Smaug escreveu:Isso é algo que eu sempre quis fazer, tanto que em neurologia eu com o Pichu bolamos um experimento envolvendo mediunidade, nossa proposta era meio estranha, mas segundo o professor bem corajosa. Nunca pusemos em prática, infelizmente.
O engraçado no espiritismo é que eles tem fé de que eles racionalizam a sua fé.
Pois é. Eu queria saber o quanto é possivel racionalizar a fé e mesmo se é possivel. Sempre tive comigo que era algo que não dava certo de ser feito.
Aqui devo defendê-los, apesar de não ser espírita, tendo me dissociado dessa religião, conheço muito dela pois meu núcleo familiar é espírita (na verdade eu nunca fui um espírita de coração, mas vamos lá):
Em primeiro lugar, analise a si mesmo. As coisas não são campos estanques. A fé é uma experiência emocional. Fato, e relacionada ao lado direito do cérebro. A razão é ligada ao lado esquerdo; acontece que se deixarmos os dois desconectados totalmente, você encontra uma pessoa doente, com disfunções.
Percebe minha metáfora? Ninguém é totalmente movido pela fé, uma pessoa fervorosa pode misturar seus interesses (quaisquer que forem, de controle, poder, dinheiro, etc.) com suas crenças, estes interesses podem ser mais ligados a uma seção do ser humano ou outro, emocional ou racional, mas o fato é que MISTURAMOS AS COISAS, e o lado esquerdo é FRAGMENTÁRIO, DETALHISTA; veja que a religiosidade está cheia de EPIFANIAS, de certezas incríveis, e isso acontece porque o lado direito tende a ter visões do todo, do conjunto, intuições, etc.
Imagine fé como água. Bastante apropriado pela associação com o conteúdo inconsciente da psiquê. Agora imagine um recipiente qualquer, copo, contêiner, o leito do oceano, sei lá, e vai ver que na metáfora esta é a razão que delimita a fé. Ela sempre faz isso, acontece que os espíritas se esforçaram para aplicar mais estes limites, questionaram dogmas existentes na formulação de sua dita doutrina, estudaram mais ou menos cientificamente fenômenos comuns no século dessa formulação (reais ou não, o surto de fenômenos paranormais na Europa daquele século).
Daí se falar da fé raciocinada, você aceita as noções emocionais da fé, aquelas coisas que a razão não pode explicar ainda per se, mas depois as restringe, limita e questiona, com o crivo da razão, sem descartar a fé, sem jogar a água fora, enfim.
Problemas do espiritismo nesse sentido:
A) PARARAM NO TEMPO. O método científico tem que constantemente questionar as descobertas, como faz a física que demole suas teorias anteriores. E no caso do Brasil, nosso ambiente e a influência daquela figura religiosa chamada Chico Xavier transformou o espiritismo numa religião como todas as outras e ainda a fez parir outras religiões como a umbanda.
B) NÃO QUESTIONAM SEGUNDO SUA PRÓPRIA LÓGICA DE PARTIDA: Se espíritos são seres humanos desencarnados, a MENSAGEM QUE ELES PASSAM, por psicografia ou efeitos físicos ou whataver, VAI SER TOLDADA DE INTERESSES E VIESES, então é tolice aceitar cegamente essas instruções do além, mais do que instruções de humanos visíveis. Certamente a perspectiva de um desencarnado vai ser diferente de alguém aqui na Terra; imagine viver após na morte numa dimensão paralela que às vezes toca esta nossa, sim, você teria acesso a uma série de informações, mas quem disse que teria de passar estas informações exatamente como as vê e quem disse que teria acesso a TODAS as informações?
C) NÃO ACOMPANHAM AS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS DE NOSSA ÉPOCA, ou pelo menos não como deviam. Por exemplo, algumas EXPLICAÇÕES DADAS POR KARDEC (pq queria ou não, se vc aceitar que aquelas psicografias são verdadeiras, boa parte dos livros da Codificação são comentários do Allan Kardec, que por sinal ERA UM MÉDICO FAMOSO FRANCÊS DA ÉPOCA, DISCÍPULO DE PESTALOZZI, E QUE USAVA ESTE PSEUDôNIMO NO ESPIRITISMO PARA DISSOCIAR SUA CARREIRA COMO EDUCADOR E MÉDICO DA RELIGIÃO, POR ALEGADOS MOTIVOS ÉTICOS) se embasam na ciência de SUA ÉPOCA. Hoje em dia alguns desses embasamentos já foram derrubados.
EXEMPLO PRIMÁRIO: O ÉTER, hipótese científica que indubitavelmente gerou a explicação do "FLUIDO UNIVERSAL", junto com o magnetismo. Hoje em dia sabemos que o éter não existe pq o espaço não precisa de éter para preenchê-lo, as forças gravitacionais e outras mantém o espaço... vazio, ou quase vazio, sem maiores problemas. Antes se imaginava que esse éter enchesse o espaço sideral.
Em suma, toda vez que surgisse comprovações de teorias da física e da medicina que batessem de frente com essas explicações do Espiritismo, ele teria de ser revisado.
Pois não o foi a contento, e essas e outras são parte das razões que me fizeram deixar de ser espírita há muitos e muitos anos.
EDIT: Exatamente, como bem disse VA, teologia é racionalizar a fé. Uma teologia católica está mais próxima da filosofia, enquanto essa fé raciocinada espírita estaria talvez mais próxima do método científico, ou pelo menos , como demonstrei, essa foi a intenção declarada, e não realizada.