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Alguns Poemas Pessoais

MensagemEnviado: 29 Dez 2007, 12:54
por Lanzi
Sem título

Talvez por própria decisão
Acaso e/ou sadismo do destino
Não sofro de nenhuma paixão
E pereço num eterno desatino

E sob vigilância desse desatino
Sobre o orvalho frio eu pereço
Sequer o julgamento de um menino
É capaz disso inverter; eu mereço

Tendo a vida minha captada pela lente
Me recuso a lutar contra a tortura
Dos dias que vem e vão como cascata

Espero sentado pelo sol nascente
Na esperança do fim dessa amargura
Que nasceu de mim em esquecida data

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Frieza

A guerra irrompe em sua vileza
Não me surpreende a turba em paz
Até eu posso carecer de tristeza
Quando a guerra já não me satisfaz

Passividade essa, com a qual me contento
Não é criação própria ou coisa de momento
Adquiri com os dias, com o passar das eras
Das notícias tristes; a imunidade de uma fera

Eis então meu corpo repleto de anticorpos
Destemidos e frios como qualquer guerra
Me tornam incapaz de derramar um choro

Por mulheres, crianças ou homens mortos
Condenado a ignorar uma criança que berra
Culpa minha não é, mas das notícias em coro

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Febre

...Tantas teorias, banhadas em total ternura
Resplandecem em rebocos de azulejo febril
Que espreitam nas dores insossas e seborréicas
Daqueles que jazem no mormasso da solidão
Arquitetada por teorias feitas com ternura

E nas paredes do labirinto hostil da vida
Onde monstros analisam com frieza, as circunstâncias
Que cerceiam os nossos caminhos já tão limitados
São erguidos cartazes maravilhosos, molhados de verniz
Onde brilha a servidão infinita ao lado do poder infinito

E durante os estupros sorrateiros nos espasmos
Que precedem a tortura totalitária desse esquema
Brilha um arco-íris preto e branco de esperança
Listrado com as cores mortas já há muito tempo
Que ainda insistem em nos alertar: não há vida sem vida

Assim como não há motivo em achar a saída
Assim como não é possível percorrer caminhos tão tortuosos
Assim como, num soslaio eterno, o futuro se dissipa
E o presente é o que importa, nada mais,
Assim como o esporro daqueles que querem gozar,
E o mesmo gozo agora cai,
banhando toda a parafernália humana que constrói
E espera para logo depois destruir...

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Voe


O ar que sussurra
É belo, é esmero.
É tão leve que nem posso pegá-lo.
É tão leve que nem posso navegá-lo.

É tão leve que sai por aí voando.
Sou tão pesado que só fiquei olhando.

Alguns Poemas Pessoais

MensagemEnviado: 31 Dez 2007, 01:30
por Mirallatos
Saudações Sr.Lanzi!

Dentre estes poemas eu destaco que me ative mais a dois : "Frieza" e "Voe". O primeiro porque me identifiquei particularmente, e o segundo por me lembrar vagamente da minha infância. No mais, não me ative muito a métrica, portanto nem vou comentar.

Um parênteses: achei o "Febre" muito subjetivo, um recorte de idéias e angústias que ao meu ver mais significam pro poeta do que para o leitor. Bem, que se dane também, se você gosta, a quem importa? :cool:

Alguns Poemas Pessoais

MensagemEnviado: 07 Jan 2008, 18:22
por Dahak
Léo!
Meu eterno amigo Stockler, tudo bem contigo?
Espero que sim.

Nossa, tem muito tempo que não te vejo dedilhar poesias.
Muito tempo mesmo.
Foi uma agradável surpresa ver que ainda desenvolve trabalhos assim.

Tal qual o Mira, gostei muito de "Voe".
Achei poeticamente bem completo, muito bem feito.
Sucinto, simples e gostosinho de ler.

Notei que houve um primor bacana pela escolha de palavras em "Frieza", com umas passagens em que o jogo ficou bem legal.

"Febre" achei mais pretensioso que os outros dois. Um pouco menos maduro também.
Pareceu-me o que mais exigiu empenho e o que tentou abraçar mais coisas, aliás, foi o que mostrou um vocabulário mais vasto.

Não me parece muito confuso, parece-me mais que faltou uma última talhada.

E seu "Sem título", apesar de poder soar meio absurdo da minha parte, pareceu comentar de si mesmo. O poema falando do próprio poema, de seu lado sem valor, esquecido, desmerecido ou tristonho.

Bom, foram essas minhas impressões.

E o convido a aparecer mais vezes :P

Abração!


Dahak Out