Horror e rpg ?

[Gladius Dei]

Acho que um dos requisitos para se haver medo/terror seja a sensação de impotência (muitas vezes por causa do desconhecimento) da pessoa ante o problema. Só que a grande maioria dos sistemas oferece possibilidades para se vencer o problema. Se o jogador tem a sensação de que ele pode alterar a situação (seja fugindo, seja enfrentando), parte da tensão se perde, não?

[Armitage]

Bem lembrado Gladius. A impotência/vulnerabilidade é muito importante no gênero. Não dá pra sentir medo/apreensão quando o monstro na sua frente pode ser descartado com duas pauladas. E acho que é por isso que Call of Cthluhu é referência até hoje no gênero, seu sistema tende pro realismo/letalidade e os personagens são bem vulneráveis.

[Lumine Miyavi]

Algo tipo Ravenloft?

[Morius, the Dark]

Narrando uma partida de D&D Basic Game 2 consegui insuflar medo em minha irmãzinha de 9 anos, ela não conseguiu dormir sem os pais por 3 dias!

[Deicide]

Bem lembrado Gladius. A impotência/vulnerabilidade é muito importante no gênero. Não dá pra sentir medo/apreensão quando o monstro na sua frente pode ser descartado com duas pauladas. E acho que é por isso que Call of Cthluhu é referência até hoje no gênero, seu sistema tende pro realismo/letalidade e os personagens são bem vulneráveis.

É por isso que falei que pra criar medo genuíno você tem que mexer em coisas desagradáveis. Basicamente, tirar o poder dos personagens e jogá-los numa situação em que basicamente não resta nada a não ser fugir ou observar as coisas saírem de controle. História de terror em geral acaba mal, com muita gente morta/perdida/corrompida/insana e um ou outro sobrevivente.

Pensa num filme: você sente medo porque você empatiza com os personagens e a história não está sob seu controle. Você sabe que coisas ruins vão acontecer, e aí coisas ainda piores acontecem, e isso só vai piorando conforme a história avança. E você não pode fazer nada pra mudar isso.

Não tem crônica de RPG que se sustente assim. Dá de mestrar seções dessa forma, em geral com personagens criados para aquela história, mas manter uma campanha longa de terror puramente destilado? Acho um pouco difícil. Basta olhar Call of Cthulhu: o jogo se gaba de matar/ensandecer/fazer coisa pior com os personagens jogadores...

E puxando sardinha pro meu lado, gosto muito do meu ACN como jogo de horror...

[Armitage]

É por isso que falei que pra criar medo genuíno você tem que mexer em coisas desagradáveis. Basicamente, tirar o poder dos personagens e jogá-los numa situação em que basicamente não resta nada a não ser fugir ou observar as coisas saírem de controle. História de terror em geral acaba mal, com muita gente morta/perdida/corrompida/insana e um ou outro sobrevivente.

Ah sim. Quando você citou "coisas desagradáveis" anteriormente eu imaginei coisas realmente desagradáveis (estupro, tortura, gore, etc). Mas isso aí em cima não me parece tão desagradável. Eu diria que essa impotência é até desejável num jogo de horror. Não consigo imaginar uma obra de horror mesmo (filmes, livros, etc) onde os personagens sejam picas-grossas chutando bundas de monstros.

Não tem crônica de RPG que se sustente assim. Dá de mestrar seções dessa forma, em geral com personagens criados para aquela história, mas manter uma campanha longa de terror puramente destilado? Acho um pouco difícil. Basta olhar Call of Cthulhu: o jogo se gaba de matar/ensandecer/fazer coisa pior com os personagens jogadores...

Sim, aqui eu concordo.

E puxando sardinha pro meu lado, gosto muito do meu ACN como jogo de horror...

Como é ele? Tem algum resumo em algum lugar?

[Deicide]

Como é ele? Tem algum resumo em algum lugar?

Resumindo bastante: é uma variação do storyteller, com jogadas de Xd10 vs. dificuldade variável, misturando com a ideia de tipos de ações do d20 (ação básica, movimentação, reação, etc.).

É um sistema de resolução mais lenta (tem, por exemplo, jogadas de ataques e de defesas, porém dano não exige jogada separada), mas acho que isso funciona bem em jogos de suspense e terror. Combate é coisa arriscada, porque ferimentos vão causando penalidades cumulativas e, embora haja algumas travas para impedir que personagens morram à toa (o jogo é mais voltado a "Arquivo X" do que "Call of Cthulhu"), é muito fácil o personagem ficar incapacitado e perder um tempão se recuperando. Por outro lado, pegar o oponente de surpresa dava uma vantagem muito grande.

O sistema também usa jogadas contra pânico, tem uma característica para intuição ("Você sente um calafrio percorrer a espinha") e tem um sistema de "arquétipos de personalidade" relativamente simples e pouco restritivo, mas que acho muito bom e permite cobrir uma gama muito grande personalidades.

O resultado é que, pelo menos nos jogos que mestrei, os personagens evitavam se exporem. Era uma coisa de investigar com cautela extrema. Ajudava eu impor um clima verossimilhante, em que qualquer tiro atraia a polícia ou a imprensa em poucos minutos.

Também cheguei a gerar um sistema de conflito social num artigo do meu site.

Tem um artigo-resumo explicando, com base no velho Storyteller, como o sistema funciona:
http://www.underhaven.com.br/artigo.php?id=27
Não é a coisa mais original do mundo, mas é bastante funcional.

[Armitage]

Opa, lembrei que já conhecia seu cenário Deicide, inclusive tinha um pdf dele aqui (acho que perdi no ultimo format de hd ). Vou pegar de novo pra olhar com mais calma.

Algo tipo Ravenloft?

Taí algo que soa meio paradoxal pra mim: aliar o sistema de D&D, essencialmente combativo e "heróico" (diga-se: não-letal), ao gênero de horror, que deveria ser letal e não-combativo (ok Madruga, pode soar as trombetas agora ). Se não me engano o Cthluhu d20 tentou remediar isso ao implementar a regra de massive damage com threshould de 10hp (se você tomar 10 hp de dano em um único ataque, tem que fazer saving de fortitude ou morrer instantaneamente), mas apesar de funcionar muito em personagens low-level, acaba se tornando redundante em personagens mid-to-high-level (boa fortitude). Sem contar a incoerência de tentar mapear papéis não-combativos (Costureiro/Professor/Historiador) num sistema combativo, e também a incoerência desses mesmos papéis-não-combativos ficarem melhor em combate conforme sobem de "level".

Enfim, como Ravenloft lida com isso ?

[arghsupremo]

Ravenloft tu podes enfrentar os Lordes Negros no muque. Pense nisso.

[GoldGreatWyrm]

Em Ravenloft, o primeiro desafio, é ir na feira para comprar cebola, batata, etc. para a sopa.

[arghsupremo]

Em Ravenloft, o primeiro desafio, é ir na feira para comprar cebola, batata, etc. para a sopa.

[/piadainterna]

[louc0]

Ravenloft é mais filme de sessão da tarde do que do cine trash.

[Elven Paladin]

Taí algo que soa meio paradoxal pra mim: aliar o sistema de D&D, essencialmente combativo e "heróico" (diga-se: não-letal), ao gênero de horror, que deveria ser letal e não-combativo (ok Madruga, pode soar as trombetas agora )...Sem contar a incoerência de tentar mapear papéis não-combativos (Costureiro/Professor/Historiador) num sistema combativo, e também a incoerência desses mesmos papéis-não-combativos ficarem melhor em combate conforme sobem de "level".

Qualquer um que tenha jogado ou conheça bem Lobisomem da White Wolf (seja Destituídos, seja Apocalipse) sabe que não há nada de estranho em misturar heroísmo, combatividade e letalidade para formar uma história de Horror. Raveloft segue a mesma veia, assim como os jogos Pulp de Trail of Cthulhu e Call of Cthulhu.

[Armitage]

Minha experiência com Vampiro e Lobisomem me levam a crer que estão mais pra Supers com elementos de emo-politics e eco-guerrilla, respectivamente, do que qualquer coisa que se assemelhe ao horror visto em Call of Cthluhu, Nêmesis, Kult, Dread, Unknown Armies em street level, Trail of Cthulhu em pristine mode, ou mesmo WoD jogado com humanos normais.

Ravenloft é mais filme de sessão da tarde do que do cine trash.

Huahuhuha

[Elven Paladin]

Minha experiência com Vampiro e Lobisomem me levam a crer que estão mais pra Supers com elementos de emo-politics e eco-guerrilla, respectivamente, do que qualquer coisa que se assemelhe ao horror

Ou, assim como em Fantasia, você tem uma definição incrivelmente estrita do que é horror. Ou teve o azar de lidar com grupos que preferiam jogar de forma diferente (foi assim comigo em Vampiro, eu sempre tive a incrível sorte de jogar com aquilo que há de pior possível nele, incluindo um lendário Tzimisce Antitribu na Camarilla, que tinha uma Katana de Prata - mas com Lobisomem a situação foi bem diferente) ou não pegou o clima do jogo (Lobisomem, junto com Changeling, era um dos jogos mais injustiçados da White Wolf).