Sombra

Mostre seus textos, troque idéias e opiniões sobre contos.

Moderadores: Léderon, Moderadores

Sombra

Mensagempor Lady Draconnasti em 07 Mar 2008, 07:30

TOMA, VADiA!

Gostei da resposta de Athos, mas esse capítulo também não pareceu acrescentar coisa alguma.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Sombra

Mensagempor Lobo_Branco em 07 Mar 2008, 09:06

Concordo com a Nasti, menos na parte "TOMA VADiA!!" :bwaha:

Tenho certo apreço pela guria fada, é feio vendo ela sifu, ou ñ..hahaha :rolando:

O "manequim" q vc fez dela tá a cara da Barbara da DC. A Oraculo, ex-Batgirl e sei lá mais nome.
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


O Último Duelo - conto Capa&Espada
Avatar do usuário
Lobo_Branco
 
Mensagens: 289
Registrado em: 26 Ago 2007, 13:22
Localização: Aquele Bosque com ares de Floresta, na periferia de Contonópolis

Sombra

Mensagempor Malkavengrel em 10 Mar 2008, 01:23

Coro, ótima resposta.

Espero a continuação.
Imagem
"For every complex problem there is an answer that is clear, simple and wrong."
"I can make wonders, and still let you wander alone."
Avatar do usuário
Malkavengrel
 
Mensagens: 250
Registrado em: 25 Ago 2007, 18:40
Localização: Ilha da Magia

Sombra

Mensagempor Gehenna em 14 Mar 2008, 23:48

TOMA, VADiA!

Huahuahua, e eu adorei essa reação. :bwaha:

O "manequim" q vc fez dela tá a cara da Barbara da DC. A Oraculo, ex-Batgirl e sei lá mais nome.

Yep. O Hero-O-Matic não tem corpo pra adolescentes, daí saiu aquilo lá.
Mas em compensação, Lady Draconnasty fez um desenho super-foda do Athos. XD
SPOILER: EXIBIR
Imagem


Espero a continuação.

Então sirva-se à vontade. :aham:




Sombra

Parte 58: Término

Ao sair do elevador, o cheiro e o som denunciam o início de chuva. Que ótimo. Com tantos dias para marcar o churrasco, Rogério conseguiu escolher logo um dia chuvoso. Algumas pessoas ainda estavam na piscina, provavelmente, fazendo piada dizendo que não queriam se molhar da chuva. Depois de guardar as cervejas, vou até Graça, que estava enrolada em sua toalha, com frio. Eu a abraço, esquentando-a e dou-lhe um beijo.

“Vem aqui. Tenho que te falar uma coisa”.

----------------------------------------------

Cássia, eu e outras garotas saímos da piscina e me enrolei na toalha que trouxera, para me enxugar e me proteger do frio, quando começou a chover. Procuramos abrigo, enquanto alguns rapazes continuaram na piscina, dizendo que agora a água ficaria quentinha. Vejo Daniele chegando com uma garrafa de cerveja aberta nas mãos. Me lembro que a cerveja havia acabado e Athos fora buscar mais. Ela estava de cara fechada, mas assim que me viu, abriu um sorriso, no qual eu percebi alguma malícia. Esperei. Alguns minutos depois, Athos chegou com várias garrafas. Após guardá-las, veio falar comigo.

“Vem aqui. Tenho que te falar uma coisa”. Ele estava sério. Nem precisava falar. Eu já havia entendido. Meu coração se comprimiu em tristeza, enquanto se enchia de ódio, mas não deixei que ele percebesse. Saímos de perto das outras pessoas, buscando privacidade para nossa conversa.

“O que foi? Aconteceu alguma coisa?” Me faço de sonsa, para deixá-lo à vontade.

----------------------------------------------

Aparentemente, Daniele não fizera nada, pois Graça reagira normalmente, perguntando se havia acontecido alguma coisa. Depois de nos afastarmos das outras pessoas, controlei meu nervosismo para poder falar. Olhando para aqueles belos olhos amendoados cor-de-mel, me senti um verdadeiro crápula, então desviei o olhar. Não sabia como começar.

“E então?” Ela pergunta, insistindo para que eu continuasse. Seria uma boa hora para que aparecesse algum vampiro ou adorador de demônio maluco tentando me matar. Qualquer coisa para adiar essa conversa. Qualquer coisa pra me impedir de machucar aquela garota. Qualquer coisa... Mas não aconteceu nada. Tive de continuar.

“Eu fui lá encima pra pegar mais cerveja e... A Daniele me seguiu. Ela me beijou”. Agradeço mentalmente quando Graça baixa a cabeça, desviando seu olhar. Seria um pouco mais fácil sem encará-la.

“Quero dizer, eu também a beijei, inicialmente... Mas depois me afastei e nós discutimos. Porque não era certo, era um desrespeito contigo. Eu... Eu decidi te contar porque... Bem, achei que te devia isso. Desculpa”. Ela então levanta a cabeça, voltando a me fitar. Para minha surpresa, ela estava sorrindo. Não com seu brilhante sorriso metálico. Sua boca estava fechada, em um sorriso tímido, enquanto seus olhos amarelados mostravam tristeza. Senti uma mão intangível dentro de mim, apertando e esmagando meu coração. Queria socar a mim mesmo. Então, ela olhou para Daniele, que dançava com Jefferson, e começou a falar.

----------------------------------------------

Abaixo a cabeça quando ele começa a falar, sentindo meu coração pequenininho. Disse que veio me contar por me dever isso. Ou será que apenas constatou que eu acabaria descobrindo? Não. Ele é até esperto em alguns casos, mas meio tapado em outros. Olho praquela vaca da Daniele e começo a falar voltando depois meu olhar pra ele. “Ela é mesmo linda. Não posso te culpar. Ela, com certeza, sabe como fazer esse tipo de coisa. Digo, com os garotos. Mas você veio me contar e se desculpar. Eu te perdôo”.

Nos abraçamos forte, então tenho uma idéia e coloco-a em prática, enquanto me desvencilho e penduro a toalha em uma cadeira. “Você deu a ela exatamente o que ela queria, Athos. Mas eu não vou fazer o mesmo”.

Me dirijo até o computador, no qual o aparelho de som estava ligado e procuro a pasta certa, torcendo para que ele tivesse o arquivo que eu queria. Comemoro mentalmente ao encontrá-lo, dando duplo clique para executá-lo. Quando a música começa a tocar, pego Athos pela mão e o puxo até a chuva. Percebo em seus olhos que ele reconhece a melodia de Oh! Chuva, do Falamansa, a música que dançamos juntos pela primeira vez, no fim de uma festa junina, em nosso antigo colégio. Na ocasião, não chovia, mas as gotas frias que caíam agora nem incomodavam, entrando em contraste com o agradável calor do corpo dele. Em uma troca de olhares com Daniele, é minha vez de sorrir maliciosamente, antes de beijar Athos durante a dança.

----------------------------------------------

Ela foi até o computador, que Rogério havia descido de seu apartamento e ligado ao aparelho de som, e colocou a primeira música que dançamos, há tempos, no final de uma quadrilha de nosso antigo colégio. Estávamos ambos ajudando com as barracas, enquanto o número de pessoas já havia caído bastante, devido ao horário já avançado. Ela estava usando um vestido vermelho, rodado, com bolinhas brancas, e seus cabelos estavam presos em duas tranças, enquanto eu usava jeans, uma camisa azul listrada e um chapéu, que já havia largado em algum canto.

Graça não dançara nenhuma quadrilha ensaiada e nenhuma música livre, então, aproveitei o pouco movimento nas barracas, esperei o final de uma melodia e a convidei para dançar Oh! Chuva comigo. Conversamos e rimos bastante, junto aos outros poucos casais que ainda estavam por ali. Ela sempre fora uma excelente amiga para todas as horas. Agora, estávamos, mais uma vez, embalados por aquele ritmo, porém, mais íntimos e até mais contextualizados, devido à chuva que caía.

----------------------------------------------

Nossa, que tosco... Aparentemente, a japa-girl é uma corna conformada e romântica, pois parece que Athos falou com ela sobre nosso beijo e, invés de brigar com ele, colocou no som uma música que fala sobre chuva e o chamou para dançar. Menininha besta. Os dois se merecem, mesmo. Acabo de tomar minha cerveja, enquanto a música termina e todos se sentam rodeando algumas mesas. A chuva também não dura muito, mas o sol não volta a aparecer, ficando oculto atrás das várias nuvens que encobriam o céu. Seleciono algumas músicas eletrônicas e coloco-as para tocar, enquanto jogamos conversa fora e falamos do azar de fazer o churrasco logo num dia chuvoso.

O sol já começava a se pôr, quando Guilherme resolveu ir embora, levando Cássia e oferecendo carona para Athos e a Des-Gracinha. Jefferson, nosso bêbado oficial, resolveu ir embora também, dizendo que ainda ia sair com uns amigos, assim como mais meia dúzia de pessoas com desculpas semelhantes. Ficamos eu, Rogério, Rafael, com a namoradinha gorda, Carla e Priscila, com seu respectivo. Conversamos e rimos muito, enquanto bebíamos e aproveitávamos o cheiro e frescor da chuva.

----------------------------------------------

Quando Guilherme me ofereceu carona, achei melhor aceitar. Seria mais fácil para Tânia buscar Graça em minha casa, pois já a levara lá, do que encontrar a casa do Rogério. Não havia ninguém quando chegamos e, mal havíamos entrado, quando meu celular tocou, com o mostrador denunciando minha mãe. “Alô”.

“Athos? É a mamãe, tudo bem?”

“Tudo, mãe”.

“Quer que eu te busque?”

“Precisa não, mãe. Já to até em casa”.

“Ah, que bom. Então eu não vou nem voltar aí, ta? Decidi passar a noite aqui com a vovó, mesmo”.

“Ok”.

“Vem almoçar aqui amanhã, pra ver ela. Tia Ana Paula também vai vir”.

“Vou sim”.

“Então ta bom. Um beijo, meu filho”.

“Beijo, mãe. Tchau”.

Graça, sentada no sofá, me olhava, com aqueles belos olhos amarelados, misteriosos e curiosos, que eu tanto gostava. Disse-lhe que minha mãe dormiria fora, com minha irmã, e sentei ao seu lado, enquanto Lóki surgia miando e reclamando, com aqueles olhos verdes malignos e inquisitivos. Chutei-o pra lá, enquanto abraçava Graça, mas ela se apiedou do infernal bichano, dando um tapa em minha perna, dizendo que ele devia estar com fome. Mandou-me dar comida pra ele, enquanto telefonava para sua mãe. Concordei obedientemente, enquanto xingava Lóki mentalmente. Odeio gatos.
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Sombra

Mensagempor Lady Draconnasti em 15 Mar 2008, 02:25

Ok, você enrolou de novo, mas só a satisfação de ver Daniele se morder de despeito valeu a pena. XD
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Sombra

Mensagempor Malkavengrel em 16 Mar 2008, 14:46

Eu jah gostei da forma q ele tratou o Loki :twisted:

Menininha besta. Os dois se merecem, mesmo.

:bwaha: :bwaha:
Adoro a Dani, isso que é pessoa Filha da ... Mãe. Mãe.

Odeio gatos.

Somos milhares. Cães dominam. xP
Imagem
"For every complex problem there is an answer that is clear, simple and wrong."
"I can make wonders, and still let you wander alone."
Avatar do usuário
Malkavengrel
 
Mensagens: 250
Registrado em: 25 Ago 2007, 18:40
Localização: Ilha da Magia

Sombra

Mensagempor Gehenna em 03 Abr 2008, 00:00

mas só a satisfação de ver Daniele se morder de despeito valeu a pena.

Adoro a Dani, isso que é pessoa Filha da ... Mãe. Mãe.

Huahuahuahua. :bwaha:
Obrigado milady e Malka. Dani tb agradece os comentários.

Eu jah gostei da forma q ele tratou o Loki

Hehehe, além de gato, é um filhote de cruz-credo feio e ruim. Ele merece.





Sombra

Parte 59: Planos

Felipe acendeu um cigarro, enquanto esperava nos fundos daquele velho boteco, onde há pouco estava jogando sinuca e bebendo uma cerveja. Seu convidado não costumava se atrasar, então, quando o horário marcado se aproximou, ele rumou para o ponto de encontro. Após a segunda tragada, ele apareceu, caminhando pelo corredor formado pela parede externa do boteco e o muro que o separava da propriedade ao lado. O recém-chegado vestia camisa social preta, sobretudo preto fechado, uma máscara negra com aberturas para os olhos, e um chapéu também preto. Possuía um ar sofisticado e estranhamente deslocado naquele ambiente sujo e mal cuidado, por onde chegavam os carregamentos de bebidas e saía o lixo.

Mesmo no escuro, Felipe fitou o olhar daquele homem, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Apesar de ser, aparentemente, humano, o Caçador, como era conhecido, conseguia ser mais assustador do que muitos vampiros. Ele se aproximou o suficiente para conversarem com privacidade e iniciou o diálogo com sua voz sombria. “O que você quer?”

“Boa noite pra você também, Caçador”. Felipe respondeu, assoprando fumaça para o lado, como desculpa para fugir daquele olhar.

“Vá direto ao assunto”.

“Sempre direto, hein? Certo. Um dos filhos do líder dos vampiros da cidade foi morto. Como era de se esperar, ele enviou seus assassinos para se vingar, mas o assassino também foi morto. Acredito que eles não sabem com o que estão lidando”.

“E você sabe?”

“Não, mas acho que podemos usar isso ao nosso favor”.

“Continue”.

“Acho que posso incitar uma guerra entre os vampiros, mas precisarei de ajuda”.

“E porque eu o ajudaria?”

“Ora, quanto menos monstros soltos por aí, melhor”.

“Quero saber qual o seu interesse nisso”.

“O mesmo que o seu, Caçador. Acabar com essa escória que vive nas sombras. Estamos do mesmo lado”. Caçador de repente, voa na direção de Felipe, apertando seu pescoço com uma mão, enquanto torcia seus dedos para trás, com a outra, imobilizando-o com a dor e a asfixia. Porém, quando falou, sua voz continuou sombria e fria, sem nenhuma alteração.

“Não pense que sou como os cadáveres com quem você anda, verme. Estamos do mesmo lado? É o mesmo que você diz para eles. Você vive nas sombras tanto quanto aqueles que você diz caçar. Vou te ajudar nesta sua guerra, mas você sabe que está fazendo uma dívida alta e eu sei como te encontrar e cobrar”. Dito isto, Caçador soltou Felipe, empurrando-o, enquanto ele se recompunha, encolhendo os dedos doloridos e levando a mão à garganta. Ao olhar novamente para o mascarado, mesmo sem querer, Felipe se fixou naquele olhar, que parecia atravessa-lo como lanças. Caçador voltou a falar.

“O mal se esconde na noite, devendo ser encontrado e destruído. Lembre-se disso, quando estiver agindo. Os cadáveres, com quem você anda, são monstros. São o inimigo. São o mal”. E tais palavras entraram fundo em sua mente, ecoando e se repetindo seguidamente, invadindo e se fixando, como um parasita. Felipe não conseguia negar aquilo. O Caçador estava certo. Seja lá o que ele for, estava certo.

Felipe expôs seu plano, enquanto o Caçador o ouvia atentamente. Eurípedes, o ancião insano, que acreditava ser o verdadeiro Patriarca da cidade, seria usado contra o Lorde da Noite. Uma guerra entre os dois lados surgiria, enquanto eles próprios, aproveitariam a oportunidade, lutando do seu próprio lado, secretamente. Com certeza, seria um duro golpe para a sociedade vampírica de Goiânia. Caçador teve de concordar que era um bom plano, apesar de não ter certeza sobre as verdadeiras intenções de Felipe. Ainda assim, acreditava que poderia mantê-lo na linha, durante algum tempo. Bastava lembra-lo de que o mal devia ser destruído.

----------------------------------------------

Andrei me ordenara a ficar de vigília na frente daquele prédio, pois disse que seu contato suspeitava que a pessoa que procurávamos morava ali. Ele me descreveu um rapaz de, no máximo, uns dezoito anos, com cabelos pretos compridos. Praticamente, uma criança. Até achei que fosse piada, mas como Andrei nunca faria piada quanto ao assassino de seu irmão, imaginei que o tal contato estava de sacanagem. Mas lembrei que o Cicatriz também não deixaria ninguém sacaneá-lo.

Cheguei bem cedinho, pra evitar que perdesse o garoto saindo para a escola. Fiquei de longe, dentro do carro, olhando com um binóculo sempre que percebia alguma movimentação na porta do prédio. Vi algumas pessoas saindo, especialmente estudantes, mas nenhum que se encaixasse na descrição que recebi. De repente, algo realmente me chamou a atenção. Um rapaz de cabelos pretos compridos, vestindo camiseta preta e calças jeans, aparentemente úmidas, chegara no prédio àquela hora. Ele carregava algo também negro, embolado, em suas mãos e parecia bem cansado.

Continuei minha vigilância. Silvio trouxera uma marmitex na hora do almoço e perguntou se eu tinha algum resultado. Contei pra ele o que vira, mas não deu muita atenção e logo foi embora. Depois do almoço, o sono bateu, mas me mantive firme, enquanto ouvia música. Por pouco, não percebi o mesmo rapaz dentro de um carro, que cruzou comigo, tendo uma mulher no volante. Fiquei tentado a segui-los, mas decidi me limitar às ordens que me deram, para não haver risco de confusão. Não tinha certeza se era o mesmo rapaz e muito menos de que era o único jovem de cabelos compridos naquele prédio.

O dia se arrastou lentamente. Mal acreditava que estava perdendo meu sábado em atividade tão inútil. Se não estivesse sendo muito bem pago, iria embora. Música e leitura me entreteram durante a tarde. Quando escureceu, liguei o carro e estacionei mais próximo à portaria, mas do outro lado da rua, ainda mantendo alguma distância. Mal desliguei o motor, um outro carro chega, trazendo o mesmo rapaz, junto a uma garota japonesa. Eles se despedem amigavelmente do casal de dentro do carro e entram. Continuo minha vigília, até que meu celular toca, para que eu dê meu relatório.

----------------------------------------------

Tirei o telefone do gancho e comecei a digitar o número da minha casa, quando me ocorreu um pensamento. Desliguei-o e fui até a cozinha, onde Athos esperava o aparelho de microondas aquecer alguns pedaços de carne crua, para depois levar ao chão, onde o gatinho preto miava faminto. Não me percebera ali, sendo flagrado enquanto falava com o pequeno felino.

“Ta aí. Mas larga de ser folgado e vai caçar uns ratos. E fica longe da Graça. Não quero você se metendo com ela”. Ao se virar pra porta, ele se espanta com minha presença.

“Ué, você ta aí? Não ia ligar pra sua mãe?”

“Não sabia que era felinoglota”.

“E não sou. Ele é que é humanoglota”.

“Qual o nome dele?”

“Lóki”.

“Está com ciúmes de mim com o Lóki, só por ele ser um gato?” Digo, brincando com o duplo sentido da palavra.

“Há, se Lóki é um gato, eu sou um tigre. Literalmente”.

“Uh, tigrão, o que vai fazer amanhã?”

“Almoçar com minha avó”.

“E depois?”

“Não sei. Estudar, talvez”.

“Não quer sair?”

“Pra onde?”

“Não sei. Andar à toa. Ir num cinema”.

“Ei, estou precisando comprar umas roupas. Podemos aproveitar pra fazer isso”.

“Vai me deixar dar palpite no seu guarda-roupa, é?”

“Claro. Mas se vou segui-los, é outra história, hehe”.

“Você que sabe, se quer ficar bonitão ou bonitinho”.

“Veremos”. Ele diz, envolvendo minha cintura em seus braços e me beijando ternamente, para depois aumentar o ritmo, apertando meu corpo contra o dele. Ficamos assim, nos aproveitando, por algum tempo. Ao terminarmos, eu o olho, fazendo aquela carinha de bobo que eu tanto gosto. Deito minha cabeça em seu peito, enquanto desfruto daquele delicioso abraço.

“Posso ficar com você?” Eu pergunto.

“Hã?”

“Hoje. Posso ficar aqui?”

“O quanto quiser”.

“Amanhã eu saio pro almoço e nos encontramos de novo, no shopping, pode ser?”

"Claro".

“Então deixa eu ligar pra minha mãe”. Digo, me afastando dele e, enfim, termino de digitar o número de minha casa.
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Sombra

Mensagempor Gehenna em 15 Abr 2008, 15:16

Sombra

Parte 60: Felicidade

Graça ainda dormia, quando acordei. Me levantei silenciosamente, evitando que o barulho da pressão contra o colchão no chão, onde passamos a noite, a acordasse. Escovei os dentes e fui à cozinha, onde preparei em uma mesinha, um café-da-manhã para dois, com frutas picadas, sanduíches e iogurte. Deixei as coisas em um canto, enquanto acordava a pequena ninfa nipônica que, tranquilamente, vagava pelas profundezas do mundo dos sonhos.

“Ei, bela adormecida? Hora de acordar”. Digo, beijando-a levemente, fazendo-a abrir os olhos, com preguiça, enquanto esticava o corpo, num gemido baixinho e adorável. Ela pára, sorri discretamente e olha pra mim, me fitando com aqueles dois potes de mel brilhantes, que parecem penetrar fundo em minha própria alma. O tempo parece parar naquele instante, enquanto passo a mão por sua face quente e macia.

“Te amo”. Ela diz, enfim.

“Já eu não vou muito com sua cara, então coloquei cianureto na sua porção de frutas. Faça-me um favor e coma sem reclamar do gosto estranho do veneno”. Digo pegando a mesinha e trazendo-a para perto.

“Você vai me acostumar mal, desse jeito”. Graça diz, sorrindo, exibindo os grandes dentes brancos, enfeitados com as liguinhas coloridas, presas no aparelho metálico.

“É só você pedir e eu nunca mais faço isso”.

“Vai sonhando”. Nos beijamos mais uma vez, antes de atacarmos o desjejum. Percebo Lóki, nos olhando maliciosamente, deitado fora do quarto, mas o ignoro. Guia... Não fez nada de útil, desde que chegou. É um maldito espião do Khestalus, isso sim. Balanço a cabeça, evitando pensar no assunto. Algo bem fácil, após olhar novamente para Graça.

“Ontem... Com a Daniele... O que você achou?” Ela diz, sem me encarar, o que eu agradeço, visto que tal assunto também não me agradava. Baixo a cabeça e penso por alguns segundos, para então responder.

“Vazio... Como uma grande caixa de presente, toda embrulhada e enfeitada que se ganha em um dia qualquer. Não é bom, porque não tem nada dentro. Mas também não é exatamente ruim, porque não há mesmo nenhum motivo especial para se ganhar algo”. Nos fitamos, enquanto eu falava e, ao terminar, ela sorri discretamente e me abraça, colocando sua cabeça em meu peito, enquanto a envolvo em meus braços.

Já passava das dez da manhã, quando acordei, então ela resolveu ir pra casa logo, para não se atrasar pro almoço. Trocou a camisola de Luna, que eu havia pego emprestado pra ela, pelas roupas de ontem. Nos despedimos, enquanto combinamos de nos encontrar novamente às três da tarde, no shopping. Tomei um banho, troquei de roupa e deixei comida pro Lóki, antes de sair para pegar o ônibus até a casa de minha avó.

A casa de minha avó consiste em duas partes: A casa maior, que tem a fachada, onde mora meu tio Márcio, com a esposa e a filha; e os fundos, onde a dona Alzira guarda suas coisas e ‘mora’, quando vem para Goiânia. Mas as reuniões ocorrem mesmo é na casa do meu tio, sendo que quando cheguei, já encontrei a família toda. Bárbara, minha prima torta, filha do Alfredo, brincava com Jaqueline, a filha de meu tio Márcio, mas pararam para me cumprimentar e abraçar, quando me viram chegando. Bárbara ainda parecia fraca, mas estava bem melhor do que antes, o que significava que o monstro que andava se alimentando dela, realmente desistira de tal idéia.

Assistindo porcarias na televisão, estava Luna, enquanto na cozinha, preparando o almoço, estavam minha mãe, tia Ana Paula e dona Alzira, minha avó, em quem dei um longo abraço, para compensar o tempo que não a via. Ela me elogiou, como sempre, dizendo o quanto eu estava bonito, mas, novamente, criticou o cabelo comprido. Tio Márcio, Alfredo e Diego estavam conversando e bebendo cerveja ao redor da mesa. Após cumprimentar todo mundo, me sentei com eles.

“E aí, Athos? Ta sabendo da exposição de anime, semana que vem?” Diego me perguntou, assim que me sentei.

“Não. Onde?”

“Lá no Martim Cererê. O Bruno tava me falando. Bora?”

“Ele vai?”

“Ele e a Ellen. São piolhos disso, né? Daí to querendo ir também. Vamos?”

“Uai, vamos. No sábado, né? Domingo tem jogo”.

“É, no sábado. Essa semana é na casa de quem?”

“A última sessão foi na casa do Cláudio, então a próxima é na sua”.

“Putz, é mesmo! Hahaha, nem lembrava”.

“To te avisando com uma semana de antecedência, hein?”

“Hehehe, ah, mas daquela vez que eu só fiquei sabendo que seria lá em casa já no dia do jogo, foi engraçada”.

“É, mas vamos evitar repetir esse tipo de coisa”.

“Ok, capitão”. Ele diz, pouco antes de meu tio Márcio chamar minha atenção, iniciando uma conversa despreocupada sobre a arma nova que ele havia comprado. Ele gostava mesmo de mim, talvez por ser meu padrinho de batismo. Fora ele, não meu pai, que me ensinara a dirigir e, sempre que viajávamos para a fazenda, ele me levava para dar tiros em latas com as armas dele. Era um meninão grande e acho que me via como um filho que ele ainda não tinha, mesmo sendo o mais velho de dona Alzira. Minha mãe, a caçula, fora a primeira a se casar, na família, enquanto Márcio fora o último.

Quando a comida foi finalmente colocada na mesa, atacamos vorazmente. A clássica briga pelas coxas e o coração do frango, ocorrera novamente, como era de tradição. Tio Márcio e Diego pareciam competir sobre quem comia mais, devido às montanhas que cada um fazia em seus pratos. Incessantes e animadas conversas cruzadas transcorriam alegremente em uma agradável cacofonia familiar. Putz, adoro essa gente.

Depois de almoçar, tivemos pavê de sobremesa, que minha mãe fizera ontem à noite e deixara para gelar. Desta vez, eu é que entro na competição de quem come mais com tio Márcio, enquanto Diego reclama que ninguém o avisara sobre o doce, para que deixasse um espaço vago no estômago. Sentamos nos sofás e batemos papo, enquanto fazíamos a digestão. Pouco depois, resolvemos ir embora. Minha mãe, Luna e eu, voltamos pra casa, sendo que ao chegar, vou logo me arrumar para sair novamente.

Mesmo chegando no ponto bem a tempo de pegar o ônibus, ainda chego atrasado, encontrando Graça sentada em uma das mesas da praça de alimentação, no terceiro piso, com um livro nas mãos. Penso em surpreendê-la, mas no mesmo instante ela levanta os olhos de sua leitura e me encara, com aquelas íris amareladas, como se já soubesse que eu estava ali. Ela guarda o livro na bolsa, enquanto eu me aproximo. Um beijo, um abraço e mais um beijo antes de qualquer palavra.

“Você está atrasado”.

“Eu sei. Pra compensar, vamos tomar milkshake”.

“Dei uma olhada nos filmes em cartaz. Vamos assistir Cruzada?” Ela diz, enquanto entrávamos na fila para comprar o milkshake. Sou realmente viciado nessa porcaria.

“Eu estava querendo ver A Vigança dos Sith”.

“Star Wars? Não, você vê isso outro dia, com seus amigos”.

“Por que diabos você quer ver Cruzada?”

“Deve ser legal. Pensei que ia gostar. Tem guerras e lutas com espadas”.

“Star Wars tem guerras com naves e lutas com sabres-de-luz. Um a zero. Tente outra vez, Gracinha”.

“Cruzada tem o Orlando Bloom”.

“Dois milkshakes médios, normais, sem seja lá o que for que você vai me oferecer. Obrigado. O Orlando ‘Elfo Saltitante que Vive em um Comercial de Shampoo’ Bloom?” Digo ao caixa, entregando o dinheiro e voltando a falar com Graça.

“Não, o Orlando ‘Mato Elefantes Gigantes Antes do Café-da-Manhã’ Bloom, que você adorou ver em O Senhor dos Anéis”.

“Ah, pensei que era o Orlando ‘Tão Expressivo quanto as Velas do Pérola Negra’ Bloom”.

“Larga de ser chato. Você vai gostar”.

“Tenho sérias dúvidas quanto a isso”.

“Se não gostar, te compro outro milkshake”.

“Ei, vai fazendo outro aí pra mim, que vou ali assistir um filme ruim e já volto”. Digo brincando para a atendente que entregava o pedido das pessoas ao lado.

“Ok, se você não agüenta um pouco de lâminas, sangue e desmembramentos...”

“Ei, eu interpreto um paladino há mais de um ano. Lâminas, sangue e desmembramentos são como banho, comida e respiração, pra mim”.

“O que é um paladino?”

“É um tipo de guerreiro divino, que combate o mal em nome de sua divindade”.

“Como um cavaleiro templário? Como um cruzado?”

“... Hmm... É...”

“Ahá!” Ela exclama, sorrindo e apontando o dedo pra mim.

“Eu te odeio...” Xeque-Mate. Ela me abraça e me beija, sorrindo vitoriosa. Pegamos os milkshakes e seguimos rumo à bilheteria do cinema do shopping.
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Anterior

Voltar para Contos

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 1 visitante

cron