por Luminus em 07 Dez 2008, 10:37
Em 1966, Cruzeiro e Santos fizeram a final da Taça Brasil, o torneio embrionário ocorrido entre 1959 e 1968, que viria a evoluir para o Campeonato Brasileiro, em 1971. O Santos, então pentacampeão do torneio (61,62,63,64,65), bicampeão da Libertadores (61,62) e do mundial interclubes (62,63) era a melhor equipe de futebol do mundo, portanto a favorita para o título. O time do Cruzeiro era um grande time, mas todos davam por certa a conquista santista, rumo ao hexa genuíno.
Em campo, no primeiro jogo, o Cruzeiro derrotou o Santos por 6 a 2 no Mineirão. Ainda assim, a convicção santista permaneceu incólume, já que teriam ainda o jogo de volta. Nesse jogo, o Santos vencia por 2 a 1 no primeiro tempo, quando então, no intervalo, os dirigentes paulistas foram ao vestiário dos mineiros para negociar o terceiro jogo da final (uma vez que, na cabeça deles, aquela partida já havia sido ganha). Para os mineiros, aquilo soou como uma imensa provocação e, mesmo após Tostão perder um pênalti aos 18 minutos do segundo tempo, a equipe mineira arrancou dois gols na segunda etapa, o que fez com que a partida terminasse em 3 a 2 para os visitantes. Estava derrotado o Santos de Pelé.
Passados exatos trinta anos, um outro time paulista iniciou o ano ganhando o estadual de forma unânime, com uma média de 3,4 gols por jogo (30 jogos, sendo 27 vitórias, 2 empates e somente uma derrota). Esse time, então, começou a ser comparado com aquele, o Santos da década de 1960, ou mesmo com a seleção de 1970. Sem dúvidas, era um grande time: Velloso; Cafú, Sandro, Cléber e Júnior. Galeano, Amaral, Rivaldo e Djalminha; Muller e Luizão. Então, esse time continuou o ano... sendo eliminado na fase final do brasileiro pelo Grêmio (terminando em sétimo lugar) e, horror dos horrores, perdendo a final da Copa do Brasil para o Cruzeiro. Este último revés foi um capítulo à parte: todos, novamente, davam a conquista como certa para os paulistas: a imprensa esportiva, os dirigentes dos clubes, as casas noturas de são paulo (que faziam fila para sediar a festa do título), enfim, estava tudo pronto para comemora-se o título palmeirense.
Novamente, o título seria decidido em dois jogos. O primeiro, no Mineirão, ficou 1 a 1, o que todos (os paulistas) julgaram ser suficiente. O segundo jogo, no Parque Antactica, seguia também empatado em 1 a 1, com as duas equipes aparentemente conformadas com a disputa de pênaltis que se aproximava... quando então, aos 38 minutos do segundo tempo, um atacante cruzeirense (Marcelo Ramos) aproveitou-se de uma falha do goleiro palmeirense (Velloso) e empurrou a bola para as redes. Estando a partida 2 a 1, ao Palmeiras só interessaria a virada, uma vez em que, pelo regulamento, o empate em 2 a 2 favoreceria o Cruzeiro (por ter marcado 2 gols fora de casa, tendo o Palmeiras marcado apenas 1). Mas nem mesmo uma reação do Palmeiras foi perceptível, como também no estádio não se ouvia nada (exceto os 82 cruzeirenses presentes), e o silêncio da surpresa foi tão contagiante que mesmo os comentaristas do jogo não sabiam o que dizer. Para além do jogo, houve também repercussões: a Revista Placar teve de ser recolhida ainda na madrugada, pois seu encarte, matéria de capa e várias páginas traziam justamente o pôster do Palmeiras Campeão da Copa do Brasil de 1996, além de entrevistas, matérias, fotos, etc com os "campeões". Vários programas esportivos do dia seguinte improvisaram matérias em substituição aos "especiais" que traziam os "paulistas gloriosos". Enfim, mais uma vez, um time de fora trazia à São Paulo a seguinte mensagem: o jogo é jogado.
E por quê eu escrevo tudo isso? Porque, hoje, nós temos mais um paulista campeão de véspera (6-3-3, não é?), que já havia planejado a festa para a rodada anterior, dentro de casa, diante de sua torcida, etc. Mais um paulista, dessa vez o São Paulo, está à beira de provar o santo remédio da humildade: o jogo é jogado. Eu mesmo disse, páginas atrás, que se meu Cruzeiro não levasse, o São Paulo levaria o campeonato. É o que parece que está para acontecer. Contudo, eu tinha em mente aquele time do São Paulo de cinco rodadas atrás: discreto, trabalhador, determinado... e não o time que jogou contra o Fluminense: fanfarrão, displicente e afobado. E, se foram necessários 30 anos para que a lição fosse esquecida e então reaplicada aos paulistas, o mundo moderno parece andar ainda mais desmemoriado, e portanto acredito que está na hora, 12 anos depois, de mostrar aos arrogantes que o: jogo é jogado. Que caiba a um outro time, não tão brilhante quanto o Cruzeiro de 66 ou de 96, é ainda melhor: mostra que a raça é o substituto adequado ao talento, e que lugar de campeão de véspera é a vice-colocação.
E!