Gladius Dei escreveu:Discordo. Le Goff apresenta bastante claramente que as classes guerreira e clerical (Bellatores e Oratores) tinham deveres para com as outras classes (significando também para a classe dos Laboratores, cuja uma das partes era a dos servos ligados à terra [e corrigindo o conceito de servidão apresentado no tópico, eles não tinham tanta liberdade de locomoção, estando ligandos à terra onde seus pais servos tinham nascido; se eles pudessem pagar para se livrar desse "contrato", no entanto, eles se tornariam vilões livres e aí sim poderiam se locomover sem problemas legais]). Eles tinham o dever de defendê-los de ameaças externas e internas, naturais ou sobrenaturais, e bem de providenciar para essas classes em momentos de escassez, chegando a existir "cláusulas" onde era válido insurgir-se contra o rei/nobre no caso de descumprimento destas. Ademais, o surgimento do individualismo já é marca presente da Idade Média e de suas universidades do séc. XIII, também conforme Le Goff.
Perfeito, Gladius. Eu podia ter me focado mais no sistema feudal de dependência que na situação isolada do servo, até porque isolar caso quando os três estamentos (e aí eu prefiro chamar de estamento mesmo, porque classe tem muito mais mobilidade, e isso é conquista da sociedade burguesa) dependem umbilicalmente uns dos outros. E eu sei que o individualismo não faz puff e surge só depois da revolução francesa. Mas ele passa a ser vetor da sociedade só nos arredores temporais dela. (mas eu posso estar um pouco errado quanto a isso também. As sociedades medievais eram um pouco mais complexas do que a gente costuma aprender na escola)
fernineiros escreveu:Mas o pior é que não dá pra saber que tipo de "escravidão" é, só diz que ela é "legal". Falta de informação é uma merda...huehehehehe
Sim, falta de informação é bem uma porra. Por isso às vezes eu queria ter paciência e tempo e ler o Guerras Táuricas. Aí eu podia dizer logo duma vez: então, tá todo mundo (a) certo (b) errado (c) inconlusivo, porque nem no GT tem esse tipo de informação.
Você está descrevendo uma comunidade de "servos". Uma comunidade tem que ter uma cultura própria, uma identidade cultural. Essa identidade cultural só existirá se for permitida pelos seus donos. Esse é meu ponto.
Seu ponto aqui está errado (e eu nem vou entrar nos méritos do conceito de cultura aqui. Porque, pra valer, se a gente pensar antes do século XVIII, aff, nem se aplica. Mas é ficar caçando pelo em ovo. Se alguém se interessar sobre o assunto, tem o capítulo sobre Cultura de um livro do Raymond Williams chamado Marxismo e Literatura; é fácil de achar, pergunte-me como). Existem muitas formas de resistência, e às vezes os senhores tão pouco se lixando para o fato de os servos manterem sua própria cultura desde que eles continuem trabalhando e não dêem trabalho, como continuar praticando artes marciais. E, ainda assim, tem coisa que é simplesmente impossível de proibir e vigiar o tempo todo.