World of Darkness - Abissal

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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 04 Mar 2008, 14:20

Saudações,

Nas próximas semanas pretendo iniciar a narração de uma crônica ambientada no novo World of Darkness. Chama-se Abissal. Por enquanto, pouco tenho a dizer a respeito dos planos, mas o primeiro capítulo, que tem por objetivo unir o destino dos personagens, é inspirado no cenário Unwilling Organ Donors, presente no suplemento oficial Urban Legends, da White Wolf, e no conto O Horla, do escritor francês Guy de Maupassant.

Apresento aqui os 4 protagonistas, com estatísticas e breves históricos. Ajustes de última hora ainda podem ocorrer. Manterei esses dados permanentemente atualizados, inclusive computando o investimento de Pontos de Experiência. A respeito disso, uma observação. Permiti que os jogadores gastassem 35 Pontos de Experiência na criação dos personagens. Isso os tornou mais capazes e mais próximos do planejado por cada jogador a partir do histórico.

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Nome: Jason Englund
Virtude: Fortaleza
Vício: Ira
Histórico:
Nascido no sul dos EUA, Jason passou de criança problema à marginal. Por algum motivo inexplicável, parece perseguido por um turbilhão inexpugnável de violência. Ex-presidiário, está em busca de um homem chamado Jediah, que parece compreender o seu dom sobrenatural.

Inteligência: 2
Raciocínio: 2
Perseverança: 3

Força: 3
Destreza: 2
Vigor: 3

Presença: 2
Manipulação: 2
Autocontrole: 3

Erudição: 1
Investigação (linguagem corporal): 3
Medicina: 1

Armamento: 2
Armas de Fogo: 1
Briga: 3
Dissimulação: 2
Furto (punga): 3

Astúcia: 3
Intimidação (ameaça física): 3
Manha: 2

Precognition (uncontrolled): 4
Senso do Perigo: 2
Esquiva (briga): 2


Nome: Lucas Mackey / Lucas
Virtude: Fortaleza
Vício: Orgulho
Histórico:
Jogador, trapaceiro, farrista. Tudo isso já foi dito a respeito de Mackey. Um homem sem raízes, perseguido pela visão da morte. Pária e desgarrado, sobreviveu graças à combinação de pequenos furtos, habilidade nas cartas e muita esperteza.

Inteligência: 2
Raciocínio: 4
Perseverança: 2

Força: 2
Destreza: 2
Vigor: 3

Presença: 1
Manipulação: 4
Autocontrole: 2

Ciências: 1
Erudição: 2
Informática: 1
Investigação: 2
Medicina: 1
Ocultismo (fantasmas / bruxaria): 3

Armamento (punhal): 1
Armas de Fogo: 1
Briga: 1
Dissimulação: 1
Furto: 1

Astúcia: 3
Intimidação: 1
Manha: 3
Persuasão: 4

Death Sight: 4
Recursos: 2
Senso do Perigo: 2


Nome: Heidrich Müller
Virtude: Justiça
Vício: Orgulho
Histórico:
Um jornalista fracassado, cuja carreira chegou ao fim após sustentar a veracidade de uma fotografia dada como falsa. O horror inexplicável estampado na imagem foi desacreditado, o que tornou Müller uma pessoa obcecada pela necessidade de provar "a verdade".

Inteligência: 2
Raciocínio: 2
Perseverança: 3

Força: 2
Destreza: 2
Vigor: 2

Presença: 3
Manipulação: 3
Autocontrole: 2

Erudição (legislação): 3
Informática (recuperação de dados): 3
Investigação: 1
Ocultismo: 1
Ofícios (fotografia): 1

Condução: 1
Dissimulação: 2
Esportes: 1

Expressão: 2
Intimidação (olhar): 3
Manha: 2
Persuasão: 2
Socialização: 2

Conhecimento Enciclopédico: 4
Memória Eidética: 2
Línguas (alemão, francês, espanhol): 3
Aparência Surpreendente: 2


Nome: Sem Nome
Virtude: Justiça
Vício: Ira
Histórico:
Ex-policial divorciado que se tornou detetive particular, ele é um cético completo. Já teve contato com seitas satânicas, adivinhos e paranormais. Todos charlatões. Hoje, busca um grande mistério para resolver, algo grande o suficiente para torná-lo famoso.

Inteligência: 3
Raciocínio: 2
Perseverança: 3

Força: 2
Destreza: 2
Vigor: 2

Presença: 3
Manipulação: 3
Autocontrole: 2

Ciências: 2
Erudição: 1
Informática: 1
Investigação (cenas de crimes): 4
Medicina (primeiros socorros): 2
Ocultismo: 1
Ofícios: 1

Armas de Fogo (revólver): 3
Briga: 2
Dissimulação: 2
Furto: 1

Intimidação: 1
Manha: 2
Socialização: 2

Status (detetive particular): 1
Memória Eidética: 2
Recursos: 2
Contatos (polícia, prefeitura de Chicago): 2
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Hentges
 
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 13 Mar 2008, 14:15

World of Darkness – Abissal

Capítulo 01 – Violação

No qual um ato de violência reúne os personagens, dando início a uma série de eventos que levará ao questionamento de inúmeras pétreas certezas.

CENA 01 – Sonho


Jason Englund reside na pacata cidade de Arkham há menos de duas semanas. Espera por um sinal de Jediah. O velho foi seu companheiro de cela durante parte do cumprimento de sua pena por assalto. Durante uma fuga em massa – noticiada em todos os jornais devido à extrema violência que a desencadeou – Jediah desapareceu. Perto de cumprir o restante do confinamento, Jason permaneceu na penitenciária. Assim que possível, se encontrariam em Arkham. Nessas duas semanas, porém, o destino do velho não passa de incerteza.

Frustrado e impaciente, Jason tem permanecido muito tempo no porão da mansão abandonada que vem ocupando. Vasculha o local com regularidade, motivado pelos objetos deixados para trás pelos antigos moradores. Cartas, fotos, livros e utensílios diversos enchem o subsolo. Em uma dessas buscas, sente uma repentina e atordoante dor em suas costas. Caindo de joelhos e levando a mão ao local, percebe um corte longo e curvo. Seus dedos sangram. Enquanto levanta-se com dificuldade, seus olhos alcançam um espelho. O homem no reflexo, porém, não é ele.

Subitamente, ele desperta. Está deitado, ao lado de uma velha banheira, ainda no subsolo. Sente dores na cabeça. Jason deduz que teve uma de suas visões premonitórias, e caiu durante o transe. Confirmando que o ferimento nas costas não passou de uma ilusão, decide se recolher e pensar a respeito do ocorrido.

CENA 02 – Pesadelo

Lucas Mackey desperta em uma banheira. Mal pode se mover, amortecido pelo frio intenso. Coberto por sacos de gelo e mergulhado em uma água com tom rosado, não sabe onde está. Buscando levantar-se, sente uma dor intensa no lado direito das costas. A ponta dos dedos revela uma cicatriz alongada em forma de “C”. Atordoado, percebe a existência de um telefone e um recado no balcão ao lado da banheira:

Ligue para o 911. Você está no apartamento 212 do Motel Harmony, na Sentinel Street.

Os momentos seguintes são um amontoado de eventos desconexos. A chegada dos paramédicos, o transporte até a ambulância, a tentativa de perguntas por parte da polícia, o início da recuperação...a mente de Lucas parece um turbilhão de imagens mal projetadas.

CENA 03 – Notícias do ataque

Arkham é uma cidade costeira de tamanho médio (250.000 habitantes), e está situada no estado de Massachusetts. Ela fica 40 quilômetros ao norte de Boston, em uma região de inverno rigoroso. A geografia é marcada por colinas e bosques, com pequenas regiões pantanosas ao longo do rio Miskatonic (nome de uma tribo indígena que habitava a região). A economia é movida pela indústria da pesca, com destaque para o setor de serviços e o mercado de antiguidades, próprio de uma das regiões mais ancestrais dos EUA.

Foi essa ancestralidade o que chamou a atenção de Heidrich Müller. Em Arkham há duas semanas, ele procurou a cidade para banir seu demônio. Autor de uma foto dada como falsa, o jornalista teve sua carreira subitamente encerrada. A criatura que retratou, porém, é real. Ele sabe disso. Por isso tem buscado incessantemente alguma pista na biblioteca da Universidade de Miskatonic, famosa por seus volumes raros. O ambiente acolhedor e a quantidade de rumores – próprios de uma comunidade antiqüíssima – têm feito com que ele considere se estabelecer por um período indefinido na cidade.

Sua atenção, porém, é presa pelos jornais. Uma nota no vespertino Arkham Observer traz o seguinte texto:

Vítima de violência tem rim roubado

Um homem, cuja identidade não foi revelada, deu entrada na noite de ontem no Hospital Arkham após ter sido vítima de violência. Um de seus rins foi cirurgicamente extraído e roubado em circunstâncias não reveladas. O Departamento de Polícia de Arkham está investigando o ataque. Segundo fontes do Hospital Arkham, o paciente se recupera bem, devendo ficar em observação pelos próximos dias. A hipótese de que o ataque esteja relacionado à violação de um cadáver no necrotério municipal não foi descartada pelo Chefe de Polícia Montgomery Callahan.


Müller considera que aquilo pode ser uma história para um jornalista. Ou um caso para um advogado. Como são as suas duas especialidades, talvez valha à pena conferir o fato mais de perto.

Por motivo semelhante, o detetive Ripper Moore conclui que uma visita ao Hospital Arkham pode render frutos. De passagem pela cidade devido a um caso simples, o ex-policial precisou de poucas horas para confirmar as pistas de desaparecimento que apontavam para Arkham. Fora contratado por Donald Skyes para encontrar sua filha, Alicia. A garota de 17 anos fugira com o namorado, Albert Cutler. Bastou descobrir a existência da família influente do namorado na cidade para saber onde procurá-la.

Com o caso encerrado, nada mais natural que o detetive particular parta ao encontro de um possível futuro cliente.

CENA 04 – Apresentação inamistosa

Durante toda a sua vida, Jason foi um criminoso. Garoto-problema, marginal, presidiário. Todas essas denominações não passaram dos estágios de uma vida permeada pelo crime. Essa certeza lhe dá segurança para que, mesmo em uma cidade desconhecida, ela demarque um território. Vagueando por uma área degradada, onde detecta com olho clínico os indícios de atividade ilegal, ele busca um contato. Em um bar, se aproxima do que acredita ser um pequeno traficante. A conversa, porém, não tem os resultados esperados. Irritado pelo desdém do estranho, que se limita a avaliá-lo com um olhar de desprezo enquanto dispara respostas curtas, Jason lhe dá um banho de cerveja.

Enfurecido pela atitude, o estranho se levanta e ameaça Jason, enquanto dois de seus companheiros se aproximam. Antes que seja atacado, o ex-presidiário atinge o homem no rosto. O que se segue disso é uma violenta troca de socos e golpes de garrafas. Jason consegue derrubar os três agressores, mas não resiste à série de contusões, e desmaia antes de deixar o local.

Ele retoma a consciência apenas quando chega à ala de Emergência do Hospital Arkham. Após alguns exames, é liberado. Um policial visivelmente entediado faz algumas perguntas de praxe para preenchimento de relatório. Jason se esquiva com facilidade, alegando roubo para justificar a ausência de documentos. Antes de se despedir, o oficial recomenda que o enfermo tome cuidado. Um sorriso silencioso é sua resposta.

Naquela noite, voltando para casa, Jason avista um exemplar do Arkham Observer. A notícia do roubo de um rim desperta lembranças de sua visão premonitória. Quem quer que ele tenha visto no espelho, era esse homem.

CENA 05 – Interesses mútuos

O primeiro contato entre Ripper Moore e Heidrich Müller se dá em frente ao Hospital Arkham. Dividem cigarros e impressões a respeito do entranho caso relatado no jornal, comentário em toda a cidade. Pouco revelam a respeito de suas intenções mais íntimas, mas concordam que a situação pode ser benéfica para ambos. Entretanto, dispõem de informações insuficientes. A visita a Lucas está proibida, pelo menos até que ele fale com a polícia, o que deve ocorrer apenas na manhã seguinte. A solução é buscar um modo de vasculhar a ficha do enfermo, ainda que nem mesmo saibam seu nome.

Müller percebe que a única forma possível é através do computador da recepcionista. Com uma dose de charme e conversa mole, consegue que ela lhe permita “enviar um e-mail”. Entretanto, é Ripper quem a distrai enquanto ele faz uma busca rápida entre as fichas do pacientes admitidos na noite anterior. Sem dificuldade, ele confirma o nome de Lucas Mackey, seu quarto e o local onde recebeu atendimento dos para-médicos: o Motel Harmony.

CENA 06 – Um lugar chamado Harmonia

A primeira tentativa de Ripper e Müller para descobrir mais informações no Motel Harmony começa com a conversa com um atendente pouco inteligente. A voz metálica e distorcida do aparelho de comunicação pouco faz para auxiliar no diálogo. O desconhecido apenas insiste para que ambos esperem algumas horas, quando o gerente, Doug Kinnear, chegará.

Impacientes, entram no motel como clientes. Observando as garagens que levam aos quartos, avistam as faixas coladas pela polícia para evitar invasão do local sob investigação. Sem se deter, Ripper arromba a porta da garagem, chegando até o quarto. Müller, em seguida, busca reorganizar a barreira violada, após o que se dirige ao carro e aguarda.

Diante da porta do quarto, as habilidades de Ripper se mostram menos efetivas. Irritado, ele arromba a porta à moda antiga: chutes. O local, já vasculhado pela perícia, revela pontos onde possíveis pistas foram coletadas. Após uma análise minuciosa, o detetive confirma a precisão do “cirurgião” e pela escolha cuidadosa do local para a extração. A higiene descuidada do Harmony contribuirá para que eventuais amostras de pele e cabelo no local sejam impossíveis de identificar, dada a quantidade de pessoas que deve ter estado no quarto nos últimos dias.

Após deixar o local, Ripper e Müller conseguem conversar com Kinnear, ainda que o contato seja mediado por um interfone, e o mau-humorado interlocutor se mostre pouco inclinado a auxiliar os dois, mesmo sob a falsa alegação de que seriam parentes da vítima. “Vocês deveriam estar com ele, então, e não aqui, dificultando ainda mais a minha vida” são as últimas palavras do proprietário antes de desligar o aparelho.

CENA 07 – Desalento

O segundo despertar de Lucas é menos confuso do que o anterior, mas as informações que recebe são quase tão desalentadoras quanto as parcas impressões que captou na banheira do Harmony. Ele realmente teve o rim direito extraído. Segundo o Dr. John Goldsack, responsável por sua recuperação, fosse menor a habilidade do agressor, certamente ele não teria sobrevivido. Demonstrando o contentamento distorcido dos que podem comemorar apenas o mal menor, Lucas zomba da observação do médico em seu íntimo.

É informado de que se recupera bem, e que, mantido o ritmo, deverá deixar o Hospital Arkham dentro de poucos dias. A visita seguinte é o Detetive Dale Cooper, da Unidade de Vítimas Especiais da Polícia de Arkham. A conversa é desanimadora. Insistindo que o paciente se esforce para lembrar dos eventos da noite do ataque – fundamental para o desvendamento do crime –, Cooper logo desabafa: esse tipo de crime acontece com mais freqüência do que se imagina, mas é raro o bastante para que ninguém tenha experiência em solucioná-lo. A própria polícia ficou confusa no momento de atribuir a responsabilidade pela investigação: divisão de Homicídio, Roubo ou Vítimas Especiais – que atende casos de ataques de natureza sexual. Caiu nas mãos do time menos ocupado no momento.

Sob efeito de uma combinação de medicamentos e drogas na ocasião do ataque, a memória de Lucas é uma caixa vazia. Aparentemente, a polícia será de pouca utilidade...

CENA 08 – Conferência no Hospital Arkham

O primeiro encontro entre Lucas, Ripper e Müller não geram impressões iniciais que podem ser consideradas promissoras. Lucas desconfia da atitude da dupla, que revela estar com uma investigação paralela adiantada – parecem ter feito esforço de menos para decorar um discurso mal ensaiado. Müller, motivado por dinheiro, não reconhece no paciente uma pessoa de posses. Já Ripper fica com a impressão de que algo importante deixa de ser mencionado. Apesar disso, os interesses mútuos superam as divergências iniciais.

Ouvindo um breve relato de Ripper a respeito do que encontrou no Motel Harmony, Lucas recorda que naquela noite pretendia encontrar duas pessoas. Marion, uma prostituta que trabalha em uma casa chamada Suffragette, e Seymour Flint, garçom do Josephine Italian Ristorante. A primeira é uma amiga. O segundo, um possível contato para mesas de pôquer de altas apostas. Entretanto, Lucas não recorda se conseguiu levar suas intenções adiante.

O que ele não informa é que se trata de um jogador de pôquer profissional. Um errante, que está em Arkham em busca de algum dinheiro fácil.

CENA 09 – Conversa entre os mortos

Após ler a notícia a respeito do ataque no Arkham Observer, Jason decide visitar o Necrotério Municipal para ver se há algo a descobrir ali. Ele imagina que sua visão pode ser fruto de uma relação obscura entre o ocorrido com Lucas e um evento anos atrás, que lhe despertou os sentidos para o mundo sobrenatural além do Véu.

Observando de longe o prédio cinzento do necrotério, ele chega à conclusão de que uma invasão seria temerária. Prefere se aproximar de um funcionário que almoça sozinho em um restaurante lotado, nos arredores. A abordagem é ineficaz. Mencionar uma falha dos funcionários para tentar começar uma conversa com os próprios funcionários é ingênuo. Mesmo assim, entre reclamações a respeito de condições de trabalho e o endurecimento da segurança após o ocorrido, descobre que o zelador na noite do ataque foi demitido. Alegou ter dormido durante o horário de expediente. Seu nome, porém, permanece um mistério.

A abordagem de Ripper é mais direta. Sutilmente, não o bastante para escapar à atenção de Jason, ele furta o crachá de um funcionário. Enquanto se dirige na direção do necrotério para usar o produto do roubo antes que sua falta seja percebida, se dá conta da presença de Jason, que o segue me meio à multidão.

O plano de Ripper, no entanto, falha. Tendo estado no necrotério mais cedo fazendo perguntas, é reconhecido pelo vigia. Antes que a posse indevida de um crachá chame atenção demais, ele deixa o local. Apenas para trombar de frente com Jason. A conversa entre ambos é tensa. Ripper não dá uma migalha de informação ao estranho. Jason, por sua vez, revela o que ouviu no restaurante. O detetive lhe dá um voto de confiança. Combinam de encontrar-se no Parque Independência, no final daquela tarde.

CENA 10 – Os pacientes silenciosos

Sentindo-se mais forte, e seguindo a recomendação médica para dar pequenas caminhadas pelo hospital, Lucas decide almoçar no refeitório. Mesmo que seja gelatina, a refeição será mais agradável do que no quarto onde já passou três dias.

Para chegar ao local, após atravessar o elevador, ele necessita atravessar os corredores que passam pelo Centro de Tratamento de Doenças Respiratórias e Alérgicas. Apesar da movimentação, quatro “pacientes” lhe despertam a atenção. Pálido e com os lábios cianóticos, sussurram com vozes estranguladas pelos corredores.

Esforçando-se, ele escuta a voz dos espíritos desencarnados:

- Eu estava sendo tratado aqui.
- Sentia dor no peito. Uma espécie de peso.
- Lembro de receber um “beijo” todas as noites.
- Eu não conseguia respirar.
- E estou preso aqui.

Um forte odor de perfume feminino, doce e caro, preenche o ambiente. Mas isso Lucas não sabe dizer se percebe com os sentidos ou com a memória, que aos poucos se restabelece.

CENA 11 – Final de tarde no parque

Próximo a uma estátua sem identificação no Parque Independência, Jason observa a aproximação de Ripper e um desconhecido. Trata-se de Müller, que decidiu acompanhar o associado para avaliar o estranho que mostrou interesse no mesmo caso que eles têm investigado.

Jason sustenta a posição de que não precisa dizer qual é o seu interesse pelo assunto enquanto não perguntar qual é o de Ripper e Müller. Mesmo relutantes, ambos concordam com a situação, ainda que sugiram seu caráter provisório. Jason e Ripper decidem procurar Seymour Flint, no Josephine Italian Ristorante, enquanto Müller se encarrega de saber mais a respeito do funcionário demitido do Necrotério Municipal após a violação de um cadáver.

CENA 12 – Markus Spitz sob suspeita

A pesquisa de Müller nos arquivos recentes do Arkham Observer na Biblioteca da Universidade de Miskatonic revela uma notícia interessante, com data de dois meses atrás:

Nota Publicada no jornal Arkham Observer, em 13 de janeiro de 2008.

Cadáver é violado no necrotério

O cadáver de Jonathan Walters, falecido três dias atrás, teve seus dois rins extraídos sem permissão dos parentes. A descoberta ocorreu pelo Dr. Benjamin Smith, que seria responsável pela necropsia. A família da vítima espera que “essa violência desrespeitosa e absurda”, nas palavras da Sra. Walters, seja punida. O zelador do Necrotério Municipal, Markus Spitz, afirmou inocência, mas admitiu ter dormido durante boa parte da noite em que o crime ocorreu.


De posse da informação, Müller se dirige ao subúrbio de classe média-baixa onde reside Spitz. Pelo interfone, se dizendo representante da família Walters, persuade o reservado morador a conversar pessoalmente. Spitz se apresenta como a vítima de uma punição exagerada, e nega qualquer envolvimento com a violação do cadáver de Jonathan Walters. Diz que cansou de responder perguntas sobre o assunto, e o que o caso tem impedido que consiga um novo trabalho. Indiferente ao sutil apelo por dinheiro, Müller deixa o local sem nenhuma revelação substancial.

CENA 13 – Tutti buona gente

Ripper chega ao Josephine Italian Ristorante acompanhado por Jason, que prefere esperar do lado de fora, observando a movimentação enquanto tenta conseguir alguns cigarros. Informando o recepcionista de que deseja falar com Seymour Flint, o detetive provoca uma reação nervosa no rapaz, extremamente zeloso quanto à paz do luxuoso ambiente onde trabalha.

Dirigindo-se a uma entrada lateral do restaurante, utilizada para descarga de mantimentos, Ripper vê Flint e outro garçom conversando enquanto fumam. A aproximação da figura ameaçadora de Jason encerra a conversa e afasta o interlocutor. Cercando o pobre Flint, a dupla não tem dificuldade para pressioná-lo à beira do colapso. Entre lágrimas, diz não conhecer nenhum Lucas Mackey. Ele contou para algumas pessoas que trabalhara em um local onde os convidados faziam altas apostas apenas para impressionar uma garota chamada Janet, que também trabalha ali. Certos de que o rapaz não teria sido capaz de esconder nada, Ripper e Jason partem para o Suffragette.

CENA 14 – Onde está o meu Rim?

Após uma conversa informal pelos corredores do Hospital Arkham, Lucas chega até a ala onde dois pacientes recém operados se recuperam de um transplante renal. Ao contrário dele, eles receberam órgãos. Um deles é uma mulher. A cirurgia ocorreu há uma semana. O outro se chama Jack Daniels. A intervenção ocorreu na mesma noite em que Lucas foi atacado.

Entrando de forma sorrateira no quarto, ele encara o homem que pode ter recebido o seu rim. Uma olhada rápida em seu prontuário médico, porém, revela a incompatibilidade sangüínea. A suspeita é descartada.

CENA 15 – Confrontando Jack Williams


Jason, Ripper e Müller chegam ao Suffragette com um intervalo pequeno de tempo. O nome do local é uma ironia sutil dirigida às feministas mais eruditas. Um prostíbulo batizado com o nome das revolucionárias inglesas que lutaram pelo sufrágio universal na última metade do século XIX só pode ser um tipo de provocação.

No local, enquanto Ripper bebe e Jason rumina a ofensa que foi negar-lhe um trago, Müller chama uma das garotas. Ela lhes apresenta a Marion, que recém desceu do palco vestindo tanta roupa quanto um recém-nascido. Acreditando ter conquistado um cliente, ela se senta quase no colo de Müller. Os humores mudam rapidamente assim que ela é questionada a respeito do paradeiro de Lucas. Sim, ele esteve no local algumas noites atrás. Disse que ia conversar com alguém em um restaurante. Algo a respeito de jogo. Deixou o Suffragette por volta da 1h.

Eles explicam que ele foi a vítima do ataque que todos comentam na cidade. Preocupada, Marion liga do celular de Müller. Lucas afirmar estar bem, e pede que ela os ajude no que for necessário. Distraído da conversa, Jason observa com desagrado a presença de um segurança do Hospital Arkham. O homem lhe expulsou dias antes, quando agrediu uma recepcionista ao buscar informações sobre o paciente encontrado no Motel Harmony. Marion diz que ele se chama Jack Williams, e que tem estado no local com alguma freqüência nas últimas semanas. Sim, ele estava no Suffragette na noite do ataque.

Não demora até que um plano seja elaborado. Duas garotas sobem até os quartos com Jason e Ripper. Em seguida, Marion se aproxima de Williams e o seduz, levando-o ao quarto onde é aguardado para uma “conversa”. Müller sobe em seguida.

Emboscado na escuridão, Williams é dominado com facilidade. Amarrado com lençóis, é pressionado pelos três homens, que afirmam saber de seu envolvimento com o roubo do rim. Ele, porém, exibe grande confiança, e mesmo após ser queimado com cigarro e ter uma arma apontada para sua cabeça, conserva-se impassível.

O engatilhar da arma de Ripper e uma frase simples de Jason, contudo, são o estímulo necessário: “Pode matar. Esse aí não sabe de nada”.

- Call. Ela que vocês querem. O nome dela é Catherine Call. Ela é medica. Do Hospital Arkham. Não me matem. Eu apenas apaguei o cara e levei até o Harmony. Não sabia o que ela queria. Quando vi as manchetes, fiquei desesperado. Só não me matem. Eu não sabia...

Ripper, Jason e Müller deixam o Suffragette com a certeza de que muitas perguntas ainda precisam ser respondidas.
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Mensagempor Hentges em 14 Mar 2008, 15:44

Os fatos, segundo Jason Englund:

e não é q esses caras deram conta do recado? fiz bem em dar um voto de confiança pra eles. achei que ia rolar stress pra explicar como é que se faz pra extrair informações... claro q não precisava aquela papagaiada de cinema, cheia de caras e bocas, mas se no fim saiu tudo como deveria, quem sou eu pra reclamar? talvez eu possa contar com eles pra resolver essa parada do necrotério, mas ainda tô meio cabreiro... esse Moore anda dizendo q é "meio" tira, e ninguém veste uma "farda" sem conhecer o sistema, mesmo sob farsa. do lado do crime ele não é. disso eu entendo. e esse Müller? advogado sacana. queimou o cara sem sequer piscar. ganhou meu respeito, mas ele que não me desaponte.

assim q li aquele jornal, entendi imediatamente q a noticia tinha a ver com o sinal de antes. não hesitei em me unir a eles, pois estava desesperado por uma pista qualquer (tentar entrar no hospital a todo custo e ir pra frente do necrotério sem nenhum plano foi terrível, sempre fico de cabeça quente nessas horas...). agora estou mais confiante do q nunca. afinal, não só encontrei pessoas investigando o caso, como estou prestes a ter contato direto com Lucas. quebrei um otário, descolei uma arma e uns trocados e agora vou pra farra... ou não? talvez eu devesse convencer esses caras a ir ao hospital agora.

conversar com Lucas será muito importante pois houve uma relação direta entre ele e o sinal. e o sinal só pode ser algo relacionado a jediah! tem de ser! lucas está ou esteve envolvido com jediah! a não ser que jediah seja o corpo naquelas gavetas... não! melhor nem pensar nisso. preciso ser rápido. jediah possui todas as respostas, e eu preciso delas.

espero q lucas coopere, senão terei de esclarecer o mínimo possível sobre minha experiência, e como eu poderia fazer isso? nem acredito q estou sequer pensando em contar uma baboseira dessas pra alguém. ah, eu vou chegar lá e o frangote vai me dar o paradeiro do jediah, já q ele me deve uma. o cadáver no necrotério fica pra depois.

Os fatos, segundo Heidrich Müller:

Padre, eu pequei. Muitas vezes... mas nos últimos dias, me superei. Faz tempo que não venho à Igreja. Faz tempo que não me confesso... Faz tempo que não rezo... Por Deus, eu esqueci como se reza! Eu perdi meu emprego, padre, perdi tudo que eu tinha por causa de uma criatura que vi, e não era uma criatura de Deus... Há alguns dias estou aqui na cidade, obcecado por achar alguma resposta, mas ainda não achei nada. Conheci umas pessoas, podem se tornar amigos. Nessa busca eu pequei mais, padre. Meu senso de justiça se deturpou por um momento, e cheguei a torturar alguém... Torturar uma pessoa, padre! Você está me entendendo? Deus... Eu fiquei cego por um momento, e nem posso culpar a bebida. Eu quero ajudar uma pessoa que conheci há poucos dias. Você deve ter lido nos jornais, tiraram um rim dele. Eu acho que sei quem fez a cirurgia, mas por que deixaram-no vivo, Padre? Por que? Porque ele tinha que cruzar o meu caminho? Eu começo a ver a criatura que fotografei em todos cantos escuros em que ando... E agora esta história do rim... Um rim! Por Deus! Um policial que nos ajudou quase estourou os miolos do homem que seqüestrou o pobre maldito que perdeu o rim, padre... Na minha frente... Ia voar os miolos por todo quarto! Eu não ia agüentar, mas estava cego... Acho que queria ter me ajoelhado, e pedido perdão, talvez rezado... Deus, eu esqueci como se reza... Padre, obrigado por me ouvir... Eu vou indo pra casa, e tentar me lembrar de como se faz...
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 28 Mar 2008, 17:39

Comentários do Narrador:

O principal desafio da primeira sessão – os narradores com alguma experiência devem saber – é a reunião do grupo de personagens. Opções são inúmeras. Nesse caso, escolhi fazer com que todos fossem estranhos. O gancho para que isso funcionasse se deu na criação dos personagens: todos eles deveriam descrever sua relação com o sobrenatural.

Mesmo Ripper, único definido como um cético absoluto, resultado do contato com toda a sorte de charlatanismo, se encaixou na proposta. A partir desse momento, era necessário conceber o evento que atrairia a atenção do grupo. Como queria reforçar o caráter mundano do Horror logo no primeiro capítulo, sem apelar para criaturas sobrenaturais, decidi que o conteúdo do livro Urban Legends, da White Wolf, seria suficiente. Narrar o despertar após o ataque que resultou na perda de um rim, como primeira cena de um personagem em uma nova campanha, serviria bem aos meus propósitos.

A reunião do grupo, interessado pelo insólito evento, foi uma questão de tempo, ainda que o personagem Jason Englund tenha dado mais trabalho, já que seus métodos pouco ortodoxos impediram o contato direto com Lucas, algo que foi considerado imediatamente tanto por Ripper quanto por Müller.

Originalmente, esse capítulo avançaria um pouco mais. Entretanto, os detalhes da investigação, que resultaram em quinze cenas após quatro horas de narração, tomaram mais tempo do que o esperado. Além disso, nem todos os aspectos da trama vieram à tona nessa primeira sessão. Imagino que seja natural aos narradores de jogos de investigação e mistério antecipar caminhos pelos quais os jogadores não se interessam, e ser surpreendido por suas escolhas completamente inesperadas.

Os eventos a seguir, que devem estabelecer o papel do sobrenatural no primeiro arco de capítulos, estarão mais próximos do tipo de Horror endossado pelo Mundo das Trevas. Até porque, como disseram os próprios jogadores, a trama teve momentos mais próximos do Policial do que do Horror. Da mistura sairá o Suspense, espero.
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Mensagempor Hentges em 01 Abr 2008, 15:41

Os fatos, segundo Lucas Mackey:

Primeiro veio o cheiro. Iodo...ferro. Ferro não...sangue. Se eu estou com os olhos abertos, por que diabos eu não enxergo nada além dessa maldita nuvem preta? Fui drogado. E essa claridade maldita que não é constante. Tudo gira....

A dor infernal na parte inferior das minhas costas me faz despertar. Meus olhos agora já contribuem um pouco. Onde estou? Provavelmente apanhei por algum motivo. Claro que muitos teriam motivos para isso, mas aqui nessa cidade ainda não. Essa maldita luz fluorescente que não pára de piscar.

Mas que diabos estou fazendo dentro de uma banheira? E essa dor que não passa...argh. Essa água turva... sacos de gelo...mas que porra está acontecendo aqui. Devo tentar me levantar. Impossível. Pela dor, me mijo nas calças igual um recém-nascido.

Que cenário de filme B eu fui me meter. Noto um telefone e um papel ao meu lado no criado mudo:

Ligue para o 911. Você está no apartamento 212 do Motel Harmony, na Sentinel Street.

Liguei rapidamente, pois notei que estava por desabar novamente.

Acordo em um leito de hospital. Chamo algum plantonista para me explicar o estrago da surra que tomei. A enfermeira logo vem e parece meio nervosa.

- O que foi agora? A pancada nas minhas costas foi muito forte, enfermeira...Grant?
- Oh, senhor ...acredito que o médico responsável seja a pessoa mais adequada para falar sobre isso com o senhor, mas...você foi vítima de algum maníaco. Seu rim direito foi extraído...
- O que???
- Sim...eu sinto muito. O Dr. já deve estar chegando para lhe dar mais detalhes. Eu sinto muito.

Depois disso nada mais me parece ter muita importância. O médico veio com aquele papo de merda de sempre. Coisas da profissão de merda dele. A única coisa que ele falou que presta é que foi alguém habilidoso que fez esse estrago. Como eu disse antes: Profissão de merda. E alguém irá sofrer por isso. Ah...se vai.

No outro dia ao meu quarto vieram dois urubus. Conheço urubus em busca de carniça de longe. Vieram com aquela conversa mole de sempre. São agora meus novos “amigos”. Vou tratar como uma relação comercial. Passei o endereço aonde pretendia ir naquela noite e aonde me lembro de ter estado. Vou deixar trabalharem um pouco.

Os fatos que seguem são muito vagos. Quem já esteve internado em um hospital sabe que aquilo nada mais é que uma jaula onde as grades são as drogas que te socam garganta abaixo.

Devem ter sido essas mesmas drogas que me fizeram ir até a ala dos transplantados pronto para matar quem recebeu “meu” rim ontem de noite. Obviamente que eu estava equivocado.

Vale tocar no ponto que um certo perfume me intrigou em determinada ala do hospital...aonde vi mais algumas daquelas...coisas. Tal perfume me remeteu a alguma lembrança que ainda não tenho clareza para afirmar qual.
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 09 Abr 2008, 14:49

World of Darkness – Abissal

Capítulo 02 – A Sedução do Suicídio

No qual um evento que desafia a compreensão e a lógica eclode, e os personagens realizam um acordo para evitar suas conseqüências inexpugnáveis.

CENA 01 – Encontro matutino


Lucas Mackey obtém, finalmente, a notícia que mais esperava. Nesta manhã receberá alta do Hospital Arkham. Após cinco dias acompanhando sua recuperação, o Dr. John Goldsack faz apenas algumas breves recomendações antes de se despedir.

A noite anterior foi difícil. Avisado por Ripper Moore de que o ataque que sofreu envolvia Jack Williams, chefe de segurança do Hospital Arkham, ele preferiu errar pelo prédio, passando algum tempo em cada andar. Mesmo sem saber quem mais estaria envolvido, ele poderia desnortear um possível perseguidor ainda sem rosto.

Mais tarde, ele encontra Ripper Moore. Mas ao invés de estar acompanhado por Heidrich Müller, o investigar chega com Jason Englund. Müller entrara em contato mais cedo. Rumava para Boston, em uma viagem urgente sobre a qual não deu detalhes.

Após uma apresentação breve, onde o envolvimento de Jason deixa Mackey pouco à vontade, Ripper se afasta. Deseja descobrir mais a respeito de Catherine Call.

Jason, enquanto isso, deixa que suas suspeitas venham à tona. Há semanas buscando por um sinal de Jediah, ele acredita que sua visão envolvendo Mackey seja uma pista. Tentando preservar-se, ele não entra em detalhes, tornando o interlocutor ainda mais resistente à suas perguntas. Mackey, porém, pouco ouve da argumentação. No saguão do Hospital Arkham, além do vidro, olhando para ele, estão os fantasmas que viu no andar do Centro de Tratamento de Doenças Respiratórias e Alérgicas.

Na recepção, Ripper questiona a respeito de Catherine Call. Williams, como ele esperava, não está ali. O detetive tomou a liberdade, ainda na madrugada anterior, de avisar anonimamente a polícia de Arkham a respeito de seu envolvimento no ataque contra Mackey. Facilitando o trabalho deles nessa direção, buscou garantir que chegaria a Call antes dos tiras. Informado de que a médica está de licença desde o dia anterior, devendo retornar apenas na manhã seguinte, vai ao encontro de Jason e Mackey.

CENA 02 – Personalidades

Quando chega à pensão onde esteve hospedado até a noite do ataque, Mackey é abordado pelo senhorio. O homem recorda a passagem do detetive Dale Cooper, e pede como seu hóspede se sente. Farejando a curiosidade que não é motivada pela preocupação genuína, mas pelo interesse e intriga, Mackey decide abandonar o local.

Após largar duas mochilas no porta-malas do sedan de Ripper, os três se dirigem até a casa de Call. Como que pressentindo a aproximação de uma situação complexa, Jason menciona os eventos da noite anterior, no Suffragette. A forma como Ripper se portou, segundo Jason, faz dele alguém muito diferente de um tradicional defensor da Lei e da Justiça:

- Nós estamos no mesmo degrau, Ripper. Eu e você.
- Cale-se. Não somos nem um pouco parecidos – replica o detetive.

Distraído, Mackey pondera sobre como executará sua vingança ao encontrar Catherine Call.

CENA 03 – Preparativos para a invasão

O endereço leva até um bairro residencial de classe média-alta, nos subúrbios de Arkham. Casas parecidas, com jardins gramados e ruas espaçosas onde brincam crianças. Nada poderia ser mais contrastante do que o estado de espírito do trio que se aproxima.

Observado por Mackey e Jason, que permanecem no carro, estacionado à distância, Ripper se dirige à casa de Call. Bate na porta e toca a campainha, sem resposta. Motivado pela tranqüilidade das redondezas, resolve por uma abordagem mais incisiva. Após pular um portão e vencer a fechadura da porta que leva à cozinha, o detetive entra. Em silêncio, averigua se a residência se encontra vazia, hipótese logo descartada. A luz em um aposento vizinho o atrai até uma sala de estar onde, sentada em uma poltrona, uma mulher descansa. A posição, porém, não lhe permite afirmam quem é. Sem ser notado, Ripper deixa a moradia.

No carro, enquanto observam o retorno do detetive, Jason e Mackey encerram uma conversa despretensiosa sobre o mundo das apostas ilegais, onde o primeiro se vangloria de conhecer rodas exclusivas, e o segundo manifesta a indiferença de quem se dá o luxo de viver da habilidade com as cartas.

Diante do relato feito por Ripper, decidem entrar e confrontar a médica, o que leva a mais uma anotação mental de Jason: “de ‘tira’ esse Ripper não tem nada”.

CENA 04 – Os segredos de Catherine Call

Depois de entrarem na residência, os três se aproximam da sala de estar. Vêem uma lareira ainda crepitando, onde inúmeras páginas impressas e anotadas parecem ter sido destruídas. Em uma poltrona, no estertores da morte, está Catherine Call. Seus pulsos sangram em profusão e, no chão, jaz um bisturi.

Ao perceber a presença de Mackey, ela lhe sorri com esforço: “Me desculpe”. Antes de dar o último suspiro, reúne forças para uma frase: “no subsolo... a velha caldeira... é lá que ele está... não o deixe fugir... agora, o fardo é de vocês...”.

Ripper ainda faz menção de prestar-lhe socorro, mas é tarde demais. Imediatamente se dirige ao telefone. Sua intenção de ligar para a polícia, porém, é demovida por Jason e Mackey. A mulher está morta, e a menos que tenham tempo para vasculhar o local, nunca descobrirão porque ela fez o que fez.

Após realizar uma análise breve, que lhe permite confirmar sem sombra de dúvida a hipótese do suicídio, o detetive vasculha o escritório de Call. Recolhe alguns livros com selo da biblioteca da Universidade de Miskatonic e um laptop. Jason, enquanto isso, procura pela caldeira mencionada por ela, no que é frustrado. Apenas um prédio muito antigo contaria com esse tipo de aparato. O Necrotério Municipal e o Hospital Arkham são seus palpites. Mackey, por sua vez, é atraído pelo som de uma respiração pesada que apenas ele pode ouvir. No segundo andar, em um quarto de hóspedes, vê desvanecer a imagem de um dos fantasmas do Hospital Arkham. Com uma voz estrangulada, enquanto olha sobre o ombro do interlocutor, a mulher de lábios cianóticos suspira: “ele está aqui, e pode ver você”.

Mesmo acostumado ao tipo de situação que o seu dom provoca, Mackey se sente desconfortável com a mensagem. Tanto que insiste para que permaneçam mais tempo no local. Deve haver mais a ser descoberto a respeito dos acontecimentos recentes. Ripper e Jason discordam, e os três partes, não sem antes levar algumas páginas parcialmente destruídas que se encontravam próximas à lareira.

As anotações parcialmente carbonizadas de Catherine Call

Incêndio inexplicável mata (destruído) de matemática da Escola Dulbino, (destruído) Basset.

Sua casa foi incendiada e (destruído) sobrou senão o esqueleto da (destruído), totalmente enegrecido pelas chamas da (destruído), transformada em cinzas. Nenhum indício (destruído) foi encontrado, nenhuma explicação foi esclarecida, (destruído) foi criminoso ou não.
Vizinhos (destruído) gritos de nobre senhor, (destruído) sofrendo d’alguma mal-afamada notícia preocupante, ou (destruído) por estar doente. Nada esclarecedor (destruído) acontecimento que choca a cidade até o momento foi desvendado pelas autoridades locais.
Pessoas (destruído) o sr. Basset vinha sofrendo (destruído) estado de estafa mental” nos últimos meses, tendo inclusive (destruído) Dr. Rollebon, em Paris.

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Uma espécie de epidemia (destruído) há algum tempo na província de São Paulo. Os habitantes de várias aldeias (destruído), dizendo-se perseguidos e devorados por vampiros (destruído) de sua respiração durante o sono.

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Trecho de carta enviada a Catherine Call por remetente desconhecido.

...e por isso é que você deve (destruído) para evitar tal obstáculo. Como mencionado em correspondência prévia, sua fonte de alimento (destruído) de pureza e energia. A água que bebe durante a noite, o ar que (destruído) dormem. Os eventos que (destruído) seu local de oficio comprovam tal teoria.

Acreditamos (destruído) a respeito do papel simbólico do órgão principal do sistema excretor. (destruído) combinada ao uso correto das palavras, (destruído). Entretanto, cabe fazer um alerta. (destruído) indesejado desse procedimento, ele pode despertar o apetite por (destruído).

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Trecho de anotação de Catherine Call para elaboração de seu trabalho de doutoramento: “O tratamento contra a pestilência e a receita do bálsamo à luz da medicina científica”.

(destruído) seu significado latino, mare é a palavra do inglês antigo para íncubo, e nightmare (pesadelo) (destruído) o demônio que se senta sobre o peito dos adormecidos, atormentando-os com sonhos. Uma (destruído) de Santo Antônio, escrito por Atanásio em torno de 360 d.C. relaciona, por (destruído) necessidade da oração para o combate às doenças respiratórias, pratica (destruído) anos depois. A documentação (destruído) efeitos da apnéia do sono (destruído) é mais uma manifestação da prática de curandeirismo, atribuindo a entidades sobrenaturais a (destruído) mundanas.

Doenças mundanas? Deus! (destruído) peçam para explicar (destruído) enfermidade sobrenatural!!! Certamente Freckmann tem (destruído) para isso.


CENA 05 – De volta ao Hospital Arkham

Se existe um prédio nesta cidade a que Catherine Call teria fácil acesso, é o Hospital Arkham. Com suas fundações erguidas há mais de trezentos anos, a casa de saúde seria o local perfeito para que a médica desse vazão aos seus demônios.

Sem dificuldade para driblar a pífia segurança, Ripper e Mackey se dirigem ao subsolo. Após alguns lances de escada, atingem a região mais subterrânea da construção, onde as paredes descascadas e o chão de pedra exibem a sujeira acumulada ao longo de décadas. A única porta trancada que encontram pouco pode fazer para detê-los, já que Ripper não tem dificuldades para vencer o cadeado ali instalado. A peça, nova, chama a atenção de ambos.

Ao adentrar o grande salão das caldeiras, os dois vêem um espaço há muito sem função, onde velhos equipamentos são depositados à espera do descarte definitivo. Em meio à poeira, iluminados por lâmpadas fracas demais, vêem um pedaço de carne circundado por diversos símbolos arcanos. Mackey sente um frio de ódio e repulsa ao saber que aquilo é o rim que lhe foi tirado.

Cansado de esperar no carro, Jason chega neste momento, bem a tempo de provocar um susto terrível nos companheiros, que já se deixavam influenciar pelo ambiente lúgubre.

Analisando o local, descobrem pegadas na poeira, produzidas por um calçado feminino em ocasiões distintas. Além disso, atestam que, pelo estado de conservação, o órgão está sem qualquer tipo de conservação artificial há cerca de uma semana, o que coincide com o momento em que Mackey foi atacado. Quanto aos símbolos ao seu redor, apenas conseguem afirmar que se tratam de sinais utilizados com propósitos diversos, contraditórios até.

Sem mais o que fazer, deixam a velha caldeira, mas não sem antes Mackey improvisar uma forma de levar o rim consigo.

CENA 06 – Livros e jornais

A parada seguinte é na biblioteca da Universidade de Miskatonic. Sem vínculos com a comunidade, nenhum deles pode retirar livros, mas nada os impede de buscar referências aos assuntos assombrosos com os quais travaram contato nesse dia. Eis as informações que se revelam durante a pesquisa:

- Lendas diversas falam de ataques noturnos realizados por criaturas chamadas Íncubos e Súcubos. São espíritos masculinos e femininos que se alimentam da vítima através de uma relação sexual durante o sono.

- A lenda foi uma das primeiras explicações medievais para o orgasmo noturno. Relatos recentes atribuem essa fantasia a uma tentativa da vítima de crime sexual no sentido de minimizar o seu trauma.

- Estudos relacionam as lendas dos Súcubos e Íncubos à Paralisia do Sono, um processo natural que visa impedir que as pessoas se mexam enquanto sonham. Distúrbios desse fenômeno podem ser causados por má alimentação, maus hábitos de sono e estresse.

- Algumas das fontes de Call se revelam. Em um dos livros consultados há uma anotação em uma das margens – “eu sei que isso é a mais pura e aterradora verdade”. O livro de medicina medieval compila relatos de problemas respiratórios causados por “demônios”.

Além disso, descobrem trechos inteiros de algumas das fontes parcialmente carbonizadas na lareira de Catherine Call:

Nota Publicada no jornal francês Le Figaro, em 14 de setembro de 1889.

Incêndio inexplicável mata professor de matemática da Escola Dulbino, Jean-Claude Basset.

Sua casa foi incendiada e nada sobrou senão o esqueleto da estrutura, totalmente enegrecido pelas chamas da madrugada, transformada em cinzas. Nenhum indício de início de fogo foi encontrado, nenhuma explicação foi esclarecida, muito menos se foi criminoso ou não.

Vizinhos disseram escutar gritos de nobre senhor, como se estivesse sofrendo d’alguma mal-afamada notícia preocupante, ou até mesmo desesperado por estar doente. Nada esclarecedor no que concerne ao acontecimento que choca a cidade até o momento foi desvendado pelas autoridades locais.
Pessoas próximas afirmaram que o sr. Basset vinha sofrendo de “um profundo estado de estafa mental” nos últimos meses, tendo inclusive passado alguns dias na casa de repouso do Dr. Rollebon, em Paris.

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Fragmento de notícia, publicada no jornal brasileiro Província de S. Paulo, em 21 de novembro de 1888.

Uma espécie de epidemia de loucura parece alastrar-se há algum tempo na província de São Paulo. Os habitantes de várias aldeias fugiram, abandonando suas terras e suas casas, dizendo-se perseguidos e devorados por vampiros invisíveis que alimentam de sua respiração durante o sono.


Distraído da pesquisa – livros pouco têm a lhe ensinar –, Jason passa os olhos por livros e folheia alguns jornais. Sua atenção é despertada pela manchete do vespertino Arkham Observer:

Autor de ataque misterioso se entrega

O texto dá conta da prisão de Jack William após este ter se confessado o autor do ataque contra Lucas Mackey, que resultou no roubo de um de seus rins.

Frustrado pela indiferença do detetive Cooper, que prometera avisar assim que qualquer novidade surgisse, ele liga. Ouve do oficial que o caso não foi concluído. A polícia de Arkham duvida que Williams tenha a capacidade para executar a complexa extração de um rim. Infelizmente, pouco após assinar a confissão, o segurança do Hospital Arkham entrou em um estado de catatonia que impediu novas averiguações. Ele acabara de ser transferido para o Hospital Psiquiátrico Bishopgate, em Arkham. A segunda ligação anônima feita por Ripper, dessa vez sugerindo a ligação de Catherine Call com o ataque, não é mencionada.

CENA 07 – Fatos noturnos

Ao final do dia, Jason resolve dar um voto de confiança aos seus companheiros, revelando o endereço que está “ocupando”. Com um abastecimento limitado de luz e água, além dos odores bolorentos típicos de uma construção antiga há muito desabitada, a mansão nada conservou da ostentação que possuiu no passado.

Sob a iluminação improvisada, Ripper, Jason e Mackey têm uma conversa a respeito dos eventos recentes. Para Ripper, muito do que aconteceu tem explicação no auto-sugestionamento. A crença, por mais distorcida que venha a ser, seria a chave para compreender o comportamento de Call em relação ao sobrenatural. Jason e Mackey, entretanto, não se harmonizam com esse ceticismo. Suas capacidades únicas não permitem ignorar a possibilidade de que engrenagens ocultas estão em movimento. Reservadamente, enquanto Ripper verifica o laptop de Call, eles conversam sobre isso. Jason fala mais a respeito de Jediah, assunto que enerva Mackey. O jogador desconhece tal pessoa, e se irrita com a insistência do outro sobre ele ser um canal de comunicação ignorante de sua função.

Após a despedida do detetive, Jason se recolhe, e Mackey se encarrega do extravagante ritual de enterrar no pátio o próprio rim.

CENA 08 – Prenúncio ou Ataque?

Durante a madrugada, enquanto analisa a arma roubada de Jack Williams, Jason ouve passos no saguão da mansão. Engatilhando a Glock, se dirige ao recinto, apenas para ouvir os sons no corredor adiante. Percorrendo a distância com cuidado, percebe que se encaminha até o quarto onde Mackey se instalou.

Abrindo a porta com cuidado, vê uma figura sombria parada junto à cama de seu hóspede. Com a mão sobre a testa, ele ou ela respira ruidosamente. De a arma em punho, Jason grita uma ordem, obtendo como resposta apenas um olhar desinteressado. O rosto de Catherine Call olha para ele, mas seus traços são horrendos, distorcidos pela ausência de proporção. Em suas mãos, carrega um bisturi, encharcado pelo sangue dos pulsos cortados.

Mackey, que parece vítima de um sono febril, não atende aos chamados. Quando Jason se aproxima mais, aquilo desaparece. Nesse momento, Mackey desperta, vendo seu hospedeiro ao seu lado com uma arma na mão. Sem conseguir explicar o que aconteceu, nem o que está fazendo ali, ele deixa o quarto. Tomado por uma sensação de fadiga, mas profundamente abalado por um sentimento desconhecido, Mackey não consegue dormir. Jason, incapaz de saber se teve uma premonição ou testemunhou algum tipo de ataque, tem como única companhia pelo resto daquela noite a incerteza.

CENA 09 – No que acredita Emmet Freckmann

Depois de sucessivas e frustradas tentativas de encontrar o Dr. Emmet Freckmann em seu consultório, Ripper, Jason e Mackey decidem procurá-lo no Hospital Psiquiátrico Bishopgate. Opressiva, a aura da instituição de saúde mental afeta a todos – Mackey em especial. Ele se encontra vítima de uma espécie de debilidade espiritual que é incapaz de explicar, mas cuja existência apenas a materialidade poderia tornar ainda mais presente.

Na recepção, um funcionário tenta desencorajar a visita ao Dr. Freckmann. Ele acabara de receber uma notícia pessoal que o abalou, e pediu para não ser incomodado. Indiferentes, os três homens se dirigem ao escritório do psiquiatra.

O encontram sozinho, com um envelope à sua frente, e a expressão de profundo abatimento. Freckmann afirma que acabara de ser informado da morte de uma amiga, e que gostaria de ficar sozinho. Ignorando o pedido, Mackey despeja perguntas, que combinadas ao abalo emocional e a sutil ameaça que a simples presença de Jason evoca, faz com que a qualquer resistência seja arruinada.

Sim, ele conhecia Catherine Call. Eram amigos, e ele orientava seu doutoramento na Universidade de Miskatonic a respeito de doenças consideradas sobrenaturais analisadas sob a ótica científica moderna. Sim, era verdade que ele tinha interesse no assunto, mas sua posição era permanentemente crítica. Tanto que quando percebeu que Call parecia ter o seu ceticismo abalado, ofereceu ajuda. Freckmann demonstra claramente o ressentimento e a culpa próprios de alguém que sente que poderia ter evitado a morte trágica de uma amiga. Call estava pressionada pelo trabalho e pelos estudos, e de alguma forma suas frustrações desembocaram em uma espécie de fantasia que encontrava paralelo com alguns dos casos que estudava.

O material que ela confiou a Freckamann para análise não deixariam dúvidas a respeito de sua condição de estresse profundo e, possivelmente, um quadro inicial de esquizofrenia:

Trechos dos diários de Jean-Claude Basset, cidadão francês de Biessard, com apontamentos referentes ao ano de 1889 – Sob os cuidados do Dr. Emmet Freckmann:

16 de maio - Estou doente, decididamente!

18 de maio - Acabo de consultar o meu médico.

2 de junho - Acometeu-me de súbito um arrepio, não um arrepio de frio, mas um estranho arrepio de angústia.

Apressei o passo, inquieto de estar sozinho naquele bosque, amedrontado sem razão, estupidamente, pela solidão profunda. De súbito me pareceu que estava sendo seguido, que andavam nos meus calcanhares, bem junto de mim, quase a tocar-me.

5 de julho - Terei perdido a razão? O que se passou na última noite é de tal modo estranho, que a minha cabeça fica perdida quando recordo!

Como o faço agora cada noite, eu tinha fechado a minha porta a chave; tendo sede, bebi meio copo d’água, e notei por acaso que a minha jarra estava cheia até o gargalo de cristal.

Deitei-me em seguida e caí num dos meus terríveis sonos.

Tendo enfim recuperado a razão, senti sede de novo; Ergui-a jarra, inclinado-a sobre o meu copo: nada escorreu. - Estava vazia! Tinham então bebido aquela água? Quem? Eu?

6 de julho - Enlouqueço. Beberam outra vez toda a minha água esta noite: ou antes, eu a bebi!

Mas fui eu? Fui eu? Quem? Quem seria? Oh! Meu Deus! Eu enlouqueço! Quem me salvará?

6 de agosto - Vi, distintamente, bem perto de mim, dobrar-se a haste de uma das rosas, como se mão invisível o torcesse, e depois o vi quebrar-se, como se a mão o tivesse colhido! E a flor ergueu-se no ar.

Então fui tomado de uma cólera furiosa contra mim mesmo; pois não é lícito a um homem sensato e sério sofrer semelhantes alucinações.

Mas seria mesmo alucinação?

7 de agosto - Indago comigo mesmo se não estarei louco.

Sem dúvida eu me julgaria louco, absolutamente louco, se não estivesse consciente, se não conhecesse perfeitamente o meu estado, se não o sondasse, analisando-o com uma completa lucidez. Quando muito, eu seria, afinal, um alucinado raciocinante.

8 de agosto - Passei ontem uma terrível noite. Ele não se manifesta mais, mas eu o sinto perto de mim, espiando-me, olhando-me, penetrando-me, dominando-me.

Dormi, no entanto.

14 de agosto - Estou perdido! Alguém possui a minha alma e a governa! Alguém ordena todos os meus atos, todos os meus gestos, todos os meus pensamentos. Eu nada mais sou em mim, nada mais sou que um espectador, escravizado, e aterrorizado de todas as coisas que eu faço.

17 de agosto - Nada vi a princípio, depois, de repente, pareceu-me que uma página do livro acabara de virar-se sozinha. Uns quatro minutos depois, eu vi sim, eu vi com os meus próprios olhos, uma outra página erguer-se e pousar sobre a precedente, como se um dedo a tivesse folheado.

19 de agosto - Mas que tenho? É ele, o Horla, que me habita, que me faz pensar estas loucuras! Ele está em mim, ele se torna a minha alma; eu o matarei!

Eu o matarei.

21 de agosto - Durante muito tempo julgaram-me louco. Hoje duvidam. Dentro de algum tempo, todos saberão que tenho um espírito tão são, lúcido e perspicaz quanto o dos senhores, infelizmente para mim, para os senhores e para toda a humanidade.

25 de agosto - Tudo acabado. Enfim... Mas terá ele morrido?

Não... não... sem dúvida nenhuma, sem dúvida nenhuma... ele não está morto... Então... então... vai ser preciso agora que eu me mate!

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A respeito de Jack Williams, segundo o Arkham Observer, colocado aos cuidado dos Dr. Freckman, não se pode fazer nada. Está em profundo estado de catatonia, completamente incomunicável. Ripper, Mackey e Jason não foram os primeiros a desejar vê-lo. Archibald Holmes esteve no Bishopgate mais cedo, com o mesmo propósito, também mal-sucedido.

CENA 10 – Encontro com Archibald Holmes

Em uma mansão nos arredores de Arkham, em companhia de alguns poucos empregados e cercado por objetos que revelam seu diletantismo, vive Archibald Holmes. Amparado por um auxiliar e uma bengala, o ancião revela em cada movimento a fragilidade de sua saúde. A mente por trás dos olhos cansados, porém, parece surpreendentemente alerta.

Os três visitantes revelam como sua investigação paralela chegou ao Dr. Emmet Freckmann, e que foi ele quem lhes informou a respeito da curiosidade do Sr. Holmes pelo estranho caso de Jack Williams. Aprofundando a conversa, compartilham algumas de suas descobertas, inclusive a aterradora cena no porão do Hospital Arkham.

Analisando uma fotografia tirada por Ripper, Holmes lhes diz que, seja lá quem tenha produzido aquela simbologia, o fez sob orientações contraditórias ou incompletas, agregando conhecimento esparso de fontes diversas. É impossível, portanto, discernir a real intenção do autor.

Ainda que o assunto não venha à tona com clareza, Holmes parece capacitado a sentir as estranhas vibrações que se abatem sobre Mackey. Talvez por sua sensibilidade igualmente peculiar, ele não estranha as perguntas do ancião sobre seu estado físico e mental.

Holmes afirma que o “algo” que levou Call ao suicídio pode estar tentando fazer o mesmo com Mackey. Trata-se de uma espécie de manifestação espiritual do desespero. Sim, ele pode ajudar. Conhece os meios. Em troca, afirma que pedirá, em breve, um favor. Algo que um velho como ele não tem condições de fazer. Ripper concorda, ainda que em seu íntimo tome Holmes por um excêntrico. Jason nada diz, mas especula em silêncio. Quem sabe Holmes, na ausência de Jediah, seja a pessoa que detém as respostas que ele busca? Mackey enxerga a solução dos problemas que não é capaz de resolver sozinho.

Antes que partam, um encontro é combinado para aquela noite. Para que o rito planejado surta efeito, porém, cada um deles deverá evocar o âmago de seu próprio desespero. Se o que está acorrentado a Mackey é mesmo uma manifestação desse sentimento, é necessário que a entidade agressora seja forçada a se manifestar por meio da ingestão bruta de sua fonte de alimento.

“Alguns homens encontram o Desespero quando olha no espelho, ou no momento em que seus entes são ameaçados. Outros, quando aquilo que acreditam ser a verdade é vítima de perjúrio. Há os que se desesperam diante das lacunas em sua própria existência, e os que não suportam a perda de algo, ou a derrota. Eu encontro com Desespero quando revejo momentos do meu passado. A pergunta é, quanto Desespero vocês estão dispostos a tolerar até que essa criatura se manifeste e possa ser combatida?”

CENA 11 – A Cerimônia

Na tarde que precede a cerimônia que será conduzida por Archibald Holmes, Ripper, Mackey e Jason decidem conferir o endereço que lhes foi dado. A casa, em uma das vizinhanças mais antigas da cidade, parece abandonada.

À sua maneira, cada um deles busca evocar em si o sentimento de desespero. Enquanto Mackey recorda dos fatos que viveu recentemente, Jason se concentra nas falhas de sua busca e nas lacunas de seu passado. Ripper, por sua vez, pensa nas duas filhas de seu casamento fracassado.

À noite, encontram-se todos no local combinado. Holmes explica que aquela casa um dia pertenceu a Crawford Tillinghast. Ele foi um cientista do início do século XX cujas descobertas foram profundamente perturbadoras. Tillinghast desenvolveu uma máquina que, acreditava, permitiria ver o mundo além dos sentidos humanos normais. Ele acabou morrendo de apoplexia, um coma súbito causado pela efusão de sangue no cérebro ou medula espinhal. Na noite em que isso ocorreu, ele haveria de demonstrar o funcionamento da máquina a um amigo, Arnold Hathorne.

Tillinghast foi encontrado morto, e Hathorne, desmaiado, com uma arma na mão. Esse último atirou na máquina antes de perder os sentidos. O equipamento foi recolhido, e acabou desaparecendo anos mais tarde. Hathorne disse que foi hipnotizado de alguma forma. Tillinghast ainda seria difamado depois de morto, acusado do assassinato de três de seus empregados, ainda que os cadáveres jamais tenham sido encontrados.

No sótão onde o ocorrido se deu, Holmes pretende executar o ritual. O ancião acredita que, de alguma forma, aquele evento quase cem anos no passado tornou o local propício para a comunicação espiritual. A cada um dos presentes ele entrega um tablete branco de mescalina. Em seguida, acende dois lampiões e inicia a entoação de um monótono cântico. Mesmo desconfiados, Jason, Mackey e Ripper seguem a instrução para acompanhar as palavras. Na primeira meia-hora, nada acontece. Depois, quando o alucinógeno começa a fazer efeito, a escuridão parece se adensar. Em um dos cantos, um vulto de aparência idêntica a Mackey, mas com os pulsos cortados e sangrando, é visto por todos. Com a mão livre, o estranho toca a cabeça de seu duplo. Na mão livre, leva um bisturi.

A visão atemorizante faz com que Jason perca a melodia, enfraquecendo o ritual. Ripper, entretanto, mantém uma concentração pétrea, o que contribui para que Holmes consiga exercer controle sobre a entidade, ainda que de forma vacilante.

Enquanto isso, Mackey recebe o bisturi, e em sua batalha individual, luta contra o impulso de cortar os próprios pulsos. O aço cirúrgico chega a penetrar sua pele, mas não o bastante para machucá-lo seriamente. Lentamente, porém, a vontade dos quatro homens supera a da entidade, que desvanece.

Enquanto o ritual se realizava, todos perceberam que Jason também estava vinculado a alguma força externa, mas cuja natureza, abstrata ou alienígena, não pôde ser compreendida. E o bisturi que a entidade repassou para Mackey permanece após sua dissipação.

Extenuados, percebendo que já amanhece, os quatro deixam a casa de Crawford Tillinghast. Holmes pede que o procurem assim que se sentirem capazes e desejosos disso.
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 11 Abr 2008, 10:56

Comentários do Narrador:

Finalmente, o sobrenatural irrompeu no cenário. Ao contrário do capítulo anterior, onde as ações dos personagens tinham um fim investigativo “mundano”, aqui houve a presença inquestionável do aspecto fantástico do cenário. Ou será que não?

Meu propósito nesse capítulo foi apresentar a possibilidade dos personagens questionarem os eventos com os quais travam contato. Sim, Mackey percebeu fantasmas na casa de Catherine Call e no Hospital Arkham. E Jason viu uma manifestação de Sedução do Suicídio (esse é o nome do espírito antagonista) em sua casa. Os personagens, inclusive, têm capacidade para tanto.

Por outro lado, nenhuma dessas situações gerou informações que eles já não tinham, ou, nenhuma delas sairia do escopo de uma explicação lógica, ainda que dura: esquizofrenia. Sim, os jogadores pagaram para possuir essas capacidades. Entretanto, estamos tratando do oculto e do sublime, e eles não exigem resoluções lógicas para funcionar. Pelo contrário. Na ausência de tais parâmetros, se fortalecem.

A dúvida que permeia as capacidades sobrenaturais dos personagens é apenas mais um ingrediente para reforçar a aura de mistério que é própria do Mundo das Trevas. A verdade é que Jason e Mackey nunca saberão quando estão alucinando, e quando estão tendo uma percepção do “real”. Pode parecer injusto, considerando o custo de pontos de personagem envolvido, mas serve muito bem ao propósito de um cenário de Horror Sobrenatural.

E quanto a Ripper? Bem, seu ceticismo se mantém inabalável. Tem motivos para tanto. Por mais que ele também tenha tido visões, estava sob os efeitos de mescalina, o que, notoriamente, produz tais fenômenos. A dúvida a respeito das próprias capacidades sensoriais é muito importante, e o alucinógeno fez parte do ritual com esse único propósito.

O bisturi usado por Sedução do Suicídio, que ficou em posse de Mackey ao final da cerimônia descrita na última cena, ainda não teve seu propósito ou capacidade definidos. Sequer sua permanência no mundo físico está garantida.

Uma percepção importante a respeito desse capítulo diz respeito à necessidade de construção de um clima adequado para a correta exposição dos eventos. Trata-se da mesma diferença entre ler um conto de Poe iluminado apenas por uma lâmpada e em um ônibus lotado. Algumas impressões simplesmente se perdem, ou deixam de funcionar, pela incapacidade de apreensão total do conteúdo exposto.

Durante o jogo falhei em alguns momentos na construção desse clima. O resultado foi uma atuação, por parte dos jogadores, aquém do potencial da cena. Além disso, alguns trechos poderiam ser prolongados, para extrair toda sua essência. Quando os personagens tentam evocar o próprio desespero foi uma dessas situações. Nada que tenha comprometido o todo, mas, certamente, problemas a serem corrigidos nos próximos encontros.

As referências usadas nesse capítulo foram os contos O Horla, de Guy de Maupassant, e Do Além, de H. P. Lovecraft. Ambos são de fácil acesso, e aqueles que já os leram não terão dificuldade para discernir os trechos ao longo da narrativa.
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Mensagempor Hentges em 15 Abr 2008, 10:35

Os fatos, segundo Ripper Moore:

Há muito mistério no ar em relação aos fatos ocorridos nos últimos dias com o meu mais novo cliente, mesmo ele não sabendo disso.

Talvez Mackey fosse apenas mais uma vítima de pessoas poderosas, tentando sobreviver às custas de outras vidas, como sanguessugas.

Num primeiro momento, talvez... mas depois do quebra-cabeça resolvido, parece que as perspectivas mudaram totalmente.

Um rim, símbolos arcanos num cenário sinistro, suicídio e vários fatos sem nexo que ligam nada a lugar algum, a não ser dogmas de fé já há muito esquecidos pela humanidade.

Não sei exatamente onde isso vai dar, mas parece que há algo grande por trás disso. Apesar de meu ceticismo em relação às coisas que vi no tal ritual, creio que esse filme de terror ainda vai acabar com um final natural. "Os mocinhos prendem os bandidos".

Não sei o que vi, mas sei que estava drogado o suficiente para ter visto. Empenhei minha palavra e agora estou em dívida até que resolvam utilizá-la.

Apesar de não acreditar, melhor estar pronto para não sucumbir a um inimigo invisível. Estudarei os tais rituais e línguas mortas para não perder nenhum detalhe de qualquer coisa nova que apareça sobre esse caso, pois, para mim, ainda não está encerrado.
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Mensagempor Hentges em 13 Mai 2008, 17:03

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Capítulo 03 – As Qualidades da Ruína

No qual a morte se apresenta como uma entidade de múltiplas facetas, todas aptas a imprimir marcas profundas.

PRELÚDIO:

Passam-se alguns dias desde o encontro com Archibald Holmes. Seja qual for a explicação para os eventos testemunhados na última semana, que culminaram no ritual realizado na antiga propriedade de Crawford Tillinghast, é certo que se criou um laço entre os personagens. As conseqüências dessa relação, porém, ainda são incertas. Motivados pela dívida de gratidão contraída junto a Archibald Holmes, todos concordam em manter contato.

Nos últimos dias, a vida seguiu seu rumo natural. Catherine Call foi sepultada em uma cerimônia discreta, onde alguns familiares distantes, amigos e funcionários do Hospital Arkham compareceram – entre eles o Dr. Emmet Freckmann. Seu nome não foi mencionado nas investigações a respeito do ataque sofrido por Lucas Mackey. Aparentemente, a polícia está satisfeita com a confissão assinada por Jack Williams, que continua internado em estado catatônico no Hospital Psiquiátrico Bishopgate, em Arkham.

Heidrich Müller deu poucas notícias. Mencionou apenas que estava trabalhando com uma pesquisadora da Universidade de Harvard, ao sul de Arkham, chamada Rachel Wood. Ele não fez mais contato desde então.

Ripper Moore voltou a Detroit. Tinha assuntos pessoais a resolver. Sua chegada, porém, ocorreu em momento de águas turbulentas. Descobriu que a jovem Alicia Skyes morreu em um acidente de carro poucos dias depois de ser trazida pelo pai, Donald, que o contratara para encontrá-la. Segundo as notícias a respeito do assunto, a garota jogou o carro contra um caminhão.

Lucas Mackey resolveu se distrair ganhando algum dinheiro. O jogo não é uma das especialidades do estado de Massachusetts, mas existem algumas reservas indígenas com concessão para cassinos. Lá, e entre os lençóis de Marion, é onde ele passou a maior parte de seus dias. A prostituta, porém, está preocupada. A polícia de Arkham sabe que Jack Williams era freqüentador do Suffragette, e está fazendo perguntas. Ela teme que, em breve, o ocorrido na noite em que Williams foi interrogado venha à tona. Além disso, o bisturi que ficou em suas mãos na noite do ritual conduzido por Archibald Holmes continua entre os seus pertences.

Jason Englund não conseguiu encontrar Archibald Holmes e lhe fazer as perguntas que os eventos recentes suscitaram. Suas visões, porém, tem se tornado mais freqüentes. E estão relacionadas àquele bisturi que ficou em posse de Mackey ao final do ritual conduzido por Holmes. Além disso, suas capacidades precognitivas o têm feito visitar, em seguidas visões, uma estrada ao sul de Arkham. Esses eventos, porém, devem esperar. Uma clara mensagem de Jediah foi recebida, e ele deve averiguá-la.

CENA 01 – Archibald Holmes cobra um favor

Passada uma semana desde seu último e peculiar encontro, Ripper Moore e Lucas Mackey têm pouco a dizer um ao outro. A natureza bizarra dos eventos que os uniu parece impedir qualquer possibilidade de uma conversa casual. Resta apenas observar o ambiente ricamente decorado.

A espera não se estende demais. Amparado por Cedric, Archibald Holmes recebe seus convidados. É perceptível uma melhora em seu estado de saúde. Logo após os cumprimentos iniciais, ele lamenta a ausência de Jason Englund, a quem ele fora incapaz de localizar. Ripper e Mackey, sutilmente, dão mostras de que a falta não será lamentada.

Antes de entrar em detalhes, Holmes lhes apresenta um recorte do Boston Globe, publicado cinco dias antes:

Boston Globe – 19/03/2008
Esqueleto encontrado em mansão de Boston


A demolição de uma mansão, localizada na Rua Noyes, 633, foi suspensa quando, na tarde de ontem, um esqueleto foi descoberto atrás de uma parede de tijolos, no porão.
A polícia removeu os restos mortais sob a supervisão do legista, Dr. Ephraim Sprague. Ele acredita que o esqueleto pertença a uma mulher idosa, mas nenhuma identificação foi realizada. Roupas e algumas jóias também foram encontradas.
Fragmentos adicionais de ossos também teriam sido encontrados, mas a polícia não confirma a descoberta. Um porta-voz da Incorporadora Beckworth, proprietária da mansão, informou que a demolição, iniciada há dois dias, está suspensa até as conclusões da investigação.
O proprietário anterior, Jason Checkley, faleceu na última semana, no Centro Médico de Boston, vítima de parada cardíaca. Viúvo, não deixa herdeiros.
Segundo informações da Incorporadora Beckworth, a mansão foi adquirida há dois anos por uma soma não revelada. A única exigência de Jason Checkley foi passar seus últimos anos na propriedade da família.
A polícia esteve em contato com Willard Crossman, amigo e testamenteiro de Checkley, mas o resultado do encontro não foi divulgado. Hospitalizado no Centro Médico de Boston após ter sofrido um derrame, Crossman não recebeu permissão dos médicos para entrevista.


Jason Checkley foi um amigo de quem esteve afastado nos últimos anos, explica Holmes. Entretanto, ele foi responsável pelo financiamento do Instituto de Pesquisa Paranormal de Boston, um sonho que Checkley foi capaz de levar adiante por apenas dois anos. Apesar do insucesso, ao longo de toda a vida ambos compartilharam interesses de pesquisa. A súbita morte do amigo, e o estranho fato sucedido em sua residência, aguçou a curiosidade de Holmes. Incapacitado pela idade, não pode ele mesmo descobrir mais a respeito do assunto.

Mackey e Ripper se mostram contidos diante do pedido. O primeiro, secretamente, antecipa novos e terríveis desdobramentos ao curso da aparente singela tarefa. O segundo externa o alívio por poder saldar a dívida que contraíra ao empenhar sua palavra.

De posse de um cartão eletrônico que lhes custeará as despesas, partem na direção de Boston, 40 quilômetros ao sul de Arkham. A viagem é quase toda costeira, por um perímetro urbano. Após atravessar Swampscott, uma pequena comunidade rural a caminho de Lynn, Ripper e Mackey finalmente chegam à região central da capital do Estado de Massachusetts.

CENA 02 – Ambientação

A primeira providência de Ripper e Mackey, depois de arranjarem quartos de hotel, é consultar os jornais. Considerando que o recorte apresentado por Holmes datava do dia 19, é bastante provável que novos eventos poderiam representar pistas para sua investigação. Em uma edição do Boston Globe daquele dia, Mackey se depara com uma pequena nota na página policial. A investigação a respeito do cadáver encontrado, sob o comando do detetive Michael Harrigan, divulgou a foto de um colar, uma das jóias que estavam junto ao esqueleto no porão da Mansão Checkley.

Mackey reconhece a peça imediatamente. Trata-se de parte de um conjunto, completado por dois braceletes, utilizados em cerimônias de adoração de tribos africanas ao deus Ahtu, na região central do continente. É compreensível que a polícia não as tenha apresentado juntas. Unidas, formam a imagem de seres humanos e criaturas bestiais cometendo atrocidades em uma paisagem selvagem.

Em seguida, os dois partem até o endereço fornecido pelo Boston Globe. Da mansão, restam apenas as fundações. Pedaços da antiga alvenaria, recolhidos parcialmente, cobrem boa parte do porão onde os restos mortais foram encontrados. Devastada, a paisagem é guardada por um oficial de polícia e algumas faixas, recomendando que os curiosos contenham o ímpeto motivado pelas notícias recentes.

Cientes de que, sob a supervisão policial, não conseguirão visitar o local com o tempo e tranqüilidade necessários, Mackey e Ripper decidem voltar na noite seguinte.

CENA 03 – Visita ao Hospital

Na manhã seguinte, Ripper e Mackey se dirigem ao Centro Médico de Boston. Alegando representar Archibald Holmes, de Arkham, não têm dificuldade para serem recebidos por Willard Crossman. A conversa entre eles se dá em meio à fumaça de charutos. Aos oitenta anos e recente vítima de um pequeno derrame cerebral, Crossman parece recuperado. Entretanto, a doença e a idade avançada parecem tê-lo convencido de que alguns pequenos prazeres não podem ser relegados em favor de uma vida mais saudável.

Muito próximo de Jason Checkley até sua morte recente, eles tiveram inúmeras conversas a respeito do sobrenatural e do oculto. Firmemente cético, Crossman sempre descartou as possibilidades defendidas pelo amigo. Ele sempre suspeitou que parte dessas crenças fosse resultado da influência de uma charlatã de nome Mildred Estheridge, sua sócia no Centro de Pesquisa Paranormal. Particularmente, Crossman sempre achou que ela apenas estava interessada em seu dinheiro. Eles se distanciaram depois que o Centro fechou e o dinheiro acabou.

Willard Crossman lembra de seu amigo ter mencionado algumas vezes o nome de Archibald Holmes. Holmes queria encontrar-se para tratar de assuntos particulares que envolviam o financiamento do Centro de Pesquisa Paranormal de Boston. Por algum motivo, Checkley parecia sentir um misto de admiração e aversão pelo amigo de Arkham. O interesse de Holmes pelos fatos recentes, ainda que o surpreenda, parece não interessá-lo.

A respeito do espólio de Jason Checkley, pouco pode fazer para acrescentar. Os móveis foram adquiridos por uma empresa especializada, Billinger’s, e a biblioteca, arrematada por Albert Winslow, proprietário de uma loja de livros usados que leva seu nome.

Preocupado com a reputação do falecido amigo, garante que Jason Checkley jamais seria capaz de assassinar uma pessoa, quanto mais esconder seu cadáver em um porão. Willard Crossman nada sabe do assunto.

CENA 04 – A biblioteca de Jason Checkley

Albert Winslow adquiriu os livros da biblioteca do falecido Jason Checkley em sua totalidade. Mais de três mil volumes, ainda a espera de catalogação e análise cuidadosa antes de serem disponibilizados para venda. É essa a única informação que – por trás dos óculos apoiados pela ponta do nariz – ele tem a fornecer. Com a promessa de que pensarão na possibilidade de vasculharem as caixas, tarefa que tomará dias, Ripper e Mackey partem.

CENA 05 – Segredos dentro de segredos

Naquela madrugada eles têm a oportunidade de confirmar sua previsão a respeito da segurança nos arredores da Mansão Checkley: nenhum policial à vista. Munidos de uma lanterna, Mackey e Ripper adentram o porão parcialmente coberto por destroços. Em uma das paredes, faixas policiais tentam preservar a integridade do local onde o esqueleto foi encontrado. Trata-se de uma pequena câmara, descoberta por acaso, após um desabamento acidental. No chão lamacento, Ripper encontra um pedaço de unha, e mais adiante, pegadas de duas crianças. Dentro do cubículo, ele deduz onde os restos mortais estavam depositados, e faz nova descoberta. Junto à base de uma das paredes, um túnel escavado recentemente leva a um ponto mais subterrâneo da construção. Após abrir caminho com as mãos, o detetive é abalado pelo odor nauseabundo da passagem. Ele tem certeza de que os peritos teriam visto aquele buraco mal disfarçado quando recolheram o corpo, o que significa que alguém esteve no local entre a polícia e eles.

Mackey, que até o momento apenas observava, decide ir até o carro pegar um pedaço de corda para que Ripper possa descer. Subitamente, lhe assalta a sensação de estar sendo observado. Temendo que a invasão possa estar sendo observada por algum vizinho desocupado, Mackey dá uma volta pelos arredores. Não descobre nada, e a sensação desaparece. Mas o nervosismo permanece. O ruído que faz ao descer até o porão é o bastante para que Ripper o receba de arma em punho.

Após amarrar a corda a uma pilastra, o detetive desce. A inclinação da passagem não permite que ele veja o fundo, e o contato com a terra lamacenta e o cheiro pavoroso contribuem para sua inquietação. Após cerca de três metros, ele atinge o fundo. O buraco foi escavado no teto, a partir de uma série empilhada de pedras que ruíram das paredes, provavelmente resultado do mesmo processo de demolição que revelou a câmara superior. Enquanto Mackey desce, o detetive analisa uma pesada porta de metal, repleta de marcas. Unhas de criança, como aquela junto aos entulhos, são encontradas.

Sem nenhuma fonte de luz além da pequena lanterna, Ripper utiliza o flash da câmera fotográfica para revelar o ambiente. O conjunto de imagens é terrível. No chão, próximo ao desenho de um caixão encimado por uma cruz, está um esqueleto. Segundo Mackey, a imagem pintada com tinta branca remete ao símbolo do loa Barão, a entidade do vodu que governa a morte e os mortos. Ele é o primeiro contato de uma pessoa após a morte. Entre os seus poderes está o de proteger as crianças. Nesses casos, Barão recebe uma oferenda, que fica de posse da criança a ser protegida, e é o símbolo dessa relação. Quanto ao esqueleto, Ripper estima pertencer a um homem, com entre 12 em 15 anos. É impossível dizer a quanto tempo está ali sem uma análise laboratorial.

Vasculhando o ambiente por uma última vez, encontram um pedaço de algodão azul, tecido que foi parte de uma peça de roupa, e um relógio de bolso com uma inscrição gravada: ao nosso querido filho.

CENA 06 – Pesquisa

Naquela noite, Mackey e Ripper levam adiante a pesquisa a respeito da família Checkley. Descobrem a datas de suas mortes e local de sepultamento:

- Nov 19, 1976 - Rose Checkley morre vítima de câncer pancreático.
- Abr 1-6, 1978 - Rosemary (15), Adam (13) e Jessica (9) Checkley morrem vítimas de Hantavirose.
- Mar 12, 2008 - O óbito de Jason Checkley, vítima de um ataque cardíaco.
- Todos os óbitos indicam que os corpos foram enterrados no Cemitério Católico de Boston.

Além disso, encontram notícias a respeito do Instituto de Pesquisa Paranormal de Boston, mencionado por Archibald Holmes.

Boston Globe – 28/08/1982
Escola de Paranormalidade inaugurada em Boston


O diretor Jason Checkley anunciou hoje o início das atividades do Instituto de Pesquisa Paranormal de Boston, especializado na pesquisa de “fenômenos espirituais e extraordinários”. Localizado no segundo andar da Rua Brown, 623, o local contém um biblioteca com 2 mil volumes, espaço de estudos e um pequeno auditório. Salas para convidados, ainda sendo estruturadas, oferecerão espaço extra para os interessados.

Boston Globe – 23/11/1985
Instituto de Pesquisa Paranormal fecha as portas


O Instituto de Pesquisa Paranormal de Boston, desde sua fundação dirigido por Jason Checkley, acaba de fechar suas portas. A co-diretora da instituição, Mildred Estheridge, atacou o crescente ateísmo dos tempos modernos para justificar o encerramento de atividades. Ela afirmou ainda que em breve se realizará o leilão da mobília do instituto, visando o pagamento de débitos. O fundador, Jason Checkley, manterá a maior parte da biblioteca da fundação.


Na manhã seguinte, ambos se dirigem ao Ateneu de Boston. Fundado em 1807, trata-se uma das maiores bibliotecas independentes dos Estados Unidos, com cerca de 500.000 mil volumes, distribuídos por cinco andares, além de uma galeria de arte e espaço para exposições.

Lá eles encontram um livro chamado A Religião e os Ritos do Vodu, publicado em 1987 por A. M. Asher. O volume trata de religião, zumbis, rituais e possessão, além de explicar alguns conceitos básicos a respeito da religião:

No vodu haitiano acredita-se, de acordo com tradição africana difundida, que há um Deus que é o criador de tudo, chamado de "Bondje" (do francês "bon Dieu" ou "bom deus"). Embora os praticantes do vodu professem a crença num distante Deus supremo, as divindades efetivas são um grande número de espíritos denominados loa, que podem ser aparentados a santos católicos, ancestrais endeusados ou deuses africanos. Muitos adeptos urbanos acreditam que os loas podem ser benévolos, os loas Rada, os quais se ligam aos indivíduos ou famílias como anjos da guarda, guias e protetores, ou mesmo malévolos, os loas Petro. Essas divindades comunicam-se com os fiéis por meio de sonhos ou deles tomam posse durante cerimônias rituais.

Em um capítulo intitulado “Os Praticantes”, há uma foto de um colar muito parecido com aquele divulgado pelo Boston Globe. Mais adiante, em uma foto datada de 1968, há a imagem de 3 pessoas aprisionadas. Os dois homens e a mulher são identificados como assassinos presos em Nova Orleans. A mulher é identificada como Marsella. O livro afirma que ela fugiu antes do julgamento, e que seus dois companheiros foram encontrados mortos em suas celas por causas indeterminadas.

Na foto em que aparece sendo presa, Marsella está usando o colar e os braceletes encontrados pela polícia no porão da Mansão Checkley.

CENA 07 – Mais um pouco do passado


Mildred Estheridge vive sozinha em um pequeno apartamento de classe média. Sua única companhia é um gato, que observa atentamente aos visitantes enquanto ela esquenta uma chaleira d’água para um chá. Boa parte da decoração remete ao seu forte espiritualismo. Ela foi amiga de Jason Checkley, e dessa amizade e das crenças compartilhadas surgiu o Centro de Pesquisa Paranormal de Boston.

Aos setenta anos, ainda fala com prazer a respeito do passado. Segundo ela, Checkley ficou arrasado pela perda da esposa e dos filhos. Apesar das seguidas tentativas e da crença de ambos, nunca foram capazes de contatar os seus espíritos. Ele sempre esteve mais interessado em magia primitiva, especialmente no que dizia respeito ao renascimento dos mortos. Uma manifestação de sua tristeza, certamente, afirma Estheridge.

Em apenas uma oportunidade ela encontrou Archibald Holmes, logo que o Instituto de Pesquisa Paranormal iniciou suas atividades. Um homem muito reservado, com uma compreensão profunda do ocultismo. Foi apresentado por Checkley como um amigo com um passado em comum. Ambos perderam a esposa e filhos em circunstâncias trágicas.

Ela refuta terminantemente qualquer acusação de que tenha se aproveitado da fortuna de Checkley. Estheridge colocou muito mais dinheiro do que ele no Instituto. Naquela época, as economias do amigo já estavam minguando. Ele não sabe nada a respeito da mansão, e esteve no local apenas duas vezes depois da morte de Rose – “um lugar emporcalhado e desordenado”.

Apesar da conversa amistosa, Ripper se descontrola diante da aparente ausência de fatos mais substanciais a respeito dos cadáveres. Espera uma pista concreta, ou alguém que refute completamente os estranhos eventos que parecem cercá-lo recentemente. Socando uma mesa, o detetive deixa a Senhora Estheridge à beira de um colapso. Ela se retira por um instante para trazer o chá, e quando retorna, afirma que ninguém, além dela, foi capaz de compreender a dor de Jason Checkley ao perder toda a família. Tanto que ele lhe deu uma prova de confiança nessa amizade.

Atendendo a um pedido de Checkley, ela guarda há muitos anos a chave de uma caixa depositada no Bank of America. Estheridge também possui uma procuração assinada por Checkley dando poderes para que o seu portador resgate o conteúdo após a sua morte. Desde o falecimento, ela tem pensado todos os dias naquela chave. Diante das revelações de Mackey e Ripper, ela compreende que não deseja saber mais do que já sabe a respeito do amigo. Estheridge entrega os itens aos seus visitantes, e pede para nunca mais vê-los.

CENA 08 – Retorno à mansão

Naquela madrugada, Mackey e Ripper decidem voltar à Mansão Checkley. Munidos de lanternas mais potentes e pés-de-cabra, pretendem vasculhar com cuidado o local, além de arrombar a porta de metal encontrada no subterrâneo.

A busca, porém, se mostra infrutífera ao não produzir novas informações. A porta do subterrâneo apenas leva a um lance de escadas parcialmente soterrado pelos escombros da demolição. A entrada original da câmara, portanto, estaria coberta pelos entulhos do porão.

Algo decepcionados, Ripper e Mackey deixam o local. Após cruzar as faixas da polícia, o detetive vê, no alto do monte de entulhos, uma criança. Atordoado pelas possibilidades macabras das revelações recentes, ele aponta a lanterna e a arma na direção da menina, que corre. Obrigado a escalar o monte de entulho, ele a perde de vista. Na rua, grita o nome de Jessica, a filha mais nova de Jason Checkley, morta há 30 anos.

CENA 09 – O Cemitério Católico de Boston

Da mansão destruída até o Cemitério Católico, em Dorchester, subúrbio de Boston, são cerca de trinta minutos. Ainda que não saibam exatamente o motivo da visita, Mackey e Ripper sentem que algo pode ser descoberto lá.

Cercado por muros, o local é de incursão simples. Mackey salta um portão com extrema facilidade, mas Ripper não demonstra a mesma desenvoltura. O bater das grades atrai um segurança. O policial aposentado, algo preguiçoso, não se esforça demais, e a luz de sua lanterna não passa perto das sombras que abrigam os invasores.

Andando com cuidado por entre estátuas e jazigos do antigo cemitério, procuram o mausoléu da família Checkley. Ripper vence o cadeado com facilidade, enquanto Mackey toma o cuidado de repor a corrente para evitar suspeitas.

No local estão sepultados os corpos de Jason, Rose, Rosemary, Adam e Jessica Checkley. Uma placa nomeia alguns membros da família cujos restos mortais já foram remanejados, cujas datas remetem ao século XVIII.

Ambos suspeitam de que não encontrarão corpos nos esquifes reservados aos filhos de Jason e Rose. Entretanto, a dúvida deverá persistir. É impossível vencer a barreira de mármore e tijolos sem alertar a segurança.

CENA 10 – Interlúdio

Certos de que a biblioteca de Jason Checkley pode conter mais respostas a respeito do mistério, Mackey e Ripper recebem autorização de Archibald Holmes para realizar a compra em seu nome. O patrono fica intrigado com as informações relatadas.

Após fechar a transação e acomodar os volumes em uma pequena sala que servirá de base para o início das pesquisas, Ripper e Mackey se dirigem ao Bank of America.

De posse da chave do cofre e da procuração entregue por Mildred Estheridge, não têm dificuldades para acessar o conteúdo depositado na instituição. Além de algumas páginas do diário de Jason Chekley e seu último desejo, a caixa contém diversas fotos de Rosemary, Adam e Jessica.

Na foto, um Adam muito jovem brinca com o mesmo relógio encontrado no porão da Mansão Checkley. Jessica e Rosemary, fotografadas no mesmo momento, exibem seus presentes, um colar e um bracelete, respectivamente.

Trechos do Diário de Jason Checkley

Abr 07, 1978: Marsella concordou. Eu lhe pagarei os $ 2.500 que pediu. Ela afirma saber como trazer minhas amadas crianças de volta. Dispensei os empregados pelos próximos dias e preparei o porão conforme suas instruções.
Abr 08, 1978: O mais horrendo dos dias. Quando percebi o que ela havia feito, perdi a cabeça. Fechei minhas mãos em torno de seu pescoço e a estrangulei como a uma de suas galinhas. Quando recuperei os sentidos, ela estava morta. Graças a Deus, pude contar com a ajuda de Willard.
Abr 09, 1978: Os caixões foram enterrados hoje em nosso mausoléu. O que farei com eles?
Eu escondi o corpo de Marsella, bem como as suas ferramentas.
Abr 10, 1978: O seu apetite é tremendo. Eu os alimentos regularmente, mas eles não demonstram sinais de tentar se comunicar comigo. Eu não sinto que possa confiar neles.
Abr 11, 1978: Eu demiti os empregados. Enquanto aqueles três estiverem no porão, preciso de absoluta privacidade. Pretendo reforçar a entrada de sua câmara para prevenir-me de todas as formas.
Abr 12, 1978: Um deles me atacou hoje. Foi Adam. Eu havia pegado uma tigela de comida, quando ele investiu contra mim. Apenas por sorte consegui afastá-lo e escapar da sala. Sou forçado a tratá-los como animais selvagens.
Abr 13, 1978: Talvez eles não possam ser curados. O secreto de sua recuperação deve estar escondido. Irei salvá-los. Nas minhas ações, e não nessas páginas, espero resolver o meu problema daqui para diante.

O Último Desejo de Jason Checkley - 1º de Janeiro de 1979

Eu, Jason Checkley, assumo toda a responsabilidade pela morte da serva haitiana chamada Marsella. Vitimado por ela de forma terrível, eu perdi o controle e a estrangulei com minhas próprias mãos.
Em meu porão eu deixei as três coisas – coisas perigosas – que precisam ser destruídas. Ainda que pareçam humanos, não o são. Não tenha pena deles. Desconheço forma de destruí-los. Não sucumbem à fome, e eu desconheço formas de vencer o mal que as anima.
Que Deus tenha piedade de minha alma.
Assinado: Jason Checkley


Por trinta anos Jason Checkley manteve trancado em seu porão um segredo que não pode morrer, e agora, algo estava à solta em Boston.

CENA 11 – A verdade mata

Willard Crossman estava implicado nos acontecimentos, e nada impediria Ripper e Mackey de arrancar as informações que precisavam. A recepção calorosa logo é substituída por um diálogo duro, onde os visitantes cercam o anfitrião, antecipando suas mentiras, terminando suas frases, completando o seu raciocínio.

A verdade é que, em 1978, após perder os três filhos em um período de uma semana, vítimas de Hantavirose, Checkley ruiu. Devastado, ele pediu a ajuda de uma mulher que se dizia capaz de reverter a situação. Empregada de Crossman, Marsella era uma feiticeira Vodu, vinda do Haiti. Enlouquecido, ele assassinou a mulher e, com a ajuda de seu antigo empregador, Willard Crossman, emparedou o cadáver. Crossman disse a todos que a mulher havia sido pega roubando, e fora demitida. Nunca mais se tocou no assunto.

Crossman afirma que seu amigo foi frustrado pelas promessas vazias de Marsella, e diante de seu fracasso, perdeu o controle. Ele o ajudou sim, e não se arrepende de ter procedido em favor de alguém que agiu sob efeito da dor extrema. Entretanto, quando Ripper e Mackey afirmam que o ritual pode, sim, ter dado certo, e que durante 30 anos seu querido amigo escondeu criaturas nem vivas nem mortas no porão, e que essas coisas estão a solta na cidade, o homem desmorona.

As palavras de Ripper e Mackey, as fotos do porão da Mansão Checkley, suas palavras no diário... seu efeito é devastador. O ceticismo de Crossman é desafiado além da compreensão, e a saúde frágil protesta contra aquilo. Mesmo após os esforços da equipe médica, Willard Crossman sucumbe, e não há como Mackey e Ripper não se sentirem parcialmente responsáveis por aquilo.

CENA 12 – Entre livros e jornais

Os dias seguintes são totalmente dedicados à pesquisa nos volumes da antiga biblioteca de Jason Checkley. Os cerca de 3 mil livros tem organização esparsa. Algumas informações, porém, vêm à tona:

- As páginas seguintes às inserções entre 7 e 13 de abril de 1978 fazem inúmeras menções a algo que Checkley sempre se refere como “o problema” ou “o meu problema”.
- Existem diversas passagens em que ele trata da abertura e fechamento do Instituto de Pesquisa Paranormal e seus objetivos envolvendo práticas que abordam o renascimento dos mortos.
- Mildred Estheridge é citada diversas vezes, sempre de maneira respeitosa.

Além disso, os livros mencionados em uma nota são encontrados:

Trecho do Diário de Jason Checkley – 02/07/1984

Meu pacote chegou hoje de Londres. Os dois livros que recebi estão em melhor estado do que imaginava. Serei sempre grato a Mildred por aprovar essa despesa. Os dois volumes certamente irão melhorar a biblioteca. Ambos parecem conter muita informação relacionada ao meu problema.
Um, o Nyhargo Codex, traduz entalhes em uma parede ancestral encontrada na África central. A precisão dessas traduções foram objeto de comentários ruidosos em círculos acadêmicos, e tem relação demais com o Vodu haitiano para ser apenas a imaginação de um excêntrico. Questões não respondidas circundam a súbita morte do autor. Dizem que apenas ele conhecia a localização exata das ruínas onde as inscrições foram encontradas.
E há o Cânticos de Dhol. É bastante técnico, e conheço pouco sobre música. Apesar disso, ele pode conter algo interessante.

O Nyhargo Codex – Escrito em 1879 pelo arqueólogo amador Liam Waite, ele trata das suas supostas descobertas na África central. Segundo o texto, ruínas monolíticas estariam escondidas nas florestas da, hoje, República do Congo. O volume trata das inscrições encontradas nas profundezas dessa ruína. O texto faz menção a uma divindade obscura chamada Ahtu, adorada por algumas tribos da África Central. No meio acadêmico, o livro de Waite sempre foi considerado uma falsificação grosseira, até porque as tais ruínas nunca foram encontradas. Ele foi o único sobrevivente de sua expedição, e pouco após a publicação, se suicidou atirando-se em uma plataforma de trem. Esses fatos, mais do que seu conteúdo, seriam os grandes contribuintes para a fama do livro.

Cânticos de Dholl – Escrito por Heinrich Zimmerman em 1921, o volume trata da complexidade rítmica da música do Oeste da África. O livro elabora uma teoria musical a partir da música ritualística de algumas tribos da região, contendo exemplos de canções.


Algumas notícias publicadas pelos jornais ao longo desses dias completam as pistas para que Ripper e Mackey decidam o curso das próximas ações.

Boston Globe – Tentativa de roubo à delegacia de polícia - 29/03/08
Um homem não identificado, duas noites atrás, tentou forçar sua entrada até a sala de provas da 14ª Delegacia de Polícia de Boston. Antes que pudesse ser detido, o criminoso fugiu. Ele foi descrito como um afro-americano, com cerca de 1,80m, calvo e de porte atlético. Responsável pela 14ª DP, o comandante Nicholls afirmou que os cidadãos que suspeitarem da presença desse homem em suas vizinhanças devem contatar imediatamente as autoridades.

Metro Boston News – Vândalos violam cemitério - 30/03/08
Na madruga de ontem, uma ou mais pessoas desconhecidas entraram no Cemitério Católico de Boston e violaram um esquife recém sepultado. Quando descoberto, o caixão estava completamente exposto. Os responsáveis pelo cemitério garantiram que o conteúdo foi devolvido ao seu local original. Os polícias não têm suspeitos, mas informou que trotes de fraternidades costumam ocorrer nesse período, sendo a possível causa do ocorrido.

Metro Boston News – Sem-teto sofre ataque - 30/03/08
Um homem identificado apenas como Joe deu entrada na madrugada de ontem no Hospital Geral de Massachusetts com lacerações no rosto e no pescoço. A polícia o encontrou entre as ruas Garrison e River, próximo ao Porto de Boston, gritando por socorro. Nenhum perseguidor foi avistado. Ele foi rapidamente removido para tratamento de emergência. Joe afirmou ter sido atacado por uma jovem que primeiro tentou beijá-lo e depois o mordeu no pescoço. O homem não foi capaz de fornecer endereço fixo. A polícia presumiu que o indigente, dormindo em um beco, foi atacado por um rato ou cão de rua.

Boston Globe – Assassinato em armazém – 31/03/08
Trabalhadores descobriam, na manhã de ontem, um cadáver. O corpo, ainda não identificado, foi encontrado próximo a Transportadora Trevo da Sorte, na região do Porto de Boston. Segundo a polícia, o homem foi vítima de violência, sendo a perda de sangue provocada por ferimentos no rosto e na garganta a provável causa da morte. As investigações continuam.


Mackey e Ripper concluem que mais alguém está atrás de informações a respeito do caso. Além disso, “as crianças” estão atacando e fazendo vítimas. Uma medida extrema deve ser levada a cabo.

CENA 13 – Atividade portuária

Aguardando uma oportunidade para confrontar o que quer que tenha atacado os sem-teto da região do porto de Boston, Mackey e Ripper armam uma tocaia. Dentro do carro, o primeiro confere a munição de sua pistola e afaga o cabo do bisturi que obteve na residência de Crawford Tillinghast. O detetive, por sua vez, prefere algo mais tradicional. Serrado o cano, fez da espingarda calibre 12 uma arma terrível e ilegal.

A madrugada avança sem boas perspectivas, até que um mendigo bate no vidro de Ripper. Pede alguns trocados para se alimentar. Antes de entregar o dinheiro, o detetive faz algumas perguntas a respeito das imediações e do corpo encontrado por funcionários da Transportadora Trevo da Sorte.

Segundo a fonte, alguns mendigos que moram ali já ouviram histórias sobre uma mulher que anda pela região à noite. Doug, que acabou morto, andava contando histórias sobre ter beijado uma mulher “fria como um cadáver”. Alguns deles disseram que já há viram pela região, circulando à noite em um vestido esfarrapado.

Seguindo as orientações pagas com trocados, Ripper e Mackey se dirigem até uma região de armazéns abandonados. Deixando o carro em busca de uma posição que facilite a visão, eles encaram a madrugada fria e mal iluminada de umas das regiões mais antigas de Boston.

CENA 14 – Morte

Não demora até que o barulho de metal sendo retorcido desperte sua atenção. De um velho depósito, trajando um vestido de algodão que um dia foi azul, uma jovem de pés descalços se esgueira através de uma passagem na porta trancada e alcança a rua. Ainda que as suspeitas sejam claras, o cabelo em frente ao rosto impede a identificação de quem acreditam ser Rosemary Checkley.

Ripper e Mackey a seguem, guardando alguma distância. A mulher se encaminha na direção de onde estavam reunidos alguns moradores de rua, e quando atinge um ponto onde pode ser vista, estanca. Apenas aguarda até que seja percebida. Está caçando. Ripper se aproxima, e assim que nota sua presença, ela sorri com a parte do rosto que os cabelos não escondem, imediatamente se dirigindo até o armazém de onde surgiu. Antes que consiga atrair a sua presa, porém, é surpreendida por Mackey, que surge das sombras e lhe dá um tranco violento.

Empurrada para o meio da rua deserta, ela se vira e emite um som estrangulado. O movimento lhe descobre a face, revelando o rosto parcialmente apodrecido de Rosemary Checkley. Mesmo atordoados pela revelação, Mackey e Ripper atiram. O disparo da pistola a atinge no estômago, não produzindo efeito visível. O detetive busca como alvo o bracelete que ela recebeu ainda criança. A movimentação e a distância, porém, o levam ao erro. Diante da resistência inesperada, o cadáver animado de Rosemary corre em busca de abrigo, não sem antes ser atingido nas pernas por Ripper, que a derruba, mas não impede que se refugie na escuridão do armazém.

Abismados com o evento, mas sem ferimentos, Ripper e Mackey avançam. As lanternas fazem surgir caixas e antigos equipamentos em um espaço amplo e completamente imerso nas trevas. Antes que possa reagir, Ripper é atacado. A pequena Jessica Chekcley, tal qual um animal selvagem, lhe morde a perna brutalmente. O choque não permite reação. Mais sorte tem Mackey, que antecipa o avanço de Rosemary e detém o ataque, atingindo-a novamente. Com os dentes de Jessica lhe penetrando a carne até o osso, Ripper afasta a criança com um disparo que arranca metade do rosto. Pior do que vislumbrar o resultado é perceber que nem isso parou a odiosa criatura. Em pânico, Mackey tenta uma fuga, interrompida diante da pequena passagem que leva para fora do armazém. Atacado por Rosemary, realiza um esforço desesperado, levando-a de encontro a uma velha máquina. O impacto esmaga sua cabeça e a faz tombar. Ripper, por sua vez, não resiste à perda de sangue produzida pelos inúmeros ferimentos. Impedindo que Jessica desfira o ataque derradeiro, Mackey a afasta com um chute. Antes que a coisa sem rosto reaja, dispara com precisão no colar que leva seu nome. A atingir e romper o encanto terrível que lhe devolvia um arremedo de existência, a criança desaba. Imediatamente, 30 anos de decomposição se abatem sobre ambas, resultando em pouco mais do que ossos onde antes haviam corpos animados por energias desconhecidas.

Carregando Ripper até o carro antes que curiosos criem coragem para verificar a origem de tantos disparos, Mackey acelera até o hospital mais próximo.

EPÍLOGO

Necessitando de cuidados, Ripper fica dois dias no Centro Médico de Boston. Apesar de não correr riscos sérios, carregará para sempre as cicatrizes do ataque sofrido. Mackey, enquanto isso, trata de informar Archibald Holmes a respeito dos eventos transcorridos ao longo dos dez dias passados em Boston. Além disso, se responsabiliza por despachar os volumes da biblioteca de Jason Checkley para Arkham.

Duas notícias ainda dariam claras indicações de que, o que quer que tenha se desenrolado nesse dias, ainda não acabou.

Boston Globe – Acidente misterioso em delegacia de polícia – 01/04/08
O oficial Robert Logan, com uma longa e exemplar ficha de serviços prestados à Polícia de Boston, foi encontrado na manhã de ontem em um estado de letariga na 14ª DP. A sala de provas foi invadida, mas ainda não foi possível avaliar se algo desapareceu. O oficial Logan estava em serviço e, até o momento, a polícia está tratando o ocorrido como assunto interno. Robert Logan passa por diversos exames no Hospital Geral de Massachusetts.

Metro Boston News – Atrocidade no Borden Arms – 02/04/08
A polícia foi chamada ao Motel Borden Arms na manhã de ontem, após a camareira, Ruby Rankowitz, encontrar restos mortais de um animal em um dos quartos. Vasculhando o local, oficiais descobriram um par de mãos humanas envoltas em um pedaço de pano. Segundo a polícia, as mãos seriam de alguém falecido há cerca de três semanas. Os investigadores também encontraram restos de um bode espalhados pelo quarto. As paredes e o chão foram pintados com símbolos indecifráveis. A polícia acredita que o hóspede, que apresentou documentos falsos o identificando como Athu Marquês, tenha deixado Boston. Ele foi descrito como um afro-americano alto, de aparência distinta, com sotaque francês. Suspeita-se que seja o mesmo homem que teria tentado invadir a Sala de Provas da 14ª Delegacia de Polícia de Boston na semana passada.


O caminho de volta também não estaria livre de fatos estranhos. Na manhã chuvosa, que castigava a estrada e encobria a visão, Ripper acabou atropelando um homem. O trecho, entre Swampscott e Arkham, parecia completamente deserto. Ao descerem do automóvel para prestar socorro, Ripper e Mackey reconhecem Jason Englund. Delirando, ele apenas consegue balbuciar algumas palavras, enquanto lança o olhar atormentado na direção da estrada:

Müller...preciso encontrá-lo.....preciso ajudá-lo.....ele vai morrer... aqui....
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 15 Mai 2008, 16:29

Comentários do Narrador:

Este foi, sem sombra de dúvida, o melhor capítulo de Abissal. Devo reconhecer que o sucesso se deveu, em boa parte, à fonte. Ele foi baseado na aventura Dead of Night, publicada no livro Arkham Unveiled, pela Chaosium.

Todos os principais elementos originais estão aqui: a morte e renascimento das crianças; o segredo guardado por décadas; a referência ao vodu. Como é de praxe nesses casos, fiz algumas alterações para acomodar o texto aos meus propósitos de campanha.

A modificação sutil foi salientar que Jason Checkley agiu motivado pelo amor e pela dor da perda. Apresentar ambos sentimentos como catalisadores para algo terrível diz muito a respeito dos meus objetivos para a crônica.

A mudança mais drástica deu-se na conclusão. Originalmente, cada uma das crianças estava em um ponto diferente de Arkham. Além de mudar o cenário da ação para Boston, fiz com que o jovem Adam fosse apenas um cadáver no porão, enquanto as remanescentes Rosemary e Jessica agissem em conjunto. Isso tornou possível fornecer pistas claras a respeito de como vencer a maldição sem a simples destruição dos corpos, além de fazer sentido diante da proposta de que os zumbis agiriam de acordo com uma memória residual – a irmã mais velha protege a mais nova –, fato que contribuiu para evocar uma certa humanidade no que, do contrário, poderiam ser meros zumbis. Por mais que o combate final tenha sido um banho de sangue, ele também foi climático e perigoso, vencido, afinal, com muito esforço e uma boa idéia.

A passagem de informações por meio de jornais se mostrou problemática. Mais do que sugerir linhas de ação, se revelou algo como muletas com as quais os jogadores decidiam o rumo da ação. O erro estava em seu conteúdo. Como aprendizado, fica a necessidade de que nos futuros capítulos as notícias tenham não apenas informações parciais, mas também erros e inconsistências, ficando mais próximo do jornalismo como é praticado, especialmente em se tratando de fenômenos extraordinários. Os jogadores passarão a questionar a sua validade e encará-los menos como “mapas do tesouro”, e mais como simples referências.

Por fim, eliminei totalmente a possibilidade do problema ser resolvido por meio mágicos. Essa decisão decorre da minha indefinição a respeito dos limites do uso da magia nesse cenário e, da impossibilidade de acreditar que uma pessoa possa aprender a invocar e banir zumbis em poucos dias. Se alguém já conseguiu, entre em contato.

A presença de Ahtu Marquês nos bastidores é um gancho que deve ser utilizado muito em breve, além de ser uma óbvia referência para personagens que desejam mais conhecimento e poder.

No próximo capítulo espero apresentar o ponto de partida para que os personagens ajam como um grupo de fato, projeto cujo pedido realizado por Archibald Holmes constituiu um prelúdio. Como não poderia ser diferente, estou inserindo lentamente algumas informações que são exclusivas para cada personagem, mas que interessam aos demais membros do grupo. Espero que resulte numa mistura equilibrada de colaboração e traição.
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World of Darkness - Abissal

Mensagempor Hentges em 02 Jun 2008, 12:31

Saudações,

Essa campanha foi encerrada de forma prematura e abrupta.

O tópico está encerrado.

Obrigado,
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