O tombo fora longo. Edgard rolou pela relva até bater numa árvore. Sua cabeça doía, tudo girava.
Onde estava?
Edgard se levanta atordoado e olha ao redor. Uma floresta. Ele estava numa maldita floresta. E nunca vira nada tão verdejante. Mas como?
Num instante, ele pegava o livro do baú empoleirado de seu avô... e no outro, caía numa floresta?
Edgard Priat era um jovem de 27 anos, magro e de cabelos ruivos. Era um simples estudante de Criminologia Mágica na Universidade Primeira de Dúlmon, onde cursava já fazia 7 anos e onde ainda iria passar outros 7.
Não é nada fácil entrar para Criminologia Mágica. Em todo o reino só haviam 2 universidades com o curso, onde em geral concorrem, todo ano, cerca de 900 alunos para cada vaga. Considerada a prova mais difícil, Edgard precisou estudar por 5 anos à fio para finalmente conseguir entrar, e ainda assim como suplente. Sempre fora seu sonho ser um mago investigador, e ele acabou perdendo toda sua juventude para conseguir entrar e se dedicar a isso.
Filho de um importante empresário do ramo ferroviário, Edgard foi influenciado principalmente pela imagem de seu tio. Importante mago-detetive, seu tio foi um dos pioneiros do ramo no reino de Válvia e fundador da Ordem Nacional de Criminologia, até ter sido morto por um mimetista. Desde então ele se viu na obrigação de seguir na criminologia mágica e pegar o responsável pelo assassinato. Por longos anos ele estudou e treinou, muito além das disciplinas de seu curso. Uma verdadeira obsessão doentia.
Mas nada o preparara para aquilo.
Ele finalmente sobe numa pedra, suado e cansado. Tira o colete e olha o relógio de bolso. Quebrado.
Por horas incontáveis ele circundou toda a região. Nenhuma alma viva. Nenhum riacho, nenhuma direção... e o mais assustador: nenhuma forma de vida.
Talvez daquela pedra, no topo de uma colina, ele pudesse ter uma visão mais clara. A imensa floresta sumia no horizonte, e atrás de si, o penhasco mais alto que já vira impedia de discernir o que havia lá embaixo. Havia alguma coisa de errada, algo que ele não sabia explicar.
Cansado ele tira um cigarro do bolso e acende. “Calma Ed, tudo tem uma explicação. Magia? Estou nas terras desconhecidas? Ou será que um ilusionista criou uma nova técnica?” os pensamentos borbulhavam enquanto tragava. Por toda vida Ed foi uma pessoa estranha. Convivendo numa família que era constante alvo de assassinos e magos, por causa de seu tio, ele se habituou a ver toda sorte de coisas estranhas. Nada o abalava. Talvez tenha sido justamente isso que fez os avaliadores decidirem que ele deveria entrar no curso de criminologia, ele pensou.
Um pensamento estranho lhe ocorreu. Ele puxa o relógio de bolso e olha. Sim, algo de estranho nos reflexos. Ele olha para o alto.
E então se espanta. O cigarro cai da boca agora entreaberta, os olhos arregalados. Se alguém contasse nos bares da Travessa Travessa que Ed Priat, “O” Ed Priat, havia se espantado com algo, ninguém acreditaria.
“Dois sóis”- ele pensa.
No céu haviam dois sóis.
Seja lá onde ele estivesse, aquele não era o mundo dele. Ele engole e seco. E então grita.
-Rotua-O (ou não)
-Continua?-