por Crispi em 26 Ago 2007, 20:26
Maio - 2007
Tudo está bem quando termina bem. Não sei quem criou essa frase redundante e idiota. Mas é como nos sentíamos naquela altura do campeonato. Afinal, tínhamos enfrentado os caras e sobrevivido. E ainda por cima pusemos fogo no prédio. Tá, eu sei que isso não é lá algo de se orgulhar, mas no momento pareceu divertido. A situação era a seguinte. Ainda tinha duas semanas e meias de férias, as coisas se acalmaram, estava freqüentando lugares legais com pessoas bonitas, sexo, drogas e rock and roll. E Mike e Wanda pareciam estar se acertando.
Como o bom irmão que sou tratei de dar uma força a eles. Convidei-os para sair para dançar, praticamente deixei os dois pombinhos se resolverem sozinhos. Ela tava afim dele, mas ele é lerdo que nem um poste quando se trata de garotas. Bem, deixei-os a sós e fui procurar companhia porque, afinal, também mereço. Acabei dançando com uma mulher, seu nome era Laila eu acho. Bonita, cabelos negros, pele clara. Depois de algumas biritas e ela estava se esfregando em mim no terraço do lugar. O mundo é um lugar bom afinal. Só custei para descobrir quem era o tal de Herman de quem ela me chamava. Era o ex. Ela bebeu tanto para me confundir com o ex e fazer tudo que ele gostava, para voltar comigo. Quero dizer, com Herman. O que eu poderia fazer, não podia desapontar a moça. Depois de nos divertirmos um pouco, de dizer palavras doces a ela, a levei até sua casa. Ela nem notou que eu não sabia o caminho. Tudo bem, a deixei em casa, segura, me virei e fui embora. Quando sai, dois sujeitos se aproximaram, meio suspeito, como qualquer dupla soturna pode parecer suspeita de madrugada numa rua deserta.
- Boa noite cavalheiros, estou procurando por alguma parada boa essa noite. Por acaso vocês tem algo para vender? – Eu comecei a conversa.
- Cara – começou um deles, da minha altura vestindo uma blusa de frio que cobria a cabeça – eu tenho um bagulho novo cara. É muito bom. Melhor que extasy.
- Bem, é o que?
- É um líquido, bem doce, que vai te deixar maluco por sete noites.
- Sete noites? Só funciona a noite?
- Sim, sete noites. Só a noite. Você vai ficar ligadão a noite toda.
Então ele me mostrou um frasquinho do tamanho de um polegar, cheio de uma substância avermelhada e pastosa. Eu peguei o frasquinho dele, abri, cheirei, olhei para um, olhei para o outro, um afro-descendente, e olhei para um de novo. O que poderia dar errado? Acho que essa frase é algum tipo de ofensa pessoal a Murphy. Tomei o bagulho. O efeito foi quase imediato. Primeiro senti um doce intenso que começou a anestesiar minha língua e então minha cabeça e percorreu todo meu corpo como um calor. Então pude sentir e escutar meu coração acelerando e meu corpo vibrando. Minha visão turvou um pouco e se concentrou em detalhes antes ignorados, como o refletir da luz em uma poça d’água ou no bater na respiração e calor dos corpos próximos de mim. E por fim, eu poderia dançar a noite inteira. E era o que eu iria fazer. Tinha um show do Rammstein na cidade.
- Cara, o bagulho é muito bom! – eu disse animado.
- Eu disse cara, é muito foda.
Então eu paguei a ele.
- Como eu posso conseguir mais disso depois? Contigo mesmo? Qual o seu nome?
- Pode me chamar de Richard cara. Esse é meu número, é só me ligar se quiser mais.
- Pode deixar. Vai pela sombra Rich.
Me despedi dos dois e fui ao show do Rammstein. E que show! As pessoas tão vibrantes, calorosas, belas e a noite era apenas uma criança. É assim com essa droga. A noite se torna curta. Você não consegue suportar que é só um para gastar toda a energia que tem. Certamente beijei muitas mulheres naquela noite. Minha ultima lembrança é de uma morena quase irresistível que passou por mim e de quem não conseguia tirar os olhos. Até que ela desapareceu na multidão e eu, bem, eu acordei era por volta do meio dia, no chão da pista de dança do show, com a maior exaustão que já senti na vida.