Silva leu tão bem o link que eu trouxe e as citações que eu peguei dele que nem percebeu que linkou
exatamente o mesmo texto que eu.
Sério, leiam rapidamente os dois links:
- o que eu postei --
http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verb ... lhanca.htm- o que ele postou --
http://www.edtl.com.pt/index.php?option ... 4&Itemid=2Mas vamos lá, curso intensivo de leitura atenta pra mostrar ilustrar o meu "Silva, psiu. Mais uma vez você está deixando sua birrinha com D&D te cegar. Você quer odiando por odiar, tudo bem, mas deixe a verossimilhança fora disso, passe a usar um outro conceito". Pra fazer isso, caso reste alguma dúvida, vou usar trechos do link que o Silva postou, e não do que eu postei -- vai que a cor do fundo interfere na interpretação.
Primeira frase:
Em sentido genérico e comum, verossimilhança é a qualidade ou o caráter do que é verossímil ou verossimilhante; e verossímil, o que é semelhante à verdade, que tem a aparência de verdadeiro, que não repugna à verdade provável.
Uma leitura atenta revela que já perdeu, preibói. Se nós repararmos, o que está em jogo é a aparência de verdadeiro, o que é muito diferente da realidade física palpável. Já tá largado aqui o caminho pra subordinação da obra à sua própria coerência interna. O problema de falsidade é se ela quebrar sua própria aparência de verdadeiro, e não fugir à realidade física exterior à ela: isso ela tem toda liberdade pra fazer.
Diferentemente da noção de verdade e de verdadeiro, entende-se desde então por verossímil na ordem narrativa tudo o que está ligado ao campo das possibilidades simbólicas relativas ao homem e à história.
Grifo meu, só pra dizer: simbólico, dude!!! A pura simulação da realidade física já pode ir passear. Mas e se a gente quiser pensar numa coerência externa à obra que pode servir de referência, bom, se liga no que o texto linkado diz:
[a verossimilhança externa]estuda principalmente a estrutura do discurso narrativo e suas possíveis relações com a série dos outros discursos disponíveis na sociedade e na cultura onde a obra se dissemina e tem o seu modo de recepção.
E daí já vemos que, se o Silva leu mesmo o link que ele postou, então falou merda. Pra quem não lembra, ele disse que "
Ele" (eu) "
pegou o bonde andando pois relacionou meu argumento à verossimilhança interna, quando deveria ter relacionado à externa (que é o sentido popular de "parecer real", segundo nossa referência de "real", externa a obras fictícias, e baseado em nossa realidade comum)". Porque mesmo aqui a relação é discursiva e cultural. Aquilo que é externo a obra e nos parece real também é uma construção cultural (e por isso as obras de arte são tão legais. Elas podem chegar dando voadora no nosso critério de verossimilhança externa, para nos lembrar que aquilo que chamamos de real e aceitável não necessariamente é aceitável e naturalmente real).
Isto assim posto significa que todo critério de verossimilhança que venha a se estabelecer é relativo e em parte dependente da ordem constituinte dos discursos que o cercam e se constituem como princípio de realidade ou de referencialidade.
Só pra frisar: é relativo. O que é aceito como real num dado momento nem sempre o é em outro, porque o diacho do real são um monte de construções. Então, fi, nem estamos falando aqui de uma realidade física dura e estática, mas de uma realidade cultural fluída. Como "a referência às famílias ilustres apresentadas pelos trágicos" (tirado do link citado) nas mesmas obras em que esfinges desafiavam humanos, deuses ctônicos apareciam cantando e dançando, e por aí afora. Como contrapartida, temos também isso aqui:
[a]s modernas novelas de televisão que reciclam constantemente a mesma narrativa, tornando a qualidade desta verossímil a cada vez por um processo de redundância típica da cultura de massa. A certeza do receptor, ou no caso, do consumidor, decorre de indicadores externos, de discurso já arqueologicamente constituído e fixados como sentido comum.
Uops, que maluco! Você pode pegar uma coisa que parece irreal num primeiro momento, e repetir tanto em obras diferentes, que por causa da existência de tantas fontes de referência, acaba se tornando verossímil. Tudo quase sem sair do interior do texto, e isso ainda é critério de verossimilhança externa!
De resto, o texto vai aos pouco entrando nos pontos que eu já citei anteriormente. Só pra dizer: verossimilhança, não usem isso, porque fica feio se vocês usam sem saber o que significa. Quando forem reclamar, troquem por "tal jogo, livro, obra de arte, etc. não me agrada porque não imita uma realidade muito particular e exclusiva a mim de um jeito que eu, de maneira muito pessoal e subjetiva, considero adequado."
Mas nada disso que eu disse importa, porque em D&D os pontos de vida não representam apenas a quantidade de ferimentos que um personagem recebeu ou pode perceber, eles são uma medida para representar uma série de coisas que podem ser mais subjetivas ou mais objetivas, como fadiga, proximidade com a derrota, ânimo ou desânimo, entre outros. Não que isso vá adiantar alguma coisa, já que isso foi repetido à exaustão nesta internet véia sem portêra, e ainda assim sempre tem alguém pra ignorar em nome de um ódio tolo, pueril e sem muito chão na realidade objetiva. Mas pelo menos ele está de acordo com as leis de verossimilhança, já que ele sempre surge nas mesmas condições ("vou ignorar tudo que já escreveram e discutiram sobre o assunto só pra exibir meu ódio pavão").