Tomei a liberdade de usar texto de um blog cujo autor não conheço, mas suas palavras refletem exatamente meu sentimento sobre o assunto. Leiam. Reflitam. Comentem.
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Cada vez mais eu vejo games eletrônicos como forma de arte, e os vejo da mesma forma como qualquer outra mídia cultural: não há problemas em uma obra servir puramente para diversão, mas se limitar a isso é um desperdício dado o leque de possibildades que a mídia oferece. Assim como cinema e literatura, alguns trabalhos são criados unicamente para entreter, enquanto outros são mais filosóficos, enquanto outros ainda exploram as potencialidades de sua mídia nativa, e minhas obras favoritas tendem a englobar estas três qualidades (os filmes de Kurosawa me vêm a cabeça.)
Deus Ex

Esse é um dos meus games preferidos de todos os tempos, pois combina a "tríade sagrada" dos elementos supra-citados: é incrivelmente divertido, provoca reflexão, e explora as potencialidades de sua mídia nativa.
A premissa do jogo é inicialmente pueril - você é um agente de uma organização anti-terrorista. Porém possui um tratamento profundo. Os criadores trataram (muito inteligentemente) a definição de "terrorismo" de forma ambígua - recordando, por ex, que os próprios fundadores dos estados unidos da américa um dia forma considerados terroristas pelo governo britânico, ou seja, terrorismo é, inatamente, algo relativo. Sem me aprofundar muito, até pra não revelar spoilers do jogo, basta dizer que no decorrer do jogo muitas questões sociais do mundo real são levantadas, fazendo o jogador refletir seriamente sobre globalização, classes sociais, capitalismo, pobreza, estruturas de poder, clonagem, inteligência artificial, nanotecnologia, etc. E faz isso de forma plausível: os individuos e organizações que você tem contato no jogo nunca são estereótipos caricatos: são humanos, multidimensionais - existem pessoas honestas que querem transformar o mundo num lugar melhor até na organozação aparentemente mais radical, e existem individuos gananciosos e corruptos nas organizações mais (aparentemente) samaritanas.
E todo esse teor social-filosófico acompanha um gameplay muito divertido, com uma estrutura "aberta", que dá a liberdade ao jogador de experimenta-lo da forma que lhe convém: decidindo o quê fazer e como fazer. E isso engloba desde os aspectos físico (combate, equipamento, implantes, habilidades) ao social (conversações, negociações, exposição de opiniões gerando reações diversas ao redor, decisões que afetam grupos e a própria estória do jogo).
De certa forma, Deus Ex é uma espécie de "Faça você mesmo sua estória", o que toca no terceiro ponto da minha "tríade sagrada": as potencialidades de sua mídia nativa. Ou seja, o jogo explora a característica da interatividade, a mais emblemática para a mídia que é o vídeo-game.
Eu poderia falar de tantos outros jogos que considero obras de arte, mas Deus Ex basta.