Ao invés de me centrar em toda a discussão, focar-me-ei em um argumento que está sendo usado, o chamado Argumento do Designer, e quero explorar um pouco do que o suporta e algumas implicações desinteressantes para alguém que segue certas concepções de divindades (basicamente, eu quero levar esse argumento “Ad Absurdum”).
O cerne do Argumento do Designer é “o quão maravilhosamente complexos são os seres vivos e quão incrível é o equilíbrio mantido por seres vivos por si próprios e com fatores abióticos ("equilíbrio ecológico”). Eu concordo de modo geral com essa afirmação, mas há alguns fatores que devem ser levados em conta.
Um deles foi notado primeiro por Thomas R. Malthus, que é uma observação simples: Todo ser vivo tem uma incrível capacidade de gerar descendentes, todo ser vivo gera mais descendentes do que poderiam ser suportados pelo meio onde ele vive.
Isto é válido em todos os níveis tróficos, desde predadores (cujo o excesso levaria a escassez de presas, e por conseguinte, a morte dos próprios predadores), consumidores primários (cujo o excesso levaria ao consumo de todos os produtores, e por conseguinte, a morte dos consumidores primários) e mesmo produtores (cuja dispersão é limitado pelo próprio espaço físico, pela disponibilidade de certos fatores como solo, iluminação ou certas substâncias, no caso dos produtores quimiossintetizantes). Ou seja, o próprio equilíbrio é garantido por uma série de “conflito de interesses” e limitado pelo ambiente ao redor (aliás, o próprio equilíbrio é de certo modo ilusório, já que ele dinâmico e sujeito a modificações constantes ). É necessária a ocorrência de dezenas de conflitos e uma boa soma de desperdício para que isso ocorra (traduzindo em termos menos gentis: Mortes. E aqui a morte pode significar tanto a "morte per se" como morte para fins evolutivos, que é a não-reprodução. Para fins evolutivos, ser exclusivamente homossexual, totalmente celibatário, estéril ou morrer antes de se reproduzir são exatamente a mesma coisa)
Tamanho desperdício é algo que eu não esperaria de um Designer Inteligente e Bondoso. (Para aqueles que tem curiosidade, eu usei basicamente a mesma linha de argumentação que levou tanto Darwin quanto Wallace a deduzir a existência da Seleção Natural). Oh, de certa forma, isso também é um belo golpe contra a Teoria de Gaia, ao menos sua versão mais “pesada”.
Levando em conta os eventos acima (que acho que ninguém contestaria, já que são fatos), acho que é possível ver que a ocorrência do Designer é desnecessária, ao menos no nível das interações ecológicas(e de certa forma esse argumento é uma analogia ao funcionamento da economia, mas eu não vou além disso. Basta entender que assim como a Economia, a Ecologia se baseia em uma série de conflitos de interesses movidos por motivação individual e com razões egoístas e sem um planejador central - e quando existiu, em certas nações, o planejador central foi um fracasso estrondoso).
Porém ainda temos os seres vivos, que são incrivelmente complexos e tem mecanismos que apenas um Designer faria. Não entrarei nessa discussão, mas vou citar alguns elementos que são interessantes, como o fato de que diversos seres vivos tem órgãos ou estruturas que de certo modo, são desnecessárias ou problemáticas, ou algumas convergências evolutivas muito curiosas (evolução convergente é um fenômeno onde dois ou mais seres, de ramos bem dispersos, tem uma série de características similares).

Vê essa criatura da foto? É uma Cobra de Vidro. Só que ao contrário do que o nome sugere, ela não é uma Cobra, é um Anguidae (uma família de Squamata, diferente das “Cobras”, que são da infra-Ordem Serpentes ). De certa forma, o Designer Inteligente criou criaturas similares usando modelos diferentes, basicamente, repetindo o seu projeto, algo que um Designer realmente inteligente não faria.
E a situação fica ainda pior se colocar as Cobras-Cegas Anfíbias e as Amphisbaenia no meio ( são Répteis Ápodes, assim como as Cobras, mas com quase nenum relação de parentesco recente com elas ) Como vê, há uma incrível redundância nesse Projeto.
Agora, um outro caso que eu citarei, o dos Mamíferos Marinhos (como Cetáceos e Sirênios) e os Répteis Marinhos (como os extintos Ictiossauros), ambos são seres que tiveram ancestrais terrestes e que se adaptaram para a Vida na Água, com um conjunto de adaptações peculiares a cada um. Mas isso é problemático por que tanto Mamíferos quanto Répteis (que derivam de uma mesma linhagem ancestral, a dos Sauropsida) possuem Ancestrais Marinhos (todos os Tetrápodes descendem de uma linhagem de peixes com nadadeiras lobadas que também deu origem aos Sarcopterygii), então, por que o Designer Inteligente, ao invés de fazer como qualquer um com cérebro, não copiou o que interessava de seu Projeto Anterior (que gerou os Peixes e os Tetrápodes) e utilizou nos Mamíferos Marinhos e Répteis Marinhos, ao invés de refazer praticamente todo o projeto de "Criatura Marinha" do zero, com diversos estágios intermediários?
Um exemplo disso pode ser visto na filogenia que deu origem às baleias modernas:

Aliás, no caso dos Mamíferos Marinhos,a situação fica ainda mais curiosa, pois a "volta á água" foi feita não só uma vez, mas sim três vezes!
Uma delas foi com os próprios Cetáceos (Baleias e Golfinhos), a outra foi com os Sirênios (Manatis e Peixes-Bois ) e os Pinípedes (Focas e Leões Marinhos ), cada qual se adaptando ã vida marinha de maneiras diferentes e com diferentes linhagens (filogenias). A redundância e a incapacidade de reutilizar velhos projetos parece notável para o Designer Espertinho.