Fala-se muito a respeito das mudanças que sofremos com essa última "reforma" ortográfica (que não será discutida aqui); diversas alterações em sinais gráficos, acento, grafia de palavras: um certo temor ronda todos aqueles que precisam escrever no dia-a-dia e que se preocupam minimamente em respeitar a norma culta, pois a falta de informação que cerceou essa reforma deu lugar a especulações da pior ordem (não houve gente falando que todos os acentos tinham sido abolidos?).
Acordo ortográfico ou não, existe um problema mais básico: a maior parte das pessoas erram (e erram feio) palavras e expressões corriqueiras, que passaram longe de ter sido revistas nessa última reforma. Errinhos bestas, palavras malformadas, má interpretação de expressões... isso tudo paira sobre os escritos de hoje em dia.
Muitos dirão: "mas isso é um fórum! Isso é a internet! Qual a necessidade de se escrever corretamente?". Engraçado pensar que existe uma "chave" no cérebro para ligar ou desligar a má escrita; quem não sabe como se escreve "exceção" não sabe em qualquer situação, seja na internet, seja num relatório, seja num e-mail formal. A escrita é a mesma em todos os níveis; muitos adolescentes acabam incluindo em suas redações (até de vestibular, pasmem) aquelas abreviações que, embora comuns e aceitáveis no messenger, acabam tornando um texto escrito cifrado e pouco claro.
Da mesma forma, erros crassos acabam sendo eternizados por uma legião de ignorantes que passam a repeti-los incessantemente, seja por desconhecimento, seja por preguiça de conferir o certo.
Escrever bem é indispensável em qualquer ocupação; ora, se uma pessoa normal leva uns cinco anos para se tornar fluente num idioma como inglês (e adicione aí um intercâmbio, para "viver" o idioma), que desculpa temos nós que, depois de vinte ou trinta anos tendo contato PLENO com o idioma, não sabemos escrevê-lo devidamente?
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Tentarei colocar em ordem alfabética uma porção de erros que tenho lido recentemente em fóruns, blogues, noticiários etc.
Afim
O dicionário Priberam define:
Priberam escreveu:afim
s. m.
1. Parente por afinidade.
2. Fig. Partidário, amigo.
adj. 2 gén.
3. Semelhante; que tem muita relação com outro.
Então, se você tem vontade de algo, você está a fim (duas palavras) disso. Mas se você fala de coisas semelhantes, por exemplo, pode falar de "estudar a Odisséia e épicos afins".
Agente
Sim, é certo que o pronome "nós" está perdendo o espaço, mas não é possível que ninguém se dê ao trabalho de entender o que significa "a gente". "Agente" é James Bond, Austin Powers, Nikita. Se estamos falando de nós mesmos no coletivo, "a gente" se escreve separadamente.
Apartir
Um que acho que nunca entenderei. Estamos falando de partir, de um ponto de partida; uma loja que vende produtos "a partir de 2 reais" pega esse preço como ponto de partida, não de... "apartida".
Ascenção
Jogadores de Mago... que vergonha. Não saber soletrar o nome do jogo que vocês jogam? Por mais ridículo que possa parecer, a maioria esmagadora de jogadores de Mago: a Ascensão não têm a mínima noção da grafia do título do livro! Está na capa, na contracapa, na lombada, em TODOS OS CABEÇALHOS! E olha que eles supostamente precisam ler muito o livro para jogar...
Chingar
"Xingar" é com "x", sua anta!
Concerteza
Essa é outra que não consigo entender. São DUAS PALAVRAS! Engraçada (e ao mesmo tempo triste) é a preocupação de escrever "n" antes de "certeza"... afinal, segundo a boa ortografia, "m" só vem antes de "p" e "b"! Essas junções pavorosas de palavras independentes (apartir, afim, concerteza) só vêm mostrar uma coisa: as pessoas não PENSAM no que escrevem. Se você usar um pouquinho dos glúteos, vai perceber que não faz o menor sentido unir "com" e "certeza"; vale a pena tentar, eu recomendo: dizem que pensar até emagrece!
Criancisse
Essa é de doer. Na ânsia de parecer inteligentes, os néscios tentam criar neologismos bacanas para supostamente enriquecer suas conversas... mas esbarram em suas próprias limitações intelectuais, fazendo o que sabem fazer de melhor: IDIOTICE. Todas essas palavras que indicam conduta própria de um tipo de pessoa se grafam com -ICE: sandice, criancice, tolice, babaquice. Quando os parvos resolvem juntar seu vasto vocabulário para formar aberrações como... "cabacisse", você percebe o nível.
Denovo
Olha lá aquele problema de juntar as palavras que são obviamente independente. De novo. Pensar deve doer.
Descente
Talvez seja complicado demais para o cérebro humano que existam palavras como "descendente" e outras como "decente". Não há explicação para essa fusão obscena, esse aborto lexical. "Ah", dirão as azêmolas, "mas português é muito complicado, tem 'sc', 'ss', 'sç'...". Supere. A escrita em português é fácil se comparada a tantas outras... e não vejo esses povos perdendo tempo em chorar por causa disso.
Esteriótipo
Mera intervenção da pronúncia na escrita. Rapaz, não sejas um asno e perceba que a pronúncia jamais será idêntica à escrita, por mais que os chorões possam acreditar em escrita fonética e outras coisas da carochinha.
Expontâneo
Se ainda aprendêssemos latim na escola, saberíamos que certas coisas simplesmente não se encaixam. Vejam "excêntrico", por exemplo; nada mais simples do que pensar na preposição "ex" (ou seja, "saindo de", "para fora de") junto da raiz de "centro", ou seja: alguém que sai do centro, alguém que é diferente dos outros, etc. É muito simples. E sabendo da origem (e sabendo pouco!), você saberia escrever direitinho a palavra. "Espontâneo" tem suas origens na palavra "sponte" (ablativo da desusada spons), que significa "vontade própria, desejo". Como o português não permite que palavras comecem com "s+consoante"... é simples assim.
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Vocativo tem vírgula, sua cavalgadura!
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Graças à crase...
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(em desenvolvimento)