O primeiro cenário da história
(como o cenário usa oficialmente o OD&D, achei mais coerente postar nesta seção)
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O que aconteceria se um americano crescido na Índia, convertido ao Islã, fanático por cultura meso-americana, e doidão de haxixe resolvesse criar um cenário de fantasia?
Resposta: Império do Trono-Pétala, um cenário desprovido de quaisquer referências européias-americanas, onde não existem pessoas louras, não existem culturas pseudo-, possui toda uma linguagem própria desenvolvida ala Terra Média ( só que baseada em sânscrito e Maia), e que foi desenvolvido no decorrer de 20 anos como veículo particular de estudo de linguagens do autor (Mohammed Abdel-Rahman Barker, vulgo M.A.R. Barker), até ser lançado como um rpg.
(quer entender ? o jogo vem com um dicionário tsolyani-inglês )

Mas vamos com calma. O cenário foi lançado em 1975 para OD&D (na verdade usava uma variante daquele sistema) e é considerado o primeiro cenário de RPG "mesmo", pois até então só existiam módulos com aventuras e regiões isoladas (o que importava era entrar num calabouço e descer porrada, então pra quÊ mundo complexo?? ). Não só "Império do Trono Pétala" foi o primeiro cenário de fato, como foi o primeiro a se colocar na frente das regras em grau de importância, ou seja, suas regras foram criadas (ou melhor, adaptadas) em função das premissas e características internas do cenário, e não o contrário. Some-se a isso uma edição de luxo na forma de livros e mapas plastificados coloridos (coisa rara na epoca), tudo dentro de uma box custando o preço da cara, e dá pra advidinhar porque não vendeu. Isso mesmo, o jogo foi um puta flop, um fracasso de vendas ("como assim não têm elfos e orcs!?" ). Mas algumas almas excêntricas (ou loucas) viram algo de especial nele, e fizeram dele um cult, com uma legião seguidores até hoje.

um sol implacável castiga Bey Su, "A Alma do Mundo". Soldados de pele vermelha vestindo o traje da Legião Azur marcham por suas largas avenidas. Dos portões da cidade as formidáveis estradas sakbe - avenidas suspensas na forma de muralhas - se estendem em todas as direções do império Tsolyani, incluindo Avantvar, lar do Deus-Imperador, que observa suas terras do alto de um maciço trono de pedra, esculpido, dizem, na forma de uma gigantesca flor. Poucos presenciaram o Trono-Pétala, pois o Deus-Imperador vive em seclusão, somente observado por seus surdos-mudos Serventes do Silêncio.
Assim começa sua introdução. Mas cortemos ao que interessa:
Aprox 30.000O anos no futuro a raça humana coloniza (provavelmente tendo a Índia como potência espacial) a estrela "Sinistra D" (que existe de verdade) e toca um zaralho com o ecosistema do planeta para deixá-lo habitável e confortável para si ( e fodam-se os habitantes nativos ). Pouco tempo depois o planeta se torna um grande mundo-resort, uma estação de férias luxuosa (pense Dubai no espaço), atraindo centenas de milhares de humanos gordos e endinheirados para suas praias idílicas.
Então, do nada, as estrelas somem do céu, e o planeta perde contato com o restante da galáxia. Puff. não demora muito para os habitantes perceberem que simplesmente "saíram do mapa" ou algo assim (pense Triângulo das Bermudas no espaço). E também não demora muito para um grande cataclisma ocorrer, devido à ausência de campos gravitacionais de astros que outrora existiam ao redor.
Depois de a poeira baixar (e metade da população humana perecer no processo), a sociedade no planeta entra em colapso, já que dependia de constante suprimento externo de recursos (não há ferro no planeta) para o sustento. Daí pra frente é clichê: fauna e flora nativa se revoltam, retomam o lar perdido, e expulsam os humanos para confins do planeta. Estes, agora isolados, se vêem obrigados a se adaptar ao ecosistema alienígena, e também às novas condições peculiares ao "pocket dimension" em que o planeta agora se encontra: a possibilidade de manipulação extra-planar através de mentalização intensa, indo desde pequenos truques (pense em spells), a contato com entidades extra-planares de dimensões-n vizinhas (pense demônios e espíritos), e até a comunicação com inteligências múltiplas superiores tão vastas e avançadas a ponto de serem incompreensíveis (pense deuses.. sim, os deuses do cenário).
(peitinhos de fora, marca registrada tsolyani)

Passados algumas dezenas de milênios, a raça humana se consolidou em nações xenofóbicas ultra-tradicionalistas baseadas em clãs, habitando o continente norte do planeta, e as estórias de espaçonaves e maravilhas tecnológicas dos antepassados se tornaram lendas e mitos (que quase ninguem acredita) preservados por templos religiosos. A tecnologia do passado sumiu (ou virou relíquia, ou sucata) na medida inversa em que o entendimento da manipulação extra-planar ( agora chamada de "magia" ) se desenvolveu. 10 deuses formam a base das religiões ( sendo 5 deuses de Mudança e 5 de Estabilidade ), e estes concedem favores e bênçãos a seus devotos e aos que executam suas agendas.
O jogo.
No melhor estilo sword-and-sorcery, os jogadores são bárbaros primitivos recém-chegados para tentar a sorte em Tsolyani, o Império do Trono-Pétala, a nação mais poderosa do mundo. Eles são escoltados através das estradas sakbe (estradas-muralhas-suspensas: a fauna e flora do planeta tão hostís à raça humana que não existe a idéia de "passear por aí", ou você viaja pelas estradas ou morre - sim, os "pontos de luz" já existiam) até o "distrito dos estrangeiros" na cidade de Jakalla, onde ficarão até conseguirem a cidadania do Império ( o que implica fazerem serviços sujos para cidadãos poderosos em troca de ouro e da indicação para o teste de cidadania). O sistema é o OD&D, e existem 3 classes (Guerreiro, Padre e Mago). Como não existe ferro, as adagas, espadas e machados são feitos de uma fibra de ossos de animais nativos (muito afiadas, mas se estilhaçam fácil); o mago pode invocar demônios, aprender spells "comuns" (ensinado em qualquer lugar) e spells "específicos" exclusivos de certos templos/deuses; o padre é mais fraco na porrada e nos spells, mas é o único que tem skills de "linguagem", muito importantes para o jogo, pois os artefatos e tesouros encontrados só podem ser utilizados (e até combinados) caso possam ser compreendidos, e para isso o Padre precisa ter sucesso para decifrar as linguagens inscritas nestes artefatos (é possível, ainda que raro, encontrar dispositivos tecnológicos como scanners, lasers, power-armors, etc.). E esta é a premissa básica do jogo: descer à escuridão de complexos subterrâneos (pense dungeons) infestados de criaturas que odeiam a raça-humana há milênios, em busca de tesouro e artefatos poderosos, até conseguir a tão sonhada cidadania. E entre uma e outra aventura, você descansa numa cidade racista e tão tradicionalista ao ponto de um mero erro de etiqueta ser punido com impalamento ( cada jogador faz teste de etiqueta 1 vez por semana, se falhar morre impalado).
(impala! impala! impala! )

Já deu. Não dá pra explicar o cenário todo aqui. Como considerações finais, vale notar que "Tékumel: Império do Trono-Pétala" é considerado pelos grognards um dos mais originais, internamente consistentes e antropologicamente-corretos cenários de toda a estória do hobby, e faz parte do "quarteto-fantástico" da fantasia (ao lado de Glorantha, Talislanta e Jorune, cenários que compartilham qualidades semelhantes).
E como comecei com citação, termino com outra..

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".. I simply state that it is the most beautifully done fantasy game ever
created. It is difficult for me to envision the possibility of any rival being
created in the future.' —E. Gary Gygax
O que aconteceria se um americano crescido na Índia, convertido ao Islã, fanático por cultura meso-americana, e doidão de haxixe resolvesse criar um cenário de fantasia?
Resposta: Império do Trono-Pétala, um cenário desprovido de quaisquer referências européias-americanas, onde não existem pessoas louras, não existem culturas pseudo-, possui toda uma linguagem própria desenvolvida ala Terra Média ( só que baseada em sânscrito e Maia), e que foi desenvolvido no decorrer de 20 anos como veículo particular de estudo de linguagens do autor (Mohammed Abdel-Rahman Barker, vulgo M.A.R. Barker), até ser lançado como um rpg.
(quer entender ? o jogo vem com um dicionário tsolyani-inglês )

Mas vamos com calma. O cenário foi lançado em 1975 para OD&D (na verdade usava uma variante daquele sistema) e é considerado o primeiro cenário de RPG "mesmo", pois até então só existiam módulos com aventuras e regiões isoladas (o que importava era entrar num calabouço e descer porrada, então pra quÊ mundo complexo?? ). Não só "Império do Trono Pétala" foi o primeiro cenário de fato, como foi o primeiro a se colocar na frente das regras em grau de importância, ou seja, suas regras foram criadas (ou melhor, adaptadas) em função das premissas e características internas do cenário, e não o contrário. Some-se a isso uma edição de luxo na forma de livros e mapas plastificados coloridos (coisa rara na epoca), tudo dentro de uma box custando o preço da cara, e dá pra advidinhar porque não vendeu. Isso mesmo, o jogo foi um puta flop, um fracasso de vendas ("como assim não têm elfos e orcs!?" ). Mas algumas almas excêntricas (ou loucas) viram algo de especial nele, e fizeram dele um cult, com uma legião seguidores até hoje.
um sol implacável castiga Bey Su, "A Alma do Mundo". Soldados de pele vermelha vestindo o traje da Legião Azur marcham por suas largas avenidas. Dos portões da cidade as formidáveis estradas sakbe - avenidas suspensas na forma de muralhas - se estendem em todas as direções do império Tsolyani, incluindo Avantvar, lar do Deus-Imperador, que observa suas terras do alto de um maciço trono de pedra, esculpido, dizem, na forma de uma gigantesca flor. Poucos presenciaram o Trono-Pétala, pois o Deus-Imperador vive em seclusão, somente observado por seus surdos-mudos Serventes do Silêncio.
Assim começa sua introdução. Mas cortemos ao que interessa:
Aprox 30.000O anos no futuro a raça humana coloniza (provavelmente tendo a Índia como potência espacial) a estrela "Sinistra D" (que existe de verdade) e toca um zaralho com o ecosistema do planeta para deixá-lo habitável e confortável para si ( e fodam-se os habitantes nativos ). Pouco tempo depois o planeta se torna um grande mundo-resort, uma estação de férias luxuosa (pense Dubai no espaço), atraindo centenas de milhares de humanos gordos e endinheirados para suas praias idílicas.
Então, do nada, as estrelas somem do céu, e o planeta perde contato com o restante da galáxia. Puff. não demora muito para os habitantes perceberem que simplesmente "saíram do mapa" ou algo assim (pense Triângulo das Bermudas no espaço). E também não demora muito para um grande cataclisma ocorrer, devido à ausência de campos gravitacionais de astros que outrora existiam ao redor.
Depois de a poeira baixar (e metade da população humana perecer no processo), a sociedade no planeta entra em colapso, já que dependia de constante suprimento externo de recursos (não há ferro no planeta) para o sustento. Daí pra frente é clichê: fauna e flora nativa se revoltam, retomam o lar perdido, e expulsam os humanos para confins do planeta. Estes, agora isolados, se vêem obrigados a se adaptar ao ecosistema alienígena, e também às novas condições peculiares ao "pocket dimension" em que o planeta agora se encontra: a possibilidade de manipulação extra-planar através de mentalização intensa, indo desde pequenos truques (pense em spells), a contato com entidades extra-planares de dimensões-n vizinhas (pense demônios e espíritos), e até a comunicação com inteligências múltiplas superiores tão vastas e avançadas a ponto de serem incompreensíveis (pense deuses.. sim, os deuses do cenário).
(peitinhos de fora, marca registrada tsolyani)

Passados algumas dezenas de milênios, a raça humana se consolidou em nações xenofóbicas ultra-tradicionalistas baseadas em clãs, habitando o continente norte do planeta, e as estórias de espaçonaves e maravilhas tecnológicas dos antepassados se tornaram lendas e mitos (que quase ninguem acredita) preservados por templos religiosos. A tecnologia do passado sumiu (ou virou relíquia, ou sucata) na medida inversa em que o entendimento da manipulação extra-planar ( agora chamada de "magia" ) se desenvolveu. 10 deuses formam a base das religiões ( sendo 5 deuses de Mudança e 5 de Estabilidade ), e estes concedem favores e bênçãos a seus devotos e aos que executam suas agendas.
O jogo.
No melhor estilo sword-and-sorcery, os jogadores são bárbaros primitivos recém-chegados para tentar a sorte em Tsolyani, o Império do Trono-Pétala, a nação mais poderosa do mundo. Eles são escoltados através das estradas sakbe (estradas-muralhas-suspensas: a fauna e flora do planeta tão hostís à raça humana que não existe a idéia de "passear por aí", ou você viaja pelas estradas ou morre - sim, os "pontos de luz" já existiam) até o "distrito dos estrangeiros" na cidade de Jakalla, onde ficarão até conseguirem a cidadania do Império ( o que implica fazerem serviços sujos para cidadãos poderosos em troca de ouro e da indicação para o teste de cidadania). O sistema é o OD&D, e existem 3 classes (Guerreiro, Padre e Mago). Como não existe ferro, as adagas, espadas e machados são feitos de uma fibra de ossos de animais nativos (muito afiadas, mas se estilhaçam fácil); o mago pode invocar demônios, aprender spells "comuns" (ensinado em qualquer lugar) e spells "específicos" exclusivos de certos templos/deuses; o padre é mais fraco na porrada e nos spells, mas é o único que tem skills de "linguagem", muito importantes para o jogo, pois os artefatos e tesouros encontrados só podem ser utilizados (e até combinados) caso possam ser compreendidos, e para isso o Padre precisa ter sucesso para decifrar as linguagens inscritas nestes artefatos (é possível, ainda que raro, encontrar dispositivos tecnológicos como scanners, lasers, power-armors, etc.). E esta é a premissa básica do jogo: descer à escuridão de complexos subterrâneos (pense dungeons) infestados de criaturas que odeiam a raça-humana há milênios, em busca de tesouro e artefatos poderosos, até conseguir a tão sonhada cidadania. E entre uma e outra aventura, você descansa numa cidade racista e tão tradicionalista ao ponto de um mero erro de etiqueta ser punido com impalamento ( cada jogador faz teste de etiqueta 1 vez por semana, se falhar morre impalado).
(impala! impala! impala! )

Já deu. Não dá pra explicar o cenário todo aqui. Como considerações finais, vale notar que "Tékumel: Império do Trono-Pétala" é considerado pelos grognards um dos mais originais, internamente consistentes e antropologicamente-corretos cenários de toda a estória do hobby, e faz parte do "quarteto-fantástico" da fantasia (ao lado de Glorantha, Talislanta e Jorune, cenários que compartilham qualidades semelhantes).
E como comecei com citação, termino com outra..
Jesus...this is so eccentric, personal, trippy, bizarre, jagged, beautiful, crude, and imaginative. It's Edgar Rice Burroughs meets 60's psychedelly meets the Aztecs in a dark alley behind a brothel in Tangiers, where they bump into a drunken Tolkien and violently sodomize him on a pile of garbage while he begs them not to stop. I can f*cking smell the hash smoke coming through the screen of my monitor.
This old version is raw, uncut T'ekumel: You are savage barbarian adventurers living among the dregs of an ancient, racist empire on a world with no white people, no horses, and no stars in the sky.You crawl down into the Underworld with your wicked zig-zag swords and fight acid-trip nightmares for glory, citizenship, and the awesome power of ancient technology. Then you crawl back up to blow all your gold on sex slaves and drugs at the temples of insane gods in teeming, decadent cities. f*ck that wannabe Dark Sun... this is the real deal. - Richard R
