Deicide escreveu:Cultura é uma coisa complicada, mas estamos falando de um cenário em que bem e mal são forças tangíveis.
Mas mesmo que tentemos encontrar uma situação em que é difícil dizer que algo é bom ou mal, onde escravagismo é uma coisa normal e tudo o mais, isso é bem diferente de simplesmente colocar lá: "Eles têm escravos, inclusive haréns de mulheres para procriar" e ignorar todas as implicações infortúnias que existem por trás disso. Se querem que tratemos toda a sociedade de minotauros em termos complexos, que vão além de bem ou mal, então eles têm de apresentá-la como uma sociedade complexa, e não apenas dizer: "Eles têm escravos, mas os tratam bem, então está tudo bem".
Pra não entrar em discussões inúteis sobre detalhes, concordo com tudo que você disse até aqui. O problema é que, fora o pessoal que escreveu a resenha do .20, não conheço mais ninguém que tenha lido o material. Até por isso eu estava pedindo para o Oda me indicar outras resenhas. Desculpe, eu tenho a impressão, e você há de convir que às vezes é verdade, que o pessoal pula logo pra bater e falar mal, mesmo sem ter lido diretamente. Mas até aqui eu estou assumindo que você também não leu o Guerras Táuricas, e falha minha, você pode já ter lido.
Por outro lado, a resenha chama o material de livro mais repugnante da história do RPG nacional, mesmo dizendo que vale a pena comprar. Isso depõe contra.
Deicide escreveu:Há uma grande diferença entre o cenário acima, em que duas culturas se apoiam e aceitam naturalmente suas imperfeições, e Tormenta. Esse é um tópico de Tormenta, não sobre as implicações da escravidão.
Grifei sua resposta. Se o pessoal de Tormenta não quisesse que o cenário fosse julgado dessa maneira, eles deviam ter abolido o sistema de alinhamentos no TRPG...
Pois é, justamente, também grifei sua resposta. Se este é um tópico sobre tormenta e não sobre as implicações da escravidão, então não faz sentido implicar com as implicações (uff, doeu) sobre escravidão pra atacar o material ou pra defender o material. Tem que valer pros dois lados, não só pro lado que você defende; se não, não tivessem levantado essa lebre. Agora, uma vez que alguém trouxe as implicações sobre escravidão à tona, e todo mundo está se apoiando nelas pra criticar o material, desculpe, tem que aguentar as incongruências que surgem quando se apoia nesse argumento, não dá pra revarrer pra debaixo do tapete. No mais, acho essa coisa de "ó meu deus, no D&D não é assim" um discurso muito furado, que não aceita inovação, principalmente partindo daquilo ou daqueles que não gosta. Não estou dizendo que tem que achar legal, tem que gostar, mas tem que saber fundamentar melhor o desgosto.
Deicide escreveu:Engraçado que meus personagens choram. Aliás, gosto de personagens que estão na aventura por um motivo maior, e não para matar/pilhar/destruir/ganhar itens mágicos.
(Ontem fiquei muito incomodado quando um personagem de jogador quebrou o dedo do vilão durante um interrogatório para tentar intimidá-lo... o vilão era um grande filha da puta que mantinha escravos e tal, mas aquela cena fez com que aos meus olhos o personagem perdesse toda a vantagem moral na situação. A partir dali, ele não era mais "superior" ao vilão, e infelizmente o jogo tem muito clima de heroísmo idealista, então aquilo foi pra mim uma mancha feia na história).
Todos os seus personagens choram as mortes de todos os goblins, orcs e necromantes?
E, mesmo que chorem, não adianta dizer que este é o ponto do jogo. Esses bichos tão lá pra gente matar eles e se sentir bem. E ninguém reclama que D&D simplifica e justifica o assassinato ("ai, eles dizem que se existem criaturas do mal, e tudo bem se a gente matar elas. ELES INCENTIVAM O ASSASSINATO"), embora seja o que está acontecendo aqui com a escravidão. Coisa que não tem nada a ver com a escravidão, mas só com levantar encontrar pelo em ovo pra linchar Tormenta.
E eu ia te zoar, dizendo que se você se incomoda frequentemente com situações violentas ou imorais que ocorrem dentro de jogo, é melhor parar, dar um tempo. Mas não vou fazer isso não, que seria sacanagem e arranjar farpa a toa.
Deicide escreveu:Para mim, cenário têm "níveis" de complexidade, e são julgados de acordo com o nível deles. Se você quer fazer um cenário "seção da tarde" (que é como Tormenta se apresenta), e me vêm justificando escravidão, isso é uma grande idiotice. Se você faz um cenário mais adulto e complexo contudo, é preciso tratar esses temas mais polêmicos com mais cuidado.
Há, por exemplo, uma grande diferença entre o escravagismo de Tormenta e o de Dark Sun. E olha que Dark Sun não é um cenário tããããão complexo assim.
Na verdade, não é sessão da tarde, é "o que você quiser que seja", e essa é uma das principais críticas ao cenário, não é? Porque se o problema dele for só ser sessão da tarde, então a gente precisa deletar metade deste tópico, acho. Mas suponhamos que essa parte das Invasões Táuricas seja sessão da tarde... Qual o problema de apresentar a escravidão élfica como dado do cenário, sem grandes explicações complexas? "Jogando campanhas em Tapista, é assim, se você não gostar, pode jogar em outras áreas do reinado". Além do mais, se eu não me engano, também há módulos pra jogar campanhas de libertação, contra o jugo dos escravagistas, se te incomoda mesmo o tema da escravidão. E aí, o qqq 6 achäo:/
No mais, eu fiquei curioso pra saber como Dark Sun resolve o problema da escravidão. Não sou familiarizado com o cenário. Alguém pode me contar? Talvez já fazendo a comparação com Tormenta?
Deicide escreveu:Para eles não era repugnante, claro. Se fosse, eles não faziam. Aliás, mesmo hoje muita gente não tem noção de que isso é errado. Antigamente, nem a ideia de "infância" existia. As coisas mudaram porque hoje sabemos que tipo de traumas esse comportamento causa. Eles não tinham essa noção.
Mais uma vez: você está julgando a construção de uma sexualidade pelo viés de outra construção completamente diferente. É impossível afirmar que era tão traumático quanto é hoje, uma vez que os tabus, as implicações, eram outras. Os garotos não eram molestados às escondidas pelo tio solteiro e depois descobriam que isso é feio e sujo. Não, completamente diferente, não dá pra afirmar.
Deicide escreveu:Repensando minha posição, é difícil dizer se expancionismo é "bom" ou "mal". Acho que acaba sendo neutro mesmo, pendendo para o "mal" de acordo com seu propósito e com a forma como ele é obtido. Expancionismo pode até pender para o "bem", mas só se estivermos falando de um mundo idealizado (como os de D&D), em que uma nação expande para parar práticas "más" e libertar povos oprimidos e tal...
Por exemplo, um reino humano expandir para destruir reinos Illithid e salvar os escravos é um expancionismo "bom", certo?
Sim, num caso de mundo de fantasia, sem nenhum tom de cinza, expansionismo pode ser completamente bom. Quanto mais tons de cinza se coloca, mais complexa a relação entre os povos e reinos fica.
Deicide escreveu:Para mim, influência é o deus fazer uma pequena mudança no mundo físico, que por si só acaba criando consequências naturais a ela. Thwor Ironfist é um bom exemplo. O deus gerou um escolhido, mas a partir daí tudo o que acontece é causa e consequencia disso.
Agora, toda uma raça "subitamente" querer se sujeitar à escravidão é outra história. Isso não é mais só influência, é intervenção mesmo. Intervenção não precisa de efeitos especiais imponentes, basta ter consequencias não-naturais.
Mas a situação material que possibilita os elfos se sujeitarem aos minotauros está toda lá: eles não têm mais um reino, não têm uma sociedade organizada, e existe uma outra raça no cenário que considera seu imperativo categórico (eu ia escrever dever natural, mas assim é muito mais chique) acolher e proteger os mais fracos. Que alguns elfos tenham se sujeitado à proteção dos minotauros é uma consequência facilmente previsível, não precisa da deusa elfa se entregar ao deus minotauro pra gente pensar nisso ocorrendo. Só que claro, como odiamos muito tormenta, qualquer coisa é contradição. Não estou falando que não haja, o que eu estou dizendo é que a discussão neste tópico tem se concentrado geralmente em buscar pelo em ovo.