Guia básico de Bom-senso nos debates

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Guia básico de Bom-senso nos debates

Mensagempor 3libras em 13 Nov 2010, 12:31

Copiado de outro fórum, achei extremamente pertinente ao nosso e especialmente a esta parte do fórum. Mas não sei se é um tópico para o OFF-Topic ou para se fixar globalmente rs.

1) Precisão nos termos

"Ah, Apanhei-te", de Matin Gardner (cap. 3; Geometria…):
William James, na sua clássica obra de filosofia Pragmatism, apresenta uma discussão interessantíssima do paradoxo do esquilo e do caçador, como um modelo de um desentendimento puramente semântico. A discórdia desvanece-se quando as partes em desacordo chegam à conclusão que estão apenas a discutir como definir uma palavra.


"Nome da rosa", de Umberto Eco:
Tal é a magia das falas humanas, que por humano acordo significam muitas vezes, com sons iguais coisas diversas.


Muitos termos têm significados diversos e são vagos.
Deve-se explicar como é empregue os termos vagos em determinado contexto.

2) Precisão nas especificações

"Alice no país das Maravilhas", de Lewis Carroll:
O argumento do Carrasco era que só podia cortar a cabeça de uma pessoa se houvesse um corpo para degolar e que nunca fizera uma coisa dessas antes e que não era com aquela idade que ia começar a fazê-lo.
O argumento do Rei era que tudo o que tinha uma cabeça podia ser decapitado e que era bom não dizerem mais disparates.


"As viagens de Gulliver", de Jonathan Swift :
«Que todos os verdadeiros fiéis partam os seus ovos pelo lado mais conveniente.»


Blaise Pascal, in 'Pensamentos' (Fonte: Citador)
Que difícil é propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro, ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo, ou irritamo-la, levando-a ao juízo contrário.


A maneira como se apresenta um problema é um passo para a sua resolução.
Deve-se especificar os problemas com precisão.
Deve-se ser preciso sobre o objectivo do problema.
Muitas vezes uma definição precisa dos termos usados no problema facilita a resolução.
Se um problema for muito abrangente, é uma boa ideia "dividir para conquistar" (uma técnica usada em computação), isto é, dividir o problema em subproblemas.

3) Compreensão das ideias

http://www.lionsportugal115cs.org/docs/ ... aLions.pdf :
Hoje, é reconhecido que uma das maiores, senão a maior, necessidade humana é ser entendido e apreciado . Para satisfazer esta necessidade, comunicadores eficazes procuram entender os outros antes de tentarem influenciá-los.
Entender os outros depende da empatia. Empatia, é a capacidade de olhar para uma situação sob o ponto de vista do outro e entender os sentimentos e as crenças dessa pessoa.


Bertrand Russell (Fonte: Wikiquote):
É importante aprender a não se aborrecer com opiniões diferentes das suas, mas dispor-se a trabalhar para entender como elas surgiram. Se depois de entendê-las ainda lhe parecerem falsas, então poderá combatê-las com mais eficiência do que se você tivesse se mantido simplesmente chocado.


Para criticar o argumento de alguém é preciso compreendê-lo.
Se as ideias de um argumento baseiam-se numa crença de um grupo organizado, em teorias de determinada área ou de qualquer convenção, deve-se estudar o assunto da fonte, dos seus partidários para entender a sua posição pública e de críticos com experiência no assunto.
Para compreender o sentido de determinadas frases deve-se ler o texto completo dos seus autores, das fontes citadas.
As fontes mais fiáveis para compreender uma teoria ou crença
são originadas pelos especialistas, autores e organizações reguladoras.
Todo aquele que fala sobre um assunto que não compreende, arrisca-se a revelar-se ignorante. E se fala como se fosse um especialista não sendo, arrisca-se a revelar-se estúpido.
Se alguém usa um termo que é vago na sua aplicação, deve-se pedir que se precise, isto é, que explique com precisão.

4) Informação pró-ativa

"Como fazer perguntas inteligentes", de Erich Raymmond :
Há uma tradição antiga e respeitada: se você recebe uma resposta escrita "RTFM", a pessoa que enviou pensa que você deve Ler A Porra do Manual ("Read The Fucking Manual"). E ele provavelmente está certo sobre isto. Vá ler o manual.

Fazer perguntas sobre algo que pode ser esclarecido por uma pesquisa por fontes acessíveis como dicionários, enciclopédias, manuais e Web faz perder tempo das pessoas, haver várias respostas repetidas e interromper o fio de um debate sem necessidade e impede o desenvolvimento intelectualmente e o espírito crítico.

5) Empatia e honestidade intelectual

Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica' (Fonte: Citador) :
Só alcançamos a verdade do nosso pensamento quando incansavelmente nos esforçamos por pensar colocando-nos no lugar de qualquer outro. É preciso conhecer o que é possível ao homem. Se tentamos pensar seriamente aquilo que outrem pensou aumentamos as possibilidades da nossa própria verdade, mesmo que nos recusemos a esse outro pensamento.


"O nome da rosa", de Umberto Eco (Sexta, Vésperas) :
Tive a impressão de que Guilherme não estava de modo nehum interessado na verdade, que mais não é que a adequação entre a coisa e o intelecto. Ele, pelo contrário, divertia-se a imaginar o maior número de possíveis que fosse possível.
Naquele momento, confesso, desesperei do meu mestre, e surpreendi-me a pensar: «Ainda bem que chegou a Inquisição.» Tomei partido pela sede de verdade que animava Bernardo Gui.


Há atitudes éticas num debate que devem incentivar a honestidade intelectual.
O objectivo de alguém que debate não é vencer.
O objectivo de um debate é encontrar soluções pragmáticas.
Os resultados são mais importantes que os métodos.
Um debate é uma oportunidade de compreender as posições contrárias e de nos desenvolvermos intelectualmente.
Um debate pode melhorar as nossas ideias e corrigir os nossos erros.
Um debate pode mostrar não só os erros dos outros mas também os nossos.

6) Falseabilidade e evidências

"História da Filosofia", de Bryan Magee:
O «justificacionismo», como Popper acabaria por chamar-lhe, é completamente obstinado. Se construirmos uma casa sobre estacas num pântano, é preciso enterrar as estacas a uma profundidade suficiente para sustentar a estrutura e sempre que ampliarmos a casa é preciso enterrar ainda mais as estacas, mas não existem limites para esse processo: não existe um nível «definitivo» de fundações que sustente tudo sozinho e não há uma base fornecida ou «natural» para esta ou aquela estrutura.


"O falsificacionismo de Karl Popper", de David Papineau :
As leis de Newton, por exemplo, dizem-nos exactamente onde certos planetas aparecerão em certos momentos. E isto significa que, se tais previsões fracassarem, poderemos ter a certeza de que a teoria que está por detrás delas é falsa. Pelo contrário, os sistemas de crenças como a astrologia são irremediavelmente vagos, de tal maneira que se torna impossível mostrar que estão claramente errados.


Carl Sagan (Fonte: Wikiquote) :
Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.


"O nome da rosa", de Umberto Eco:
Os livros não são feitos para se crer neles, mas para serem submetidos à investigação.


Francis Bacon (Fonte: "História da Filosofia", de Bryan Magee) :
Estamos muito gratos a Maquiavel e outros que escrevem sobre o que os homens fazem e não sobre o que eles deveriam fazer


Num debate só são relevantes argumentos debatíveis.
Os dogmas por definição não são debatíveis.
Se assume-se um conhecimento completo, então torna-o incontestável, e por isso um dogma.
Toda a crença que é sempre sustentada por justificações em qualquer contexto, é um dogma.
Todo o argumento só é debatível se for falseável.
Todo o argumento relevante tem como objetivo resolver o problema proposto de forma pragmática.
As soluções pragmáticas são verificáveis e mensuráveis.
As soluções pragmáticas tomam o maior número de vantagens e o menor número de desvantagens.
Crenças não são evidências.
O que deve ser (norma) não é o mesmo do que é (descrição).


7) Simplicidade

"Nome da rosa", de Umberto Eco :
Querido Adso, não é preciso multiplicar as explicações e as causas sem ter necessidade disso.


"Merton" (Fonte: A CIENTIFICIZAÇÃO DA SOCIEDADE - A POLITIZAÇÃO DA CIÊNCIA :
Estava claro que na explicação do erro e da opinião não demonstrada havia a necessidade de invocar fatores extrateóricos. E que eram necessárias explicações especiais a partir do momento em que a realidade do objeto não podia explicar o erro.


KISS - "Keep It Simple, Stupid!".
"Se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então devemos escolher a mais simples".
"Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" ("as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário").
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Re: Guia básico de Bom-senso nos debates

Mensagempor KhanNoonienSingh em 15 Nov 2010, 13:54

O objectivo de alguém que debate não é vencer.


Dando a devida ênfase
"From Hell's heart I stab at thee; for hate's sake, I spit my last breath at thee!"
Khan Noonien Singh, últimas palavras.
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Re: Guia básico de Bom-senso nos debates

Mensagempor 3libras em 16 Nov 2010, 11:14

KhanNoonienSingh escreveu:
O objectivo de alguém que debate não é vencer.


Dando a devida ênfase


Concordo que esse é um dos pontos principais, é o que diferencia um debate de um "bate-boca" mas apenas boa vontade não faz um grande debate.

Eu costumo dizer que quem vence um debate é o entendimento e pro entendimento vencer, é preciso saber apresentar os argumentos, guiá-los e se portar diante dos argumentos dos outros.
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Re: Guia básico de Bom-senso nos debates

Mensagempor Elven Paladin em 16 Nov 2010, 12:52

Esse tópico deveria ficar entre aqueles permanentes ou mesmo como anúncio ( assim como aquele que anuncia eventos ). Algum Moderador/Administrador/Supervisor/Monitor pode fazer isso?
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Re: Guia básico de Bom-senso nos debates

Mensagempor 3libras em 11 Dez 2010, 17:46

O problema é que esse tipo de postura não agrada a maioria das pessoas.

Uma coisa comum é ver um novato em um fórum, orkut ou qualquer outra coisa ser linchado quando fala de alguma idéia batida, pede uma informação sem ter googleado, infringe uma das regras etc etc.

A spell tem um nível intermediário disso. eu vejo o ápice disso as comunidades de jogos de pc no orkut e as de informática/linux.
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