De volta ao fórum, de volta aos amigos. E aceitando o pedido prontamente, começo este conto em dupla com o Dahak. A primeira parte, escrita por mim. A subsequente, escrita pelo próprio.
As postagens? Imagino que serão quinzenais. (Ainda não discuti isso com o Dahak lol)
Espero que gostem. E se possível, comentem, critiquem, xinguem, ou até elogiem.
Um chero pra todos,
Elara Leite
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A Batalha de Mìr
Capítulo I – Pesar
Capítulo I – Pesar
Tinha medo de começar a escrever. A usura das palavras o aborrecia imensamente. Mas era preciso. A música inundava o aposento real, cuja luz dos castiçais tremeluzia na escuridão, iluminando até o teto abobadado.
Começou a carta. Molhou a pena no tinteiro, desenhando em seguida, no papel, uma rebuscada caligrafia. Chovia, relampejava ao longe. Era uma noite fria dentro de si. Era uma orquestra de sons internos e externos. Os músicos continuavam a tocar. Este era o costume noturno daquela realeza: adormecer ao som de boa música. Todos dormiam, exceto Manfred e os habilidosos músicos.
Escreveu algumas poucas linhas. Súbito parou. Tomou do líquido contido no grande cálice ao lado da escrivaninha. Respirou aliviado. Continuou.
Era difícil tomar decisões dessa forma. Era difícil ser quem ele é. Os anos passaram, marejando o coração de Manfred com a doçura humana. Mas não seria possível escapar àquela escolha.
Suspirou. Pegou mais algumas gotas de tinta com a pena, escreveu mais algumas palavras. Como aquelas paisagens mudariam! Como aquele povo, seu povo, seria exposto a todo tipo de intempéries...! Leu o que estava escrito. A música silenciava em sua mente. Os olhos carregados de sono e pesar liam, enquanto o coração ensaiava uma prece solitária.
O cetro a seu lado parecia luzir a lembrança de gloriosos anos passados, de uma vida aventureira. De um povo feliz, vivo. Foram muitas gerações antes de Manfred.
Assinou a carta. Olhou para o mapa de toda aquela região diante de si, à altura de seus olhos, à frente da escrivaninha. Uma furtiva lágrima transbordou.
Levantou-se. Uma flauta solitária tocava melodias sibilantes. Andou pelo aposento. A chuva caía, acinzentando a noite. O músculo noturno pulsava através da malha celestial. Manfred sentou-se novamente.
Fechou o papel, dobrando-o em partes iguais. Colocou algumas gotas e vela e o selou com a marca do reino de Zaría.
A chuva intermitente enchia seus ouvidos, com pancadas súbitas em sintonia com seus pensamentos conturbados. Começava a clarear, mas a noite insistia, sem vontade de ir embora. Manfred precisava descansar, mas não havia tempo naquele momento. Urgia que o documento fosse entregue rapidamente.
Saiu da biblioteca. Eis que todos, mesmo os músicos, dormiam. Acordou um mensageiro real. Encaminhou a entrega da carta. Logo a seqüência de acontecimentos teria início.
Ao subir novamente as escadas, deteve-se por algum tempo à grandiosa janela, até avistar a saída do mensageiro, a cavalo, empunhando a bandeira de Zaría.
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Dias depois, no reino de Eleadna, um documento é entregue nas mãos da rainha. O dia está ensolarado. Raios dourados atravessam as altas cortinas, que esvoaçam levemente ao assovio da brisa. Aka retira o selo e começa a leitura com olhos atentos:
Vossa Alteza,
Em nome do povo de Zaría, a nobreza deste reino agradece a gentil oferta de rendição. Entretanto, nosso povo é ágil em refuta-la, empunhando os arcos em defesa de nossas terras.
Vossa Majestade deve pensar, em seu âmago, que a expansão promovida pelo seu exército será ilimitada, porém, suas demarcações terminam onde as nossas começam.
Alteza Aka, só conflitaremos entre nós se o vosso intuito de invadir o que conquistamos persistir. Temos alianças valiosas, conforme é de seu conhecimento.
Atenciosamente,
Rei Manfred
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Alguns dias se passaram em silêncio, até que a cabeça do mensageiro de Zaría fosse deixada às portas do castelo do Rei Manfred. Estava para se iniciar um conflito sangrento nas terras de Mìr.