por shido_vicious em 11 Dez 2010, 17:08
Eu não vejo problema nenhum em fazer empréstimos dos vídeo-games.
RPG é uma coisa, vídeo-game é outra, certo. Mas eles têm coisas em comum. Em ambos os casos você usa um intermediário (personagem, nave, etc.) para interagir com uma realidade ficcional. Em ambos casos, também, o seu intermediário só interage com o ambiente mediante o uso (por parte do jogador) de uma ferramenta abstrata que traduz as intenções do usuário em uma ação do intermediário no ambiente ficcional (meia lua + soco, apertar o botão de pulo -- ou rolar um d20, adicionar X, rolar 1d8+Y de dano). A única diferença mesmo é uma de substrato -- papel ou silício?
E o empréstimo dos vídeo-games se torna desejável quando nos damos conta que, no campo dos vídeo-games, o design é infinitamente superior. No vídeo-game, as coisas evoluíram melhor e mais depressa. Entre os vídeo-games não temos aberrações como o Blue Rose, que tem um dos casamentos mais inapropriados e ruins entre proposta e sistema. Nos vídeo-games vai ser difícil ver um jogo de naves que jogue como o Street Fighter. E mudanças significativas no design são mais freqüentes -- se fosse um RPG, o Tekken provavelmente teria saído com o gameplay do Street Fighter, pois projetista de RPG (que, principalmente no Brasil, parece não ter cultura de design -- ou a capacidade de reconhecê-la mesmo quando acertado pela mesma na cabeça) a-do-ra entrar no piloto automático da inércia e fazer as coisas do jeito de sempre ("porque sempre se fez assim").
E o mais irritante é que essa evolução do design deveria ser mais fácil no RPG de mesa -- você não precisa de uma equipe de programadores para pôr em código as decisões de design.
Outro "vilão" que volta e meia pipoca é o "jogo de tabuleiro". E, novamente, qual o problema? Aqui a semelhança com RPGs é uma de substrato (jogo de mesa), e que poderia ser melhor explorada. RPGista tem às vezes essa coisa boba de "pureza" do jogo -- se usa cartas, tabuleiro, fichas ou marcadores, o pessoal vê como "menos RPG". Burrice -- novamente, o design nesse campo parece ser superior e capaz de se reinventar -- vide euro games, como o Settlers of Catan que joga pela janela toda a dinâmica do Monopoly e outros mais antigos.
Se o D&D 4E parece vídeo-game, de certo é porque esta versão está com um time de designers que realmente pensam na coisa em termos de... design.