por crudebuster em 25 Out 2010, 01:42
Me disseram pra desenterrar isso aqui.
Mas é de um mau-gosto terrível, aviso. Para quê, tocar num tópico tão antigo pra dizer tão pouco, ou retocar com um pouco de filosofia barata?
Pois bem.
O que eu tenho a dizer sobre o amor, nunca tendo amado nada mais do que por breves momentos, tendo a sobriedade de observar o puro materialismo do ato, da sexualidade à flor da pele, e me decepcionado terrivelmente com os desfechos dos relacionamentos alheios, tenho a dizer dois dedos de prosa aqui.
Sabe, dizer pra alguém que viver a vida intensamente é a única maneira certa e boa de viver é como dizer a um faminto que coma, que um sedento sacie sua sede, que um doente se cure... Há centenas de boas metáforas pra isso.
Mas a vida não tem manual de instruções. Viver intensamente pra alguns significa se jogar em um caminho de auto-destruição às custas de paixões, de desejos mundanos de prazer, ou mesmo de amores platônicos e caricatos onde o amor é uma peça de decoração, um peão no tabuleiro do jogo dos amantes.
E pra minha surpresa, não existe jeito errado de viver intensamente. embora me entristeça muito que todos os sonhos realizados sejam recheados de deformidades e imperfeições quando deixam as mentes que os desejam, são todos sonhos com direitos iguais perante as leis dos pensamentos.
A vida te dá várias opções de realizá-los, junto com seu preço e duração. Um parque de diversões onde o melhor brinquedo está sempre com a maior fila e você só dá umas duas voltas, antes de escolher outro ou voltar ao final da fila.
Ou não brincar nunca mais.
Não me entristece saber que são finitos os sonhos, como nuvens ao cruzar o deserto, ou que mesmo não consigam matar a sede de seus sonhadores, mas que o dia-a-dia os torne enferrujados e tolos como brinquedos velhos nas praças da vida.
Você pode enjoar antes mesmo de sua segunda volta, então você quer sair mas não pode. E o sonho se torna longo, um pesadelo, uma tragédia.
Já me enraiveci muito com canções que insistiam que ninguém que nunca amou não tem como saber da dor que é amar.
É tolice achar que é necessário quebrar uma perna pra saber o que é mancar. Ou mesmo que é imprescindível comer esterco pra saber que gosto tem.
Muito embora o amor leve muito a arriscar alto, apostar muito de olho no lucro e não no prejuízo, eu me acautelei por demais e cultivo o lema do senhor Rod Stewart, "Se você ama alguém, se realmente ama uma pessoa, deixe a livre".
Porque prender o pássaro na gaiola pra poder ouvi-lo cantar todo dia, encher um aquário de peixes pra poder admirar sua beleza e pôr uma aliança em um dedo a caráter de criar um vínculo permanente além dos juramentos perante uma divindade é apenas uma cerca no carrossel que brincamos pra que não entre mais ninguém.
Viver preguiçosamente enjoa. Viva do jeito que quiser, mas viva intensamente, dizem entre guimbas de cigarros e garrafas vazias. Nada mais óbvio e presunçoso que achar que quem vive diferente do meu ideal vive errado!
E presunção e obviedade não são coisas boas pra alguém que se diz sábio de algum assunto, né mesmo?
Mas não é minha intenção ofender. Somente mostrar outro ponto de vista, mais um dentre tantos.
Desses sim, podemos silenciosamente observar aos outros se divertindo enquanto a lua vigia os casais enamorados girando nos brinquedos do parque de emoções de nossas vidas.
Ah, meu brinquedo quebrado, que saudades tenho do tempo que ainda o tinha no terreiro de minha imaginação.
Não tem conserto.
E eu esqueci de você.
Não sei mais como funciona.
E não sei mais se sei brincar.
Ou será que fui eu que quebrei e você ainda me espera pra brincar?
Ou fui eu que te quebrei e fui punido com o esquecimento, o vazio de sua ausência?
Mas chega por hora. Não é lógico ter saudades do que jamais houve, ter lembranças de algo que não aconteceu.
E ainda assim dói, como se tivesse sido amputado e cauterizado de mim.
Só me resta fingir que perdi o que nunca tive, para não perder o pouco de graça que insisto em ter de viver.