Kinn escreveu:Acho então que vamos concordar em discordar...
Aristides Ledesma Alonso escreveu:
Dada a ênfase aristotélica na dependência maior da mímese ao seu princípio de organização, a verossimilhança interna acaba por se impor como critério fundamental para a produção literária ou artística, onde tudo é verossímil ou possível, mesmo aquilo que possa vir a ser considerado como inverossímil, desde que devidamente determinado, representado ou simulado como possível ou admissível por aqueles que interagem com a obra artística e suas possíveis leituras.
Eu grifei o ponto que acho importante. Na minha mesa eu também faço dúzias de explicações de vão contra as leis naturais - mas dentro da coerência interna do mundo, funciona (ou ao menos tento fazer funcionar). Se a explicação for intervenção direta e divina do deus a cada gestação é uma explicação viável sim. O problema é que é dito que eles não interferem no mundo material e mesmo sendo essa uma intervenção mínima ainda é uma in factum.
O seu grifo não ajuda o seu raciocínio, e parte do seu argumento é falseado porque se baseia numa premissa falsa. O devidamente determinado pode ser aquilo que é simplesmente dado. A título de exemplo: em Memórias Póstumas de Brás Cubas, temos um morto escrevendo, e a obra parte daí. Não há maiores explicações, sejam elas científicas, sobrenaturais, etc. Em Tormenta, Minotauros cruzam com fêmeas de outras raças e o resultado é ou minotauro, ou uma fêmea da raça da mãe. Isso é dado pelo cenário, sem maiores explicações, e está certo, joga quem quer. Isso é o
devidamente determinado. A coerência deverá ser construída a partir daí, e a explicação de como a procriação funciona para o bom aproveitamento do cenário é desnecessária.
O resto do seu raciocínio é falso porque você assume o exemplo que você mesmo deu como verdadeiro. A não ser que alguém levante uma citação que comprove que Tauron intervenha em cada gestação diretamente, você está errado. Mais uma vez: eu não digo que não há problemas de coerência interna em Tormenta. Provavelmente os há, e aos montes. Mas a maneira pela qual os minotauros se reproduzem não é um problema, é um dado do cenário, é assim e pronto, partimos daí porque o como não é importante. Continuar discutindo este ponto é se abraçar a um navio que já afundou. Se há tantas incoerências assim com o cenário, pule para a próxima, a discussão será mais construtiva a partir daí. Se só há esses pontinhos -- que nem detalhes são -- pra quem já desgosta continuar desgostando, isso me faz pensar se o cenário é tão ruim quanto é pintado pela minoria vocal que habita este tópico. Portanto, pergunto:
-- A questão da não interferência, como funciona realmente? Alguém já postou aqui no tópico citação por escrito da resolução ferrenha dos deuses de não intervirem diretamente no plano material?