma relíquia que o grupo roubou dos vilões da história. Khanckanabis, contudo, convence Orpheu a não seguir o plano original, retornar à cidade de onde partiram e atacar os inimigos de surpresa, arruinando a linha de suprimentos deles. Khanckanabis também ensina Orpheu a controlar sua raiva e a usá-la como uma arma (em termos de regras, o ajuda a usar suas habilidades com maior eficiência).

Nessas últimas seções também fiz o flashback de Orpheu, fazendo-o lembrar de seu velho mestre, que tentava extirpar a raiva dele. Com isso, Orpheu passa a ligar Khanckanabis ao seu velho mestre e ele começa a confiar em Khanckanabis.

Enquanto viajam para reencontrarem o grupo, Khanckanabis revela a Orpheu que, entre os Banu'lifênios, o jovem passa por um rito de passagem para se tornar adulto. Ao fim do rito, o jovem ganha um novo nome. Khanckanabis então insinua que Orpheu está passando por um rito de passagem...

Chegam a Fuzarca, capital da Miscelânea, onde reencontram o grupo num estado terrível. Um dos membros morreu por causa da traição de outro membro (na verdade, não houve traição, os inimigos forjaram tudo e capturaram o membro acusado). Khanckanabis começa a exercer influência sobre o grupo todo, aproveitando o momento frágil para aconselhar e guiar o grupo através desse período difícil. Embora os outros ainda não confiem nele, Orpheu está cada vez mais próximo de Khanckanabis e mais distante do grupo (inclusive, mais distante de seu interesse amoroso, que faz parte do grupo).

--------------------------------------

Em outras palavras, a coisa está indo bem. O jogador parece empolgado com a situação. Ele gostou pra caramba do sacerdote Banu'lifênio, aceitou que seu personagem usasse máscara e capa (símbolos do Shemhaza) e está se estranhando com o grupo. Eu não sei se o jogador já percebeu o que estou fazendo, mas se percebeu parece empolgado com a ideia.

Ainda assim, ele ao mesmo tempo resiste à corrupção. Numa chance de assassinar um inimigo derrotado, ele se recusou a matar diretamente, por exemplo. Ainda assim, pra se livrar do inimigo com a consciência limpa, ele fez um ato meio macabro (amarrou-o, o colocou num bote sem remos num rio caudaloso que corta uma região das regiões selvagens mais perigosas do mundo e o deixou à deriva; o inimigo manteve sua armadura, mas nenhuma arma). Pretendo usar isso mais para frente, quando Khanckanabis expor que o que ele fez foi tão ou mais cruel do que matar o inimigo caído.

A saga continua...
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